Após meses de discussões e impasses, o contrato para fabricação de 14 trens de monotrilho (e sistemas associados) para a Linha 17-Ouro foi assinado pelo Metrô com a empresa BYD SkyRail na semana passada. A fabricante chinesa divulgou uma nota nesta quinta-feira, 7, celebrando o fato e fazendo questão de afirmar que sua escolha “levou em consideração a experiência da BYD Skyrail em fornecer uma solução integrada, incluindo veículos, pistas, estações e controle automático de sistemas de sinais de comunicação; e capacidade de fornecer soluções personalizadas com base em diferentes terrenos e localidades“.
Os chineses também não perderam a chance de cutucar a concorrência, no caso o consórcio Signalling, que levou a disputa para a Justiça onde foi derrotado. “Também foi destacado que a BYD possui propriedade intelectual capaz de desenvolver soluções, permitindo que a empresa forneça um sistema de transporte ferroviário eficaz e especializado“, explicou ao fazer uma alusão ao fato de sua rival na licitação ter proposto um sistema que utilizava o espólio da Scomi complementado por tecnologia de outros fabricantes.
Tyler Li, presidente da BYD no Brasil, ainda fez questão de prometer uma solução para o ramal, que está em obras desde 2012 e sem previsão de entrega. “Esta obra é aguardada há anos pela população de São Paulo. Teremos um enorme prazer em realizar este projeto de suma importância para a mobilidade da maior cidade do Brasil”, afirmou.
Não há dúvida que a Linha 17 e também o projeto do “VLT” de Salvador, também vencido pela empresa, serão o teste de fogo para a BYD comprovar que pode ser um dos principais fornecedores de sistemas de monotrilho no mundo. Como mostrado anteriormente no site, a fabricante chinesa é mais conhecida pela sua atuação no segmento automobilístico e ligado ao uso de propulsão elétrica. A empresa, que já teve o megainvestidor Warren Buffet como sócio, tem buscado se diferenciar de outras companhias do país ao estabelecer um projeto de expansão mais planejado. No Brasil, a BYD tem fornecido ônibus e outros veículos elétricos, mas ainda num ritmo bastante calculado.
O projeto no setor ferroviário, no entanto, é muito recente. Foi lançado em 2016 com um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões em valores atuais), mas até hoje não possui uma linha de grande demanda. Essa situação foi utilizada como argumento por seus concorrentes, que alegaram que o SkyRail nunca se provou um sistema de monotrilho capaz de transportar milhares de pessoas por dia. De fato, até hoje apenas duas linhas estão operando, uma de poucos quilômetros dentro da fábrica da BYD, e outra em um parque numa cidade próxima.
Mais de 350 mil usuários por dia
Nada disso, no entanto, impede que a BYD cumpra seus contratos. Não faltam recursos para a empresa colocar em prática o que prevêem os dois projetos. E eles não são nada modestos. Enquanto em Salvador, o projeto do “VLT” (como se chamou oficialmente) prevê uma linha de 24 quilômetros e capacidade para atender 172 mil passageiros por dia, o ramal do Metrô de São Paulo terá 7,7 km e demanda diária estimada em 185 mil pessoas.
Ou seja, somados, os dois sistemas transportarão mais de 350 mil pessoas todos os dias, um volume bastante elevado e que exigirá que o SkyRail seja de fato eficiente. Diante do vexame proporcionado pelo Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), formado pelas empresas OAS, Queiroz Galvão e Bombardier, e que foi responsável pela implantação da Linha 15-Prata, o desafio é grande. A concorrente canadense está há mais de oito anos sem conseguir fazer o monotrilho da Zona Leste funcionar como esperado e agora enfrenta a maior crise do projeto após o rompimento de um pneu por conta de irregularidades nas vias.
A BYD, por sua vez, terá de adaptar o SkyRail para o padrão do monotrilho da Scomi, que serviu de diretriz para confecção das vigas-trilho da Linha 17-Ouro. Não se trata de algo impossível, é claro, mas acaba por embutir um risco a mais ao projeto. Além disso, a empresa chinesa precisará ser rápida para entregar os primeiros trens e sistemas a fim recuperar parte do tempo perdido até aqui.
Se for bem sucedida em ambos os projetos, a BYD terá nas mãos dois fortes argumentos para ofercer o SkyRail em outras partes do mundo. E de quebra provar que o monotrilho pode ser uma alternativa de mobilidade viável. O relógio já está contando.
só duas questoes:
1- a BYD fabricar no Brasil ou na china? visto que sao dois projetos, mais os onibus eletricos, mais o potencial de crescimento no mercado brasileiro. é apenas uma dúvida.
2- entendo que colocar que a BYD colocará seu sistema à prova para uma demanda de 350 mil passageiros/dia, somando SP e salvaldor, um tanto equivocada, pois sao dois sistemas distintos. um será VLT e outro VLT. um será em SP, outro em salvador.