Este blog não tem receito de opinar a respeito do transporte sobre trilhos no Brasil. Por isso, ao tomar conhecimento do conteúdo de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo desta quinta-feira (08) que acusa o Metrô de São Paulo de operar com 632 funcionários a menos do que o necessário é importante contextualizar o texto.
De acordo com o jornal, a companhia teve uma piora no atendimento devido a esse déficit e que não há previsão desse quadro ser revertido, mesmo com o programa de demissão voluntária lançado neste ano. Como ele prevê também a saída de 632 funcionários, o Metrô estaria em crise. Trata-se de uma série de reportagens do jornal que tem procurado provar que a empresa está num péssimo momento, com queda na qualidade da manutenção e da operação e que parte da culpa estaria com o governo Alckmin, que não tem repassado valores devidos em gratuidades no sistema.
A matéria ainda ressalta que o maior número de vagas está na operação, sobretudo em operadores dos trens, mas a Folha lembra ainda que há imensas filas nas bilheterias por falta justamente dos empregados nesta função.
Dito isso, vamos a dois fatos ignorados pelo jornal. É verdade que o Metrô hoje trabalha sob pressão. Embora a crise tenha arrefecido a demanda de passageiros, algumas linhas como a 3-Vermelha e a 5-Lilás operam no limite de trens e de headway, o intervalo entre as composições. Também é real a dificuldade que a companhia tem em tocar várias obras de expansão ao mesmo tempo. Projetos atrasaram, consórcios quebraram contratos e imprevistos complicaram o ritmo de expansão do sistema que já deveria contar com mais de 100 km de extensão, mas empacou nos 78,4 km desde 2014.
No entanto, o Metrô tem buscado uma solução para alguns desses problemas, incluindo aí o quadro de funcionários. A Folha, no entanto, esqueceu que o governo do estado irá repassar a Linha 5-Lilás (em conjunto com o monotrilho da Linha 17) à iniciativa privada no primeiro semestre de 2017. Com isso, os empregados do Metrô lotados nas sete estações e no pátio Capão Redondo deverá ser remanejados para outros postos dentro da empresa. É um excedente significativo que deverá reforçar outras linhas, mesmo que alguns deles possam ser contratados pela futura concessionária.
Em relação às bilheterias, a Folha também não considerou o projeto de instalação de pórticos de autoatendimento que o Metrô toca no momento e que deve reduzir a dependência de mão de obra para venda de bilhetes, hoje já bem menor com o advento do bilhete único. Além disso, a empresa apenas agora abrirá a possibilidade de pagamento por cartão e, quem sabe, via smartphones, o que acabaria praticamente com a venda manual, algo raro em sistemas no mundo.
O próprio PDV do Metrô é uma iniciativa para renovar o quadro, hoje composto de uma parcela de empregados com décadas na empresa e que custam caro para ela.
Papel vital no transporte da Grande São Paulo
A duras penas, o Metrô tenta acompanhar as mudanças da sociedade. Deixa a desejar em vários aspectos, é verdade, mas continua sendo uma empresa admirada, como a própria Folha cita em sua matéria. Entretanto, o ponto-chave que não tem sido considerado pela imprensa geral é justamente o destino da empresa de economia mista. Hoje o Metrô acumula funções muito diferentes como a operação de parte da rede, o projeto e acompanhamento da expansão e também o planejamento do transporte na região metropolitana, incluindo todos os modais.
É um fardo imenso numa época em que o país tem percebido que o transporte coletivo é um dos gargalos da produtividade e da qualidade de vida nas grandes cidades. É preciso rediscutir o papel da empresa num período em que fala-se em tantas concessões e onde a tarifa do transporte passou de solução para um grande problema na medida em que seu aspecto social é valorizado por meio do bilhete único e os custos do sistema só crescem. Como se vê, há pautas mais importantes e vitais do que acusar um problema isolado sem entender todo o contexto que envolve esse delicado assunto.