A ViaMobilidade, operadora das Linhas 8 e 9 de trens metropolitanos, recebeu no final do mês de fevereiro a primeira unidade dos trens da Série 8900. A composição fabricada pela Alstom em Taubaté já entrou em fase de comissionamento.
O site conferiu de perto o novo trem e traz mais detalhes do novo trem. Confira também nossa análise do interior da nova série 8900.
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Máscara
A máscara do novo trem seguiu um design totalmente novo. Apesar da base do trem, seu formato e componentes serem praticamente iguais aos da Série 9000 da CPTM, a parte dianteira do trem foi repaginada.
Dentre os componentes mais marcantes estão os faróis. Em cada lado do trem existem três faróis, sendo dois indicando o sentido frontal e um deles indicando o sentido traseiro na cor vermelha.
Bastante destacados na composição, os faróis duplos superiores são um dos diferenciais da composição em comparação com a Série 9000, que não possui estes elementos. O conjunto de faróis superiores deverá ser utilizado em ambientes com baixa visibilidade, como em neblina ou durante a noite.
A máscara do trem também possui uma câmera frontal que faz parte do sistema de videovigilância da composição. Abaixo dela está um compartimento onde fica exposto o logo da empresa.
Ainda há outros elementos de apoio como o limpador de para-brisa e o letreiro eletrônico que deverá informar o destino dos trens. Os tons de cores da máscara são o cinza e o verde, fazendo alusão às linhas 8 e 9.
Comunicação visual externa
A comunicação visual do trem, diferentemente dos trens herdados da CPTM, possui apenas duas cores principais: o cinza e o verde. A faixa verde escura foi dispensada da identidade visual.
A cor predominante do trem é o verde. Na região das cabines a pintura exibe maior nível de detalhe com o formato de setas que podem dar uma sensação de maior dinamismo indicando movimento.
Ao longo do trem uma longa faixa verde corta a composição junto com o cinza do aço inox. Elementos como logotipo da concessionária e brasões do governo do estado identificam o trem.
Para o passageiro, os itens mais importantes da comunicação visual externa são a identificação externa do carro e a indicação de porta preferencial. No primeiro caso, a identificação do trem fica nas extremidades do carro.
Esta identificação é acompanhada da letra inicial “A” + prefixo (de 01 até 36) + número do carro (01 até 08). Essa informação pode ser utilizada para realizar o registro de uma ocorrência para a concessionária.
Outro elemento igualmente importante é a indicação de porta preferencial. A porta dedicada para os passageiros com necessidades especiais é sempre a primeira. A última porta do trem é dedicada aos passageiros que portam bicicletas, que podem ser transportadas em horários específicos.
Câmeras
Os trens também possuem um conjunto de câmeras externas que auxiliam na visualização da entrada e saída de passageiros. Como o novo trem não possui espelhos retrovisores, o sistema de câmeras é fundamental.
As câmeras externas estão dispostas estrategicamente nos carros 1, 3, 6 e 8 de forma que possa-se fazer uma cobertura completa de todo o trem. As câmeras estão implantadas de ambos os lados da composição.
O maquinista pode, através de telas no console da composição, visualizar as câmeras externas verificando a entrada e saída de passageiros.
Janelas e portas
As portas e janelas da composição são do tamanho padrão da Série 9000 da CPTM, que foi o modelo base para a Série 8900. elas não apresentam grandes diferencias em relação ao trem base.
Nas portas existem elementos simples de comunicação visual como avisos quanto a ultrapassagem da faixa amarela. Equipamentos como travas acionadas por chave de serviço também estão dispostas em todas as portas.
O trem também possui uma pequena escada, acompanhada de um pega mão lateral. Estes itens permitem o acesso e saída do trem de forma mais facilitada.
Estribo
O estribo é o dispositivo adotado para reduzir o vão entre o trem e a plataforma. Não deveria ser um item exigido, mas algumas estações de trens metropolitanos foram construídas sem levar em consideração as normas de acessibilidade mais atuais.
No caso da Série 8900, os estribos estão disponíveis em todas as portas. O modelo adotado é bastante curto, o que pode sugerir duas abordagens diferentes.
Ou os trens serão usados majoritariamente na Linha 9-Esmeralda, que possui estações mais bem adequadas, ou será necessário trocar o dispositivo por um modelo maior para vencer os vãos da Linha 8-Diamante.
Engates
Os engates são itens fundamentais que permitem o acoplamento dos carros do trem e o acoplamento entre composições caso necessário.
O tipo de engate dotado na Série 8900 é do Tipo 10, fabricado pela empresa Dellner. Cabe citar que o trem como um todo possui peças de diversas fabricantes, sendo muito raro uma única empresa projetar e construir todo o conjunto.
Este modelo de engate costuma ser mais seguro e é adotado por diversas empresas ferroviárias no mundo. Os trens mais modernos da CPTM já adotam este modelo.
Entre as principais características está o acoplamento mecânico realizado pelo conjunto de travas formado pelo orifício e ressalto em preto, a ligação pneumática através dos orifícios menores e a ligação elétrica através de um barramento na cor cinza. Este barramento é aberto e possui uma série de pinos para conexão.
O engate fica ligado mecanicamente à estrutura do trem conhecida por longarina, provendo plena fixação ao conjunto. Os dispositivos pneumáticos e elétricos seguem por cabos e tubos aos seus respectivos sistemas.
As duas metades do trem, o conjunto dos carros 1 a 4 e 5 a 8 são também acoplados por engate tipo Scharfenberg.
Entre os demais carros é adotado o engate denominado como “semipermanente”. Este é um modelo mais simplificado e que possui uma leve articulação nas pontas para permitir a inscrição em curvas.
Proteção lateral superior
A proteção lateral superior é uma novidade que passou a ser adotada nos trens da CPTM a partir da Série 8500. Consiste de uma barreira lateral na parte superior da caixa que protege equipamentos como ar condicionado e pantógrafos.
Os trens da série 9000 não possuem tais elementos, sendo o primeiro trem fabricado pela Alstom que dispõe deste item de proteção.
Equipamentos sob estrado
Os equipamentos sob estrado são os principais componentes da composição, que são basicamente compostos de truques, caixaria, e sistemas de suporte à operação. Destacamos alguns itens importantes.
Buzina
A buzina é composta de duas cornetas de tamanhos distintos. Elas são acionadas pela cabine do maquinista através de sistema pneumático. Trata-se de um item de alerta que é utilizado para informar movimentação nos pátios e nas vias.
ATC (Automatic Train Control)
O sistema ATC é parte da sinalização de bordo do trem. Para realizar a detecção dos códigos de via emitidos pelo sistema de campo estão dispostos na parte dianteira do trem um conjunto de duas antenas que ficam próximos aos trilhos
Estas antenas possuem sensibilidade eletromagnética e captam pulsos dos trilhos enviados pelo sistema de sinalização. A quantidade de pulsos define a velocidade autorizada para trafegar no trecho.
ATO (Automatic Train Operation)
Os novos trens possuem também embarcado o leitor de balizas ATO, permitindo assim a operação automática dos trens nos trechos que possuem o sistema implantado.
O leitor de balizas é um componente alongado na cor branca que perturba de forma eletromagnética os elementos fixos na via. Tais itens fixos possuem informações sobre a quilometragem, estação e lado de abertura de portas, gerando mais segurança ao sistema.
Truques (motor e reboque)
Os truques são parte do sistema de sustentação do trem. Através dos truques os trens podem realizar suas movimentações. Eles são divididos em dois tipos: truques motores e reboques.
Os truques motores são aqueles que possuem motorização, ou seja, são aqueles que realizam a tração dos trens. Geralmente são mais robustos, pois carregam em si equipamentos como o motor de tração e os redutores de velocidade.
O motor de tração possui um nível de rotação e força específica. Para que a transmissão da força possa ser realizada o redutor é aplicado ligando o eixo do motor ao eixo do trem que realiza a sua movimentação.
O truque reboque é mais simples, pois não possui os equipamentos de tração embarcados. Eles estão distribuídos nos carros 2, 3, 6 e 7 enquanto os motores estão nas extremidades e no meio nos carros 1, 4, 5 e 8.
Os truques possuem em comum uma estrutura capaz de fazer a sustentação dos carros e de amortecer as vibrações da via.
São chamados conjuntos de suspensão primária e secundária que estão dispostos no conjunto de rolamento ao corpo do truque, do truque ao carro por meio de amortecedor e também por bolsas de ar que fazem o nivelamento e o cálculo de carga do trem.
Os truques também possuem um sistema de freio a disco composto por calipers (pinças) acionados pneumaticamente. Esse sistema geralmente é acionado em velocidades baixas para gerar menor desgaste nas pastilhas de freio.
A maior parte da frenagem do trem ocorre através do freio motor que pode ser do tipo dinâmico ou regenerativo. A lógica é usar o motor como um gerador e dispensar a energia em resistores (dinâmico) ou na rede aérea (regenerativo).
Equipamentos auxiliares
O trem possui ainda uma infinidade de sistemas e equipamentos adicionais. De forma resumida iremos expor alguns itens importantes e que já podem ter sido mencionados em algum momento.
O trem possui diversas caixas válvulas e torneiras que controlam o sistema pneumático. O sistema utilizado pela Alstom foi produzido pela Knorr-Breemse.
As caixas de baixa tensão podem abrigar equipamentos de controle para tensões mais baixas com nível na faixa de 72 V. Em alguns casos podem também abrigar as baterias.
O inversor de tração é um dos principais equipamentos do trem que é responsável pelo controle de tensão e frequência que são enviados aos motores. Em suma, controla a velocidade do trem através de componentes semicondutores do tipo IGBT.
O conversor estático é o equipamento que recebe a tensão de 3000 V da rede aérea e faz a redução para média e baixa tensão. É um equipamento igualmente importante pois controla itens como lâmpadas, compressores, tomadas e o ar condicionado.
O sistema de combate a incêndio é composto por cilindros com água e também um cilindro de nitrogênio pressurizado que atua na extinção de chamas caso haja necessidade.
Não menos importante, é possível observar uma caixa fina e longa no carro. Este é o local onde estão armazenadas as escadas que serão utilizadas em situações emergenciais. Isso poderá facilitar a evacuação do trem em situações adversas.
Parabéns Jean! Sou maquinista e posso afirmar que você praticamente fez um manual do trem; seria muito bom ter pessoas como você trabalhando conosco.
Nunca pensou em ser maquinista?
Um abraço!
No caso do sistema ATO embarcado, tanto as linhas 08 como a 09 não o possui com instalação completa desse subsistema do ATC, tanto é que na Linha 08 estava sendo instalado o CBTC e até alguns trens Série 2000 foram testados lá há alguns anos. Portanto, caso seja do interesse da ViaMobilidade e caso a CPTM quisesse colaborar tecnicamente nesse ítem com a concessionária, alguns trens 8900 poderiam serem testados na Linha 13 entre Engenheiro Goulart e Aeroporto Guarulhos onde o ATO está em funcionamento, olha só que interessante, os novos trens poderiam aferir os equipamentos de bordo e acordos tanto de tráfego mútuo e cooperação técnica para testes dinâmicos de novos e até antigos trens entre companhias ferroviárias não são novidades nas estradas de ferro, isso acontece há muito tempo!
Eu acho que o pessoal que trabalha na área poderia dar essa sugestão aos diretores das companhias.
Positivamente impressionado aqui com a qualidade e riqueza de fotos e informações desta matéria! Vocês são diferenciados. Parabéns pelo excelente trabalho e muito obrigado.