Qual é a defasagem de funcionários do Metrô de São Paulo?

Companhia teve o quadro funcional reduzido nos últimos anos e dados do próprio governo apontam para um déficit de cerca de 2,7 mil vagas. Futuro, no entanto, é incerto
Poucos funcionários para uma demanda cada vez maior de passageiros pressiona metroviários (Jean Carlos)
Poucos funcionários para uma demanda cada vez maior de passageiros pressiona metroviários (Jean Carlos)

O Metrô de São Paulo, empresa pública que opera as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata, está com déficit de seu quadro de funcionários. Atualmente o quadro está desfalcado em quase 27% do efetivo adequado.

A Companhia do Metropolitano está operando há vários anos com uma quantidade de funcionários insuficiente. Ao longo dos anos a rede metroviária se expandiu e, mesmo com a concessão da Linha 5-Lilás, anteriormente gerida pela estatal, o crescimento da rede sob a gestão do Metrô se iguala aos níveis pré-concessão.

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Crescimento da malha

Antes da concessão da Linha 5-Lilás para a ViaMobilidade em 2017, a malha administrada pelo Metrô chegou a 71,5 km com 64 estações. Com o repasse da Linha 5-Lilás, os funcionários públicos foram deslocados e passaram a ocupar cargos nas demais linhas da empresa.

Entretanto, o crescimento acelerado de empreendimentos como a Linha 15-Prata voltam a colocar pressão sobre o quadro de funcionários.

Em 2022 a rede gerida pelo Metrô já chegou praticamente aos mesmos níveis pré-concessão, com 71,4 km de malha e 63 estações. Neste período o que mudou foi apenas a quantidade de passageiros transportados, em decorrência da pandemia de COVID-19.

Crescimento da rede metroviária (Metrô SP)
Crescimento da rede metroviária (Metrô SP)

Evolução do quadro de funcionários

O quadro de funcionários do Metrô de São Paulo está sofrendo reduções há pelo menos oito anos consecutivos. Na série histórica divulgada pelo Relatório Integrado de 2022, o número de funcionários em 2015 era de 9.396 metroviários.

Em 2022, com quase a mesma extensão de rede e estações, o número de funcionários é de 7.334 metroviários, ou seja, uma diferença de 2.052 funcionários.

Admissões e Demissões (Metrô SP)
Admissões e Demissões (Metrô SP)

O número de admissões realizadas ao longo do período foi de 1.127 funcionários, principalmente no período 2017-2018 onde ocorreram 65% das contratações da série histórica.

Por sua vez, o número de demissões foi de 3.432 metroviários, sendo a maior parte no período entre 2017-2019 que concentra 55% de demissões da série analisada.

Atualmente o quadro de funcionários do Metrô está disposto da seguinte forma:

  • 3.652 funcionários para operação
  • 2.118 funcionários para manutenção
  • 1078 funcionários para administração
  • 486 funcionários para expansão
Funcionários por função (Metrô SP)

Os números mostram uma redução, em comparação com 2015, de 19% de funcionários para a operação, 25% para manutenção, 16% para administração e 37% para expansão da rede.

Segundo dados do Portal da Transparência do estado de São Paulo, o déficit oficial de cargos é de 2.806 vagas.

Considerando apenas os cargos de Agente de Segurança e de Operador de Transporte Metroviário (OTM I, II, III e IV) o déficit chega a 1.211 vagas, ou seja 43% da necessidade atual.

Como agravante, o quantitativo de 43% são de cargos vitais para a operação e segurança das estações e trens. Com uma linha de frente defasada, o Metrô chegou a enfrentar um aumento de ocorrências criminosas em suas estações e trens.

A solução temporária para a situação foi um convênio com a Polícia Militar, nos mesmos moldes adotados pela CPTM, que reforçou a segurança em estações importantes.

Quadro apertado

A situação dos metroviários é bastante drástica. Através de alguns cálculos matemáticos e deduções importantes pode-se ter dimensão da situação.

Para se ter uma noção da situação atual, realizamos alguns cálculos para verificar quantos funcionários estariam alocados, em média, em cada estação.

Primeiro é necessário definir a quantidade de funcionários da operação por estação (63 estações) e por turno (3 turnos de trabalho). Chegamos ao seguinte resultado:

Operador de Transporte Metroviário: 12 funcionários por estação
Cálculo: 2.282/63/3= 12,07

Agente de Segurança Metroviária: 5,6 funcionários por estação
Cálculo: 1.060/63/3 = 5,60

É preciso ainda considerar nos cálculos dois fatores importantes: as férias e as folgas. Supondo que cada metroviário tenha direito a um mês de férias e a dois dias de folga na semana, chegamos ao seguinte resultado:

Operador de Transporte Metroviário: 7,6 funcionários por estação
Cálculo: 12-(12*(1/12))-(12*(2/7)) = 7,57

Agente de Segurança Metroviária = 3,5 funcionários por estação
Cálculo: 5,6-(5,6*(1/12))-(5,6*(2/7) = 3,53

Deve-se levar ainda em consideração alguns pontos importantes como a abrangência do cargo de OTM e as funções do cargo de Agente de Segurança. No caso dos OTMs, existe divisão de função por estação e tráfego (condutor de trem). Já no caso dos Agentes de Segurança, alguns podem atuar em rondas dentro dos trens, sem necessariamente estar em uma estação.

Apenas um funcionário na linha de bloqueios de Anhangabaú no carnaval (Jean Carlos)
Apenas um funcionário na linha de bloqueios de Anhangabaú no carnaval (Jean Carlos)

Como não há dados sobre a distribuição de seguranças nos trens e estações, daremos foco para o cargo de OTM, onde podem ser discriminados a quantidade de funcionários alocados em estações.

Segundo o portal da transparência, a divisão de OTMs ocorre da seguinte forma:

  • 604 OTM I (estação)
  • 270 OTM II (estação)
  • 260 OTM III (supervisão estação)
  • Total 1.134 metroviários

Aplicando a mesma metodologia de cálculo, chegamos aos seguintes resultados:

Operador de Transporte Metroviário: 6 funcionários por estação
Cálculo: 1134/(63)/3 = 6,00

Considerando folgas e férias: 3,8 funcionários por estação
Cálculo: 6-(6/12)-(6*(2/7) = 3,78

Quando se tem na média de quatro funcionários por estação em cada turno fica nitidamente comprovado o grau de sobrecarga ao qual os metroviários estão sendo submetidos.

Deve-se ainda considerar fatores como horário para almoço, tamanho das estações, fluxo no horário de pico, etc. Na melhor das hipóteses, a gestão de pessoal é como um cobertor curto, onde sempre haverá partes descobertas. Tratando-se de Metrô, essa falta de cobertura significa vulnerabilidade, algo que compromete a segurança.

A tendência é piorar

Como se não bastasse a quantidade de funcionários diminuída no Metrô de São Paulo, temos um fator que muitas vezes é ignorado: a idade média dos funcionários.

Com uma taxa de renovação insuficiente, o que se vê é um quadro distorcido. Atualmente o maior recorte de funcionários do Metrô é representado por funcionários entre 51 e 60 anos, somando 2.313 metroviários.

Outra faixa bastante preocupante é a de funcionários com mais de 61 anos que têm mais chances de serem desligados. Ao todo são 1.083 metroviários, o que representa 14,7% do quadro total.

Funcionários de maior idade compõe maior volume de funcionários do Metrô (Jean Carlos)
Funcionários de maior idade compõe maior volume de funcionários do Metrô (Jean Carlos)

Além disso, o Metrô trabalha com o Plano de Demissão Incentivada (PDI) que visa, pelo lado positivo, promover aos empregados veteranos uma transição de carreira mais estável, mas que coloca pressão sobre os demais funcionários, haja vista a baixa taxa de reposição.

O relatório estabelece uma estimativa da redução de quadros para 2023 da ordem de 10%, incentivada pelo PDI, com desembolso de R$ 248 milhões. A medida faz parte dos planos da companhia em promover o equilíbrio econômico financeiro.

Concessões à vista

Durante a campanha salarial de 2023, o Sindicato dos Metroviários apresentou como principal reinvindicação a realização de novos concursos públicos para repor o quadro. Enquanto negociava com a companhia em meio à ameaça de greve nesta terça-feira (13), a categoria obteve do Metrô a promessa de que 115 funcionários aprovados no último concurso realizado em 2019 serão chamados. A companhia estadual também se comprometeu a realizar um novo concurso apenas com vagas necessárias.

Apenas uma funcionária na linha de bloqueios de Sacomã (Jean Carlos)
Apenas uma funcionária na linha de bloqueios de Sacomã (Jean Carlos)

Em termos de expansão, o Metrô atualmente está com duas frentes de obras, uma na Linha 15-Prata com mais duas estações e outra na Linha 2-Verde com oito estações.

No entanto, a atual gestão já deixou claro que pretende conceder todas as linhas operadas pelo Metrô e a CPTM, mantendo apenas áreas de planejamento e gestão. Qual será o futuro dos atuais funcionários é o grande mistério por vir.

Contrapontos

Dentro da atual dinâmica de recursos humanos do Metrô de São Paulo existe o chamado quadro aprovado. Esse número de funcionários não necessariamente representa a necessidade atual da companhia que ajusta a quantidade de funcionários conforme as demandas, visando, entre vários fatores, o equilíbrio financeiro da companhia.

Alguns fatores que pesam para a adequação do quadro é a construção de novas estações do monotrilho que possuem dimensões menores, e consequentemente demandam menos funcionários.

Outro fato importante foi a terceirização das atividades de bilheteria, fazendo com que os funcionários outrora alocados nesta função assumissem outras posições na gestão de estações metroviárias.

 

 

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19 comments
    1. Resolve muito tô vendo a via mobilidade nas linha 8 e 9, a Supervia com suas passagens hiper caras no rio. Confia kkkkkk

  1. A privatização é mais que necessária para reduzir custos e acelerar a contratação de novos funcionários. Atualmente, os mesmos já são CLT, apesar de serem dotados de privilégios e benefícios que a maioria não possui. Ainda sim, se acham no direito de atrapalhar as vidas de milhões de paulistas para fins próprios com suas greves.
    Quantos funcionários do metrô foram demitidos durante a pandemia? O Estado não deveria ter empresas públicas inúteis e anacronicas iguais o metrô, empresas privadas que deveriam gerir e operar o transporte público, pois o Estado é ineficiente em tudo que faz.

    1. “pois o Estado é ineficiente em tudo que faz.”…

      Que generalização mais absurda e mesquinha, quanta falta de conhecimento, pegue o exemplo da CPTM e da tal ViaMobilidade e veja quem presta o melhor serviço. Outro absurdo também é chamar o Metrô de uma empresa pública inútil, sendo que o mesmo presta um excelente serviço mesmo com tantas dificuldades impostas.

    2. O Metrô é uma empresa inútil aonde? Se existe Metrô em SP é graças a Companhia do Metropolitano.

      Mais respeito com seus funcionários, que em sua maioria assim como os da ViaMobilidade, são gentis e sempre dispostos a ajudar.

    3. Assim como os defensores da privatização acham que são inteligentes, você também acha que é fazendo comentários.

      Disse nada, com coisa nenhuma. Sem argumentos convincentes, sem conhecimento sobre uma Companhia com mais de 50 anos de história, simplesmente um complexo de alienação. Vá estudar!

    4. Colega para de repetir um negócio completamente errado. A dificuldade de contratar não é grande pois já estão previstos os cargos o problema é que o governo do estado não faz o concurso e o que tem (seguranças) eles tão enrolando pra chamar, privilégios não os funcionários tem coisas basicamente previstas na CLT algumas com valores a mais do que o mínimo. E quem atrapalha não são os metroviários e sim o governo que fica brincando com os metroviários e a população ao invés de agir de maneira transparente e leal, sem falar que a greve é direito, e se o governo abrisse as catracas (como por exemplo falou que ia fazer mas não fez) até ajudaria a população. O metrô por ser uma empresa estatal se prega demissão apenas com justificativa e não só pra dar lucro ao patrão. Com relação a ineficiência o metrô é a empresa de metrô no país mais eficiente e a que ganha prêmios internacionais pela sua qualidade. A Supervia privada lá do rio faliu pq é ineficiente e só pensava em lucro e tinha uma puta passagem alta. pesquise antes de falar coisas implantadas como verdade, mas que não são.

    5. Seu pensamento só tem um erro gravíssimo. Os custos das empresas privadas são bem maiores, como exposto aqui mesmo no site a remuneração por passageiro pra CCR é bem maior que o valor da passagem. A ViaQuatro por exemplo já recebe R$6,32. Que redução de custo é essa, com o Estado bancando expansão, compra de trens e ainda pagando a diferença na passagem kkkkk

    6. Ineficiente é o Metrô-DF, que sequer tem previsão de levar sua malha metroviária para regiões como Asa Norte. O Metrô de São Paulo vai muito bem obrigado! Serei usuário do mesmo ano que vem.

    7. Ah, você viu a mer… que deu a privatização da TELESP sistema TELEBRÁS ?? E a privatização da Eletropaulo !! Então ô alienado, tu percebeu que a direita faz tu de “palhaço” 🤡 ?? E duvide-o-dó que se o Metrô for privado, vai chegar na periferia !!

      O povo quem vota errado !!

  2. Metroviários vão ter que continuar lutando pra conseguir uma nova contratação significativa e capaz de reverter esses quadros, vai ser difícil com esse governo privatizante que só quer continuar o projeto de sucateamento do metrô que vem dos tucanos.

  3. Não tem defasagem alguma… Metrô tem funcionário demais… a matéria não leva em consideração avanços de tecnologia e afins é uma mentalidade velha de dane a eficiência e se der prejuízo que se dane o Paulista que pague e aguente nossas greves.

    1. 2 funcionários em uma estação. 2 funcionários responsáveis por mais de 3 mil pessoas simultaneamente no horário de pico. 2 funcionários pra acompanhar pessoas com deficiência, dar atendimento nos bloqueios (catracas), atender em primeiros socorros e atuar como brigadistas. Isso inclusive desrespeita as quantidades mínimas de brigadistas definidas pelos bombeiros.

  4. É pior que isso, nesse total de funcionários tem aqueles que estão afastados pelo INSS há anos mas o INSS não aposenta em definitivo. Se fossem 4 por estação estava ótimo, mas na prática o quadro está em torno de 2 ou 3 e tem estação com um total de 0 funcionários entrando no turno pq um está de férias e um está de atestado. Precisam remanejar de onde der e com isso acontece por exemplo de um funcionário de Itaquera ir cobrir estação do monotrilho.

  5. Quando eu visitei os pátios Itaquera e Jabaquara, vi q muitos funcionários estão a 20-30 anos na companhia, daqui a pouco eles se aposentam, e vai ser preciso novos funcionários no lugar, mas eu pergunto pra vcs de novo, cadê o governador do estado nessas horas??

    1. vai colocar o povo da viamobilidade no lugar, que ganha salário de fome, e tem rotatividade alta. é isso q eles querem. eles não querem que o trabalhador tenha um salário digno. para essa turma do Tarcísio e do PSDB, eles querem voltar ao tempo da escravidão.

  6. esse pessoal que acha que metroviário tem privilegio, imagina quando descobrirem os penduricalhos de juiz, desembargador, procurador, promotor e todo esse povo do sistema judiciário. só o TJ-SP tem verba maior que a STM toda.

    e que tal falar das forças armadas? que custam 124 bilhões da união? onde mais de 70% é custeio de pessoal, de onde pensões de viúvas e filhas de oficiais custam mais que o salario dos praças?

    e as assembleias legislativas, e o gabinete do governador, cheio de carrapato com cargo comissionado? como irmão da Michele Bolsonaro indicado pelo Tarcísio?

    mas pra não dizer que estou falando de outras áreas, vamos falar apenas dentro do sistema de transportes.

    a prefeitura de SP gastou 4 bilhões ano passado com subsidio para empresas de ônibus. esse ano a previsão é de 7,4 bilhões. só esses valores custam cerca de 60% do valor estimado para a obra da linha 6 laranja.

    de toda a arrecadação com bilheteria, 99,8 % ficam com a CCR através de suas concessões. isso é matéria desse proprio site, inclusive.

    a estimativa de arrecadação bruta das linha 8 e 9 ao final do contrato, considerando os valores de inicio de contrato sem considerar o reajuste da tarifa técnica é de 30 bilhões. o gasto previsto pela concessionaria, somando investimento, custos de operação e manutenção e valor de outorga, somam-se 19 bilhões. pela previsão em 8 anos a CCR recupera o valor investido e passa a ter lucro.

    ah, e os salários de diretores da CCR é muito mais alto que no metrô, chegando a mais de 40 mil, com PLR de 2 a 12 vezes o salário, enquanto os funcionários de base ganham salario de fome e tem direitos reduzidos e PKR que não chega nem a 1 vez o salário.

    resumindo: quem defende privatização, sob argumento de cortar custos, no fundo é pobre de direita frustrado na vida, que não consegue ir para lugar nenhum e quer outros trabalhadores fiquem na m* igual ele, pessoa que não tem argumentos, que não sabe o quanto de dinheiro público é gasto com castas altas do funcionalismo e com pagamento de empresas que trabalham em serviços públicos. quem defende a privatização não está preocupado com a população, com o serviço público, está preocupado em satisfazer seu ego de ódio a classe dos trabalhadores.

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