Entenda a real situação do atraso na Linha 6-Laranja

Globo, Folha e Estadão publicaram reportagens pouco claras sobre prazo de entrega do ramal que está sendo construído pela LinhaUni, sugerindo que obra atrasará “três anos”
Tatuzão Norte na futura estação Itaberaba
Tatuzão Norte na futura estação Itaberaba (LinhaUni)

Este site publicou em primeira mão no dia 4 de maio informações que constam de um relatório da LinhaUni, concessionária responsável pela construção e operação da Linha 6-Laranja.

Trata-se de um documento anual voltado ao mercado financeiro em que a empresa detalha números e também informa a investidores a situação da concessão e das obras de implantação.

Embora o número mágico do “acréscimo de 1.096 dias” no prazo da obra fosse tentador, optamos por evitá-lo porque envolvia mais uma previsão protocolar já que no mesmo parágrafo a LinhaUni explica que está realizando estudos para agilizar e reduzir o tempo de atraso ao modificar métodos de construção.

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Trecho do relatório da LinhaUni que cita o atraso de 1.096 dias, mas também afirma que medidas estão sendo tomadas para reduzir o impacto
Trecho do relatório da LinhaUni que cita o atraso de 1.096 dias, mas também afirma que medidas estão sendo tomadas para reduzir o impacto

“O estudo, que ainda não foi finalizado, mas irá reduzir o tempo e impactará na redução dos valores de indenizações e custos adicionais da obra tanto a construtora [Acciona, sócia da LinhaUni] como a concessionária”, diz o trecho do relatório.

O fato revelado pelo texto é que a empresa pleiteava um ressarcimento em virtude de problemas geológicos não previstos nos estudos de geologia feitos para o edital de licitação.

“1.096 dias”

Os jornais Folha, Estadão e a TV Globo somente três semanas depois “descobriram” o assunto, como se vê na publicação quase simultânea de artigos semelhantes nesta segunda-feira, 27.

Em comum, evidenciaram o hipotético atraso de três anos (1.096 dias) informado no relatório, mas minimizaram o efeito das mudanças técnicas implementadas na obra e que podem ser notadas em vários canteiros. Um exemplo? A opção pela escavação em Vala a Céu Aberto (VCA) invertido, uma técnica que acelera a construção.

O aditivo assinado em 2020 pelos sócios da LinhaUni previa entrega em 2025, mas há tempos governo reconhece novos prazos
O aditivo assinado em 2020 pelos sócios da LinhaUni previa entrega em 2025, mas há tempos governo reconhece novos prazos

A grande mídia também não ponderou que os três anos citados já foram parcialmente absorvidos há algum tempo quando o governo revelou novas previsões de abertura em 2026 e 2027.

A LinhaUni assinou contrato com o governo do estado para assumir a Linha 6-Laranja em julho de 2020, no lugar da Move São Paulo, que havia vencido o leilão em 2013.

No aditivo ratificado, o prazo de construção da obra é de no máximo cinco anos a partir da assinatura da ordem de serviço, que ocorreu no 4º trimestre de 2020. Portanto, o ramal deveria iniciar operação no final de 2025.

Os imprevistos encontrados no projeto logo surgiram como no alagamento de túneis escavados pelo tatuzão sul em fevereiro de 2022 e nas falhas geológicas existentes em algumas regiões.

A Acciona mudou estratégias para evitar problemas como ocorreu com a escavação de dois poços ao norte do VSE Tietê, de onde partiu do tatuzão norte.

Ainda assim há dificuldades de várias origens como se viu na forma como o tatuzão chegou à estação Itaberaba ou na polêmica sobre os artefatos arqueológicos encontrados no canteiro da estação 14 Bis.

Canteiro de obras da estação 14 Bis em março de 2024
Canteiro de obras da estação 14 Bis em março de 2024: imbróglio arqueológico promete complicar conclusão das obras (LinhaUni)

Atraso é prejuízo para parceiro privado e público

Em outras palavras, cravar um atraso exato de três anos não é previsão técnica e sim um cálculo financeiro já que uma parceria público-privada passa por revisões constantes de prazos, avanço dos trabalhos e pagamentos.

É disso que se tratam os 1.096 dias e não uma constatação precisa de que a Linha 6-Laranja ficará pronta apenas em 2028.

O governo segue afirmando que a primeira etapa, entre Brasilândia e SESC-Pompeia, deverá abrir em 2026, ficando o restante para 2027. Será isso de fato? Difícil saber.

Há várias etapas críticas pelo caminho como a conclusão da escavações dos túneis, a implantação de sistemas, entregas de trens e testes operacionais, para citar algumas etapas.

O que precisa ser lembrado é que a modelagem do contrato de concessão é diferente de uma contratação convencional como nos lotes da expansão da Linha 2-Verde do Metrô.

Um atraso na entrega traz prejuízo tanto ao governo quanto para a concessionária, que terá menos tempo para explorar o serviço. Não é à toa que os dois entes negociam mudanças constantes no desenvolvimento da obra a fim de evitar mais mudanças de prazo.

 

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2 comments
  1. difícil achar uma cobertura séria e voltada aos fatos na grande mídia quando se trata de transporte público. felizmente temos sites como esse que demonstram preocupação em realmente pesquisar sobre o assunto antes de informar.

  2. Amei a materia, simples assim.
    Pega a informação que esta sendo disseminada de forma errada, arrumar, explica e ainda fala mais.
    Incrivel!

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