À beira do precipício, Supervia enfrenta “apocalipse” financeiro com risco real de falência

Empresa privada de trens urbanos viu seu prejuízo aumentar em 108% e patrimônio liquido ser reduzido em 88%, valendo menos do que um trem novo. Empresa lançou ultimato ao governo do Rio para pagamento de indenizações superiores a R$ 1 bilhão sob pena paralisar a operação dos trens
A beira da falência, Supervia pede socorro ao estado (Agetransp)
A beira da falência, Supervia pede socorro ao estado (Agetransp)

Prejuízo, caos e um patrimônio líquido inferior ao preço de um trem. Essa é a situação de “fim dos tempos” que a Supervia, operadora do transporte ferroviário do Rio de Janeiro, enfrenta atualmente.

A empresa privada divulgou recentemente seu balanço contábil com números e constatações alarmantes. A própria Supervia admite: há risco real de falência da empresa.

Resultados financeiros

Os resultados financeiros da Supervia mostram uma empresa imersa em uma crise fiscal. A companhia teve saldos negativos na maioria de seus balanços.

A receita líquida da empresa apresentou queda de 26,8%, saindo de R$ 816 milhões em 2022 para R$ 597 milhões em 2023. O custo do serviço aumentou em 4,1% no período.

Resultado operacional da Supervia em 2023 (Supervia)
Resultado operacional da Supervia em 2023 (Supervia)

O resultado foi uma queda do lucro bruto em 94,8% e o aumento do prejuízo líquido da empresa em 108,1%, chegando ao valor de R$ 372 milhões em perdas durante 2023.

No que se refere às receitas, foi considerado no cálculo as receitas de construção que se referem aos investimentos. Neste sentido, a Supervia reduziu as melhorias no sistema em 81,5% em 2023.

A venda de bilhetes foi fortemente impactada. Sendo a maior fonte de receitas da empresa, a queda de 18,6% representa R$ 556 milhões na venda de bilhetes em 2023.

Receita Líquida da Supervia em 2023 (Supervia)
Receita Líquida da Supervia em 2023 (Supervia)

No que se refere ao custo dos serviços prestados, a folha de pagamento foi melhor remunerada, com aumento de 10,4% nos salários e benefícios. Porém, houve queda generalizada em diversos indicadores.

Destacam-se os investimentos com materiais (queda de 21,3%), limpeza e higienização (queda de 16,5%) e manutenção/conservação (queda de 12%).

Custos dos serviços da Supervia em 2023 (Supervia)
Custos dos serviços da Supervia em 2023 (Supervia)

Patrimônio dilapidado

Um dos fatores mais preocupantes do relatório é o balanço patrimonial da empresa. A Supervia registrou queda no seu ativo da ordem de 6,1%, chegando ao valor de R$ 2,2 bilhões.

Os passivos da empresa, por sua vez, só registraram aumentos, tanto no circulante como no não circulante. O primeiro geralmente é mais preocupante, pois nele estão alocadas as dívidas com empréstimos, o maior custo da empresa. Os passivos aumentaram em 11,3% atingindo R$ 2,1 bilhões.

A situação da Supervia se tornou tão alarmante que o patrimônio líquido da empresa, ou seja, a diferença entre todas as receitas, valores, bens e as suas dívidas de médio e longo prazo, chegou a um valor de apenas alguns milhões de reais.

Balanço patrimonial da Supervia em 2023 (Supervia)
Balanço patrimonial da Supervia em 2023 (Supervia)

O patrimônio líquido da empresa hoje é de apenas R$ 49 milhões. Este valor é inferior ao de um trem novo da Série 8900 que custou em média R$ 60 milhões por unidade para a concessionária paulista ViaMobilidade. O indicador representa uma queda de 88,3% do registrado em 2022 que era de R$ 421 milhões.

Segundo dados da Agetransp, que gerencia o transporte público no Rio de Janeiro, a Supervia transportou menos de 20 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, uma queda de 12,% em relação ao mesmo período de 2023. A concessionária é responsável por uma malha de trilhos com mais de 250 km de trilhos e 100 estações.

Ultimato

A situação da Supervia pode ser atestada pelo próprio relatório da empresa em que é citada que as condições operacionais da operadora privada dependerão de eventos futuros como a assinatura de novo termo aditivo, negociação de dívidas e atendimento ao plano de recuperação judicial.

“Dessa forma, a continuidade operacional da Companhia e de suas controladas dependerá dos eventos futuros, das ações e conclusão das negociações descritas anteriormente, bem como da assinatura do 13º Termo Aditivo ao Contrato de Concessão”

CENTRAL poderá intervir na Supervia (CENTRAL)
CENTRAL poderá intervir na Supervia (CENTRAL)

A Supervia ainda lançou um ultimato para o governo do Rio de Janeiro: ou a gestão estadual se posiciona sobre os pleitos indenizatórios da empresa ou a situação de recuperação judicial irá evoluir para a falência da Supervia.

Para evitar a conversão da RJ em falência, a SuperVia pede que o Governo do Estado se manifeste, de forma definitiva, sobre as seguintes providências: (1) o pagamento, pelo Governo do Estado, dos valores devidos à SuperVia pelo congelamento das tarifas entre 2021 e 2023 e dos valores totais referentes à perda financeira decorrente da Covid-19, quando a concessionária precisou manter a operação, mesmo com a queda brutal do número de passageiros; e (2) a necessidade de reestruturar o modelo de concessão para garantir a sustentabilidade do serviço para a população.”

Em suma, ou o governo do Rio de Janeiro resgata a empresa, ou a concessionária deverá quebrar. A atual gestão diz estudar um plano de contingência indicando que pretende repassar a terceiros a operação e a manutenção do sistema, separando as duas atividades até encontrar uma solução definitiva.

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19 comments
    1. sempre mamou. a supervia já foi socorrida várias vezes pelo estado do RJ.

      só que os termos do contrato lá são diferentes, fazendo com que a concessão fique dependente da tarifa paga pelo usuário. aqui em SP o estado é responsável pela arrecadação, mas paga um valor contratual por passageiro e tem um numero mínimo garantido. então pra eles quanto menos usuário melhor. só olhar os pedidos de reequilíbrio por conta da pandemia.

      má gestão, somados aos problemas de segurança pública e sucateamento do serviço, fizeram chegar o que a supervia chegou hoje. o usuário abandonou o sistema, e com menos usuário a arrecadação cai. o governo do estado do RJ está quebrado. a corrupção lá é exageradamente alta. o dinheiro da privatização da CEDAE, o ultimo respiro do RJ, virou poeira quando Cláudio Castro comprou apoio dos prefeitos e distribuiu o valor. agora o RJ está sem dinheiro e sem nada para vender. quem vai socorrer a ferrovia carioca vai ser o governo federal

      1. Sem contar que não querem integração gratuita, o que faria explodir o numero de usuários nos trens (igual ocorreu na CPTM), o que geraria mais receita

  1. Estações controladas pelo tráfico, pessoas que simplesmente pulam catracas e muros, constantes furtos de cabos, insegurança da população, realmente um serviço que era pra ser livre da corrupção e das milícias diferente dos ônibus, realmente, o governo do Rio de Janeiro se esforça para ser o pior, e isso não vai mudar, pq sabemos que desde vereador ao governador, ambos estão ligados em esquemas e grupos.

    1. Não creio nisso, até pq apesar de SP também ser bagunçado e corrupto, acredito que está mto longe da situação caótica que vive o RJ. Aqui não há estações mantidas pelo tráfico e o número de usuários tende a crescer com a expansão das linhas, entretanto, assim como lá o governo sempre pagará pelos “ajustes” nos contratos.

      1. Pode ter certeza que o atual governador, que vem justamente do Rio de Janeiro, está lutando bravamente para que a CPTM fique na mesma situação da Supervia.

      2. o sistema do RJ é caótico desde sempre.

        na época da CBTU (que já era horrível) eram transportados cerca de 1 milhão por dia. hoje é em volta de 300 mil.

        SP caminha para uma miscelânia de contratos caros e com grande subsidio do estado. se a rede estiver toda nas mãos da iniciativa privada, uma hora vai faltar dinheiro. e aí vai ser o efeito cascata igual vemos no RJ: falta de verba do estado, aumento de tarifa, fuga de usuários, empresas indo a falência e largando os contratos e sucateamento do serviço. aí o estado se pegar de volta, vai gastar muito mais que a “economia” trazida pelo contrato.

        o serviço metroferroviario é complexo, e quanto maior a expansão da rede, maior seu custo para manter e retorno financeiro é proporcionalmente menor, pois muitos usuários “novos” serão os mesmos de antes, a diferença que o deslocamento até o metrô/trem será menor, ou se dará por outra linha. e considerando o modelo que temos atual, cada contrato vai receber individualmente pelo passageiro, independente do número de integrações.

  2. E qual seria a sua sugestão para melhorar essa situação da Supervia?
    O estado do Rio dar uma ajudinha com um reequilíbrio econômico ou aumentar a tarifa para mais de 10 reais?
    Em ambos os casos quem sairá prejudicado será a população do Rio.
    Repito, o sistema de transporte metro-ferroviário não deveria ser privatizado, pois é um modelo de negócio que nunca será lucrativo com base na tarifa pública praticada.
    Imagina se a população teria dinheiro pra pagar mais de 20 reais por dia pra ir e voltar do trabalho.
    Não se pode ter uma tarifa de mais de 10 reais só para garantir o lucro das concessionárias.
    O transporte público é um direito social garantido para todas as pessoas, independente da renda e sempre norteada pela modicidade da tarifa.

    1. esse é um dos motivos da baixa adesão a supervia: tarifa cara e sem integração.

      somados aos problemas que já conhecemos, como segurança e falhas na operação.

      isso tudo afugenta o usuário.

      aumentar a tarifa, pode gerar o efeito contrário e afastar mais gente e aumentar mais ainda o rombo.

      só dar reequilíbrio econômico financeiro vai salvar financeiramente a empresa, mas não vai resolver os problemas da prestação serviço.

    2. Para ficar igual aos onibus municipais de SP, que sugam todo ano, mais de R$ 5 bilhões de subsídios para manter um péssimo serviço?

      Não, obrigado!

      O mundo mostra que transporte publico não é mercadoria e acaba custando bem mais caro para o usuário e para o proprio governo!!

  3. Alguém, em sã consciência, acredita que o SR governador Cláudio Castro vai fazer algo pela Supervia? Eu tenho pena dos usuários cariocas. Dou graças a Deus que não moro no RJ e nem tenho o prazer de conhecer a Supervia.
    Tenho uma amiga que já morou por duas vezes no Rio e não quer nem saber de voltar pra lá.

    1. Morei no Rio até o ano passado e São Paulo pode ter vários defeitos, mas não o de uma infraestrutura tão porca quanto a do Rio. No entanto, com o atual governador carioca, SP está a passos largos de se tornar um Rio de Janeiro sem uma capital com praias tipo lá.

  4. Em Paris o metrô é estatal, em Los Angeles o metrô é estatal, em Amsterdam o metro é estatal, em Roma o metrô é estatal, em Nova York o metrô é estatal, em Atlanta o metrô é estatal, em Shanghai o metrô é estatal, em Beijing o metro é estatal, em Madrid o metrô é estatal, em Salt Lake City o sistema de trens é estatal, em Houston o sistema de trens é estatal, em Lisboa o sistema de trens é estatal. A pergunta: Por que privatizaram o metrô do Rio de Janeiro? Imaginemos quanto dinheiro foi para os acionistas dessa empresa japonesa e como seria se esse dinheiro tivesse sido reinvestido nas linhas do metrô. São Paulo está correndo grande perigo se privatizaram o Metrô, que é reconhecidamente uns dos melhores sistemas do mundo, e bem visto pela população. A

  5. Infelizmente contrariando o prof. Marcus Quintella não houve o tal legado para a mobilidade urbana do Rio de Janeiro não se efetivando positivamente transformado em termos de transporte público, em comparação a 2009, ano da indicação da cidade como anfitriã dos Jogos Olímpicos 2016, em que foram realizados grandes investimentos para a melhoria da mobilidade urbana, inclusive obras não constantes do caderno de encargos do COI, e os resultados práticos esperados e quais os benefícios que serão usufruídos pelos habitantes de toda a região metropolitana, após o término do evento, como o tão alardeado legado olímpico não acontecerem, e ainda mandaram para São Paulo um despreparado soberbo que está sendo um desastre administrativo deixando um estado falido para seu sucessor!

  6. Esse é o futuro da ViaMobilidade. Hoje o Tarcísio passa pano, usa São Paulo de palanque eleitoral, amanhã consegue o que quer (ou não), vira as costas e larga o problema pros paulistas resolverem

  7. Tá feio mesmo, a Hitachi que até então administrava a SuperVia vazou fora, mas também quem manda eles cobrarem um preço absurdo na passagem num trem suburbano que não tem segurança nenhuma com milicianos e traficantes dominando as estações?

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