TIC Trens sai à caça de profissionais e maior alvo seria a CCR

Grupo e suas concessionárias ViaQuatro e ViaMobilidade estão perdendo dezenas de funcionários estratégicos para a futura operadora do Trem Intercidades para Campinas
Chega da TIC Trens reforça busca por profissionais qualificados (Jean Carlos)
Chega da TIC Trens reforça busca por profissionais qualificados (Jean Carlos)

A chegada da concessionária TIC Trens, que assumiu a Linha 7-Rubi e o Trem Intercidades para Campinas, está gerando uma grande movimentação de profissionais.

Com metas ambiciosas, a empresa tem buscado profissionais experientes em outras operadoras, sobretudo a ViaMobilidade.

Segundo um levantamento feito pelo site, vários novos funcionários da TIC Trens são egressos da concessionárias que opera as linhas 5-Lilás, 8-Diamante e 9-Esmeralda.

Identidade visual da TIC Trens S.A. (TIC Trens)
Identidade visual da TIC Trens S.A. (TIC Trens)

Fuga de profissionais para a TIC Trens

Nos últimos meses, com a formação da nova concessionária, tornou-se cada vez mais comum ver grandes movimentações de profissionais. A TIC Trens já estruturou o seus escalões mais altos, compostos por diretores, superintendentes e gerentes.

Boa parte destes profissionais fazia parte da “tropa de elite” de empresas como ViaMobilidade, ViaQuatro e do próprio Grupo CCR. A saída de grandes talentos pode revelar, não só a oferta de melhores condições de trabalho, como também apetite profissional por novos desafios. Afinal, estamos falando do tão almejado Trem Intercidades, o primeiro serviço regional de trens de média velocidade do país.

A situação, porém, não deve ser considerada pontual. Há chances muito grandes de que esse processo continue e cause problemas para a ViaMobilidade.

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Nesta etapa, passados praticamente um mês de vida da TIC Trens, a concessionária estrutura seu corpo de supervisores e primeiros empregados de operação.

A seleção está sendo guiada através de processos de indicação, num primeiro momento, mas devem se estender ao público geral atendendo às demandas para cargos como operadores de trem, agentes de atendimento e técnicos de manutenção.

Equipe inicial da TIC Trens (Redes Sociais)
Equipe inicial da TIC Trens (Redes Sociais)

Levantamento de profissionais

No levantamento produzido pelo site foi feito o mapeamento de 50 profissionais da TIC Trens. Do grupo de profissionais analisados constatou-se que 72% destes tiveram seus últimos vínculos de trabalho com a CCR e as concessionárias ViaQuatro e ViaMobilidade.

Os profissionais estão espalhados em diversas áreas: administração, contabilidade, manutenção, CCO, projetos, financeiro, tecnologia, etc. A seleção muito possivelmente considerou a experiência dos ferroviários, bem como possíveis afinidades com a visão da nova empresa.

Levantamento parcial de funcionários da TIC Trens (Jean Carlos)
Levantamento parcial de funcionários da TIC Trens (Jean Carlos)

O tempo de trabalho de cada um dos profissionais varia. A maioria deles (52%) possui até cinco anos de experiência em suas respectivas empresas passadas. Coloca-se em evidência que 20% dos profissionais já têm mais de 15 anos de experiência.

Dos 10 profissionais com mais de 15 anos de experiência, nove são do Grupo CCR/ViaMobilidade. Esse valor não pode ser ignorado, já que representa uma perda significativa de know-how em questão de poucos meses.

Além dos profissionais da CCR, é preciso destacar que a TIC Trens também conta com outros profissionais da iniciativa privada vindos da CRRC, BYD e Siemens. Alguns ferroviários da CPTM também toparam o desafio e estão integrados dentro da TIC Trens.

Tempo de trabalho na ultima empresa e origem dos profissionais (Jean Carlos)
Tempo de trabalho na ultima empresa e origem dos profissionais (Jean Carlos)

Clima na ViaMobilidade não seria dos melhores

A fuga de profissionais pode se estender também para as bases. Essa tendência é corroborada pela possibilidade de que os ferroviários que atuam sobretudo nas linhas 8 e 9 possam buscar melhores condições de trabalho e melhores benefícios.

Em conversas com vários funcionários e ex-funcionários, o relato obtido pelo site é de um clima de trabalho bastante longe das otimistas propagandas. Falta de incentivo, promoções duvidosas e sobrecarga laboral são alguns dos tópicos relatados.

A questão que a ViaMobilidade precisa estar atenta é: a concessionária estaria preparada para um debandada de parte de seus profissionais mais competentes? Como formar novos ferroviários em um cenário onde a mão de obra especializada é cada vez mais escassa?

Série 8900 fabricada pela Alstom (Jean Carlos)
Funcionários em processo de comissionamento de trem (Jean Carlos)

Disputa por profissionais experientes deve crescer com a LinhaUni

Os anos de domínio da CCR como única operadora privada em São Paulo certamente ajudaram a criar uma situação privilegiada já que nem Metrô nem CPTM contratam funcionários sem concurso.

A presença de uma nova operadora como a TIC Trens gerará uma situação inédita para o Grupo CCR, que terá de investir mais em seus profissionais ou então buscar novos talentos com condições mais atraentes.

E a tendência é que esse quadro deverá se acirrar já que em breve a LinhaUni, futura operadora da Linha 6-Laranja, também deverá repartir do bolo de profissionais ferroviários.

Com a estrutura mais moderna do Brasil em termos de transporte sobre trilhos, a concessionária poderá atrair muitos profissionais motivados por ascensão profissional.

Pátio Morro Grande
Inicio da operação da LinhaUni deverá demandar muitos funcionários (Linha Uni)

O cenário que se desenha para o futuro, com múltiplas operadoras, deverá tornar a situação de competição profissional mais intensa. Neste sentido, será fundamental a formação de mais profissionais ferroviários, tema que praticamente todas as empresas privadas ignoram.

O fechamento da escola ferroviária da CPTM apenas reforça uma crise vindoura: haverá poucos profissionais preparados. No longo prazo as empresas vão precisar criar formas, assim como foi feito no passado, para ensinar e integrar os novos profissionais.

A solução da crise está na base. Enquanto não se focar na mão de obra mais jovem, capacitando-a, o futuro da ferrovia será o canibalismo de pessoal qualificado que se manterá incentivado a trabalhar em uma empresa que realmente o respeite como colaborador.

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21 comments
  1. Na última semana a ViaMobilidade 8 e 9 AUMENTOU a carga horária dos maquinistas, o clima é de total indignação entre os profissionais.

    Procedimentos absurdos como proibir os próprios maquinistas se deslocarem nas cabines (seu local de trabalho) em horário de serviço são exemplos de má gestão, e problemas diários que sobrecarregam o psicológico dos condutores.

    Por favor questionem a Viamobilidade porque a carga horária dos maquinistas foi aumentada sendo que o próprio presidente do grupo CCR afirmou que seria diminuída para 8 horas! A realidade foi que a mesma subiu para 10h e sem horário para refeições.

    Que a TIC Trens leve todos os profissionais da CCR, para que a mesma aprenda a valorizar os ferroviários.

  2. Esse cenário de “canibalismo” entre as concessionárias deve durar por muito tempo até porque a mão de obra da base da CPTM provavelmente irá se perder. Há um desinteresse mútuo entre as partes (concursado e concessionárias) de estabelecerem qualquer vínculo.

  3. Funcionários estratégicos? CCR? ViaMobilidade? Se depender do atual quadro de colaboradores dessas “duas” empresas, o TIC vai começar errado. Já nasceu morto.

  4. A via mobilidade vive de aparências, promoções somente se agradar a supervisão. Fui AASL (agente líder), somos super sobrecarregados com diversas atribuições que fogem de nossos cargos. Somos registrados como vigilante mesmo tendo profissionais que nunca realizaram curso de vigilante, e para piorar tive mudança na nomenclatura da CPTS que foi para supervisor de bilheteria e caixas mesmo nunca ter preenchido tal vaga….. Temos que realizar uma fiscalização mediante a nota sobre a empresa de higiene, porém se dermos um nota mais que 80 a supervisão vai matando sobre nós

  5. Intrigante. Dos cargos de nível estratégico (gerência etc.), apenas 1 foi preenchido por gente da CPTM (talvez pela falta de estabilidade na empresa privada e salário abaixo do oferecido na estatal?). Espero que nos cargos cruciais, como maquinistas, manutenção etc. isso se inverta e sejam preenchidos pelos funcionários atuais da linha 7, do contrário vai ser um caos ainda maior do que imagino (afinal a CPTM cederá funcionários por apenas 6 meses para a concessionária). Sobre o possível motivo para essa evasão de funcionários, chuto um: a garantia de lucro. Imagina ganhar praticamente de graça um salário altoindependentemente do serviço funcionar ou ter demanda, é um sonho (e um pesadelo pra quem obrigatoriamente vai pagar – no caso o contribuinte)

  6. Não vejo nenhum problema, muito pelo contrário, isso é ótimo para os colaboradores tanto da CCR quanto da Comporte, vão ter salários e condições de trabalho melhores. O mercado funciona assim, oferta e demanda, se a oferta de bons profissionais não supre a demanda, a operadora tem que pagar melhor e oferecer melhores condições de trabalho e etc. Muita água vai rolar embaixo dessa ponte ainda, temos muitas concessões pela frente e o natural é a base da operação se manter nas linhas habituais. (inclusive os funcionários da L7 tem que ser mantidos por 3 anos pós concessão, é obrigação da concessionária)

    1. Toda vassoura nova varre bem. Na teoria é bonitinho, quero ver na prática.

      Quem conhece a linha 7 sabe bem o que estou dizendo…se for essa palhaçada das linhas 8 e 9, não vai sobrar nada de pé ali

    2. via mobilidade não se importa com seu funcionários ,muitos saindo e mesmo assim eles não contratam, sobrecarregado os demais,sem falar os postos que deixam os seguranças no meio do mato em condições desumanas.
      vario funcionários se afastando com problemas psicológicos por causa da sobrecarga de trabalho.

  7. A notícia é preocupante.
    com o fechamento da escola da CPTM, e a briga por funcionário a chance da população sair perdendo com o déficit de bons profissionais é muito alta.
    indiferente do motivo da saída, seja por salário, fomento ou afim, a baixa quantidade de colaboradores que sabem o que fazem e não tem tempo de ensinar os outros, é preocupante.
    Queria que tivesse mais escolas…

  8. É melhor que o Sistema S em conjunto com as FATECs e ETECs criem novos e modernos cursos para a formação ferroviária no geral e que futuramente, tanto o Metrô e a CPTM, a despeito de não serem mais operadoras dos transportes sobre trilhos, sejam ao menos planejadoras e projetistas das futuras linhas dos transportes metropolitanos e regionais no Estado, respectivamente, além de também ajudarem na formação de novos quadros para as ferrovias usando também a Unimetro, universidade corporativa do Metrô situada no Pátio Jabaquara! Solução existe, escolas de qualidade do Ensino Médio para cursos técnicos na área também podem colaborar, é só não deixar a burocracia porca e ridícula atrapalhar tudo e usar essas soluções que daria tudo certo!

  9. A via Mobilidade está com uma carga horária muito sobrecarregada , estações que ficam com somente 1 colaborador , um absurdo , pois o colaborador mesmo sozinho na estação , tem que realizar toda a demanda de atividades na estação , tendo até mesmo ficando sem o horário de refeição

  10. Essas concessões já nasceram mortas, não é nem questão de ser privado ou público, mas que estão sendo feitas de forma errada e com teimosia por parte do governador, que vê o erro mas ignora. É meio óbvio que lá na frente, não muito distante, um futuro governador vai ter que tomar providências sore tudo isso. A situação da ViaMobilidade por exemplo é calamitosa, basta ver o que a população comum que é usuária posta nas redes sociais.

  11. Basicamente já vai começar errado, a qualidade técnica dos funcionários da CCR (tanto os operacionais (operadores de trens, segurança etc) quanto da manutenção) é muito baixa (já afirmado isso por vários conhecidos da CCR e por alguns fornecedores deles (entre eles Alstom)).

  12. Essa é a regra do capitalismo!

    O empregador privado tem a liberdade de escolher entre pagar salários menores e gastar mais com rotatividade ou pagar salários maiores e gastar menos com rotatividade. E o empregado privado, dentro de suas prioridades e preferências, tem o direito de escolher a qual das empresas prefere vender sua mão-de-obra.

    A folha salarial das estatais é inflada por deputados que têm base salarial no funcionalismo, portanto não são fontes confiáveis de média salarial. Mas sim, concordo que deveria haver um piso salarial dos ferroviários para evitar a temida “fuga de cérebros”.

  13. Tem um curso de Transporte Ferroviário na ETEC da Tiradentes e cursos de Transporte Terrestre nas FATECs Barueri e Tatuapé.

    A escola da CPTM fazia parte da rede Senai e operava no Pátio da Lapa. Não custaria muito que a CCR assumisse o patrocínio da escola, já que ela opera a maior parte das linhas do sistema.

  14. Essa debandada toda da CCR (ViaMobilidade) é culpa da própria empresa, principalmente pelas condições de trabalho que ela oferece. Na operação, a empresa oferece baixos salários, paga poucos benefícios e sobrecarrega os seus funcionários com vários desvios de função, ou seja, explora os seus funcionários ao máximo.
    Sem contar que não dá nem pra comparar com a CCR (ViaMobilidade) o nível dos treinamentos e a qualificação profissional que o Metrô e a CPTM oferecem aos seus funcionários. A CCR praticamente não investe em seus profissionais, não oferece condições para que o funcionário queira permanecer nos quadros da empresa.

  15. o que ocorre hoje com as concessionárias é o mesmo movimento que ocorria com as terceirizadas da CPTM.

    as empresas contratam mão de obra de outras empresas para não ter que fazer treinamento. mas os salários e planos de carreira não mudam muito. pelo contrário, vai piorando com o tempo. a rotatividade na CCR já é alta, então não é a chegada da comporte que vai assustar a CCR. tirando um ou outro grandão que saiu da CCR, o resto eles nem vão sentir falta. diria até que vão achar bom, assim não pagam multa rescisória e contratam outro com salário mais baixo ainda.

    funcionários da CPTM só virão os de alto escalão, pois esses não perdem a boquinha nunca. como diz na ferrovia, cai pra cima.

    não sei se o autor do texto é inocente demais ou otimista demais, ou as duas coisas. mas a última coisa que concessionária e governo do Estado estão preocupados é com mão de obra qualificada. já foi entendido por eles que serviço metro ferroviário não precisa ser de qualidade , então não tem porquê manter uma equipe com grande conhecimento técnico. tudo que se precisa é fazer o básico, como a CCR já faz e a comporte também já faz em seus outros contratos. então basicamente toda equipe hoje que está na CPTM será descartada nos futuros contratos, e levarão o seu conhecimento pro caixão. porque não haverá interesse de parte a parte em sua maioria.

    1. Esse pensamento ignorante dos executivos da CCR, que resulta na desastrosa operação que é vista desde 2022.

      Qualquer empresa que se preze, mantém bons profissionais e foca na excelência.

      A população de São Paulo precisa ir nos escritórios que ficam Vila Olímpia, dar um choque de realidade nesses empresários safados, que estão entre os mais ricos do Brasil, enquanto seus trens fedem a sujeira acumulada. A CCR precisa tomar vergonha na cara, pois o transporte sobre trilhos de São Paulo nunca teve tamanha falta de limpeza, e desdém com o usuário. Essa administração privada é um verdadeiro DE-SAS-TRE.

      A CCR está no caminho certo pra se tornar a empresa mais odiada do Brasil.

  16. Monopólios não são bons para ninguém. Em um primeiro momento, para os novos operadores, a conta chega cara, pois lhe custa desfalcar concorrentes. A coisa tende a um equilíbrio depois de certo tempo, pois aqueles que hoje vão para uma nova empresa, tem suas experiências “absorvidas” até o ponto de transferência de conhecimento para um funcionário mais barato, que assume o posto. É um jogo constante, mas de novo, melhor do que um monopólio (estatal ou privado).

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