Uma prática perigosa, que foi muito comum nos anos 1990 e até esteve presente na música W/Brasil, de Jorge Ben Jor, volta a ganhar destaque no Rio de Janeiro: grupos de crianças e adolescentes, conhecidos como “surfistas de trem“, se arriscam ao viajar sobre os tetos e laterais dos vagões dos trens urbanos.
Para escapar de fios de alta tensão e outros obstáculos, os jovens desafiam o sistema ferroviário e suas próprias vidas em uma atividade que já causou acidentes fatais.
De acordo com reportagem do jornal Folha de São Paulo, a SuperVia, concessionária responsável pelos trens de subúrbio do Rio, se diz alarmada com o ressurgimento dessa prática.
Em setembro, a empresa comunicou a situação ao governo estadual, buscando apoio para intensificar a fiscalização e conter os riscos dessa modalidade, que sempre foi associada a várias mortes, sobretudo por eletrocussão.
A moda do “surfe ferroviário” nunca desapareceu completamente, mas voltou a chamar atenção neste ano. De acordo com a SuperVia, oito pessoas foram detidas em 2024 por viajar nos tetos dos trens – três delas apenas em setembro.
Os “surfistas” aproveitam as paradas nas estações para escalar o trem e alcançar o teto, onde o desafio é se equilibrar enquanto o veículo se move, desviando de fios elétricos e do pantógrafo, um dispositivo que capta energia para o trem e que, em contato com uma pessoa, pode causar descarga elétrica fatal.
Além de subir no teto, alguns jovens se aventuram nas laterais dos vagões, com o corpo projetado para fora, ou se sentam nos engates entre um vagão e outro, escapando de postes e placas durante a viagem.
Crise de segurança e falta de recursos
Em um cenário de crise financeira e judicial, a SuperVia enfrenta dificuldades para assegurar a segurança de suas operações. A concessionária, controlada pela empresa japonesa Mitsui, avalia devolver a concessão dos trens ao governo estadual, argumentando que o estado deixou de cumprir compromissos financeiros essenciais.
Em carta enviada ao governo e à Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes (Agetransp) no fim de setembro, a SuperVia pediu suporte para implantar “ações efetivas” contra o surfe ferroviário, mas recebeu respostas limitadas.
A Central, companhia pública ligada à secretaria de Transportes, afirmou que não tem competência para atuar diretamente na repressão desses casos, e a Agetransp, embora monitore as redes sociais em busca de indícios do fenômeno, declarou que a fiscalização não é de sua responsabilidade.
Ramal Japeri é o mais complicado
O ramal Japeri, que conecta o centro do Rio a cidades da Baixada Fluminense, é o mais afetado pelo surfe ferroviário. Com uma média de 64.656 passageiros diários em dias úteis no trecho entre Ricardo de Albuquerque e Paracambi, o ramal concentra as ocorrências mais frequentes, especialmente no segmento entre as estações Ricardo de Albuquerque, na zona norte, e Edson Passos, em Mesquita.
Para mitigar o problema, a SuperVia iniciou em setembro uma operação de monitoramento com drones, na tentativa de flagrar as invasões e prevenir acidentes. No entanto, os recursos para essas operações são limitados, e a concessionária enfatiza a necessidade de parcerias para enfrentar o desafio.
Além das ações de repressão, a SuperVia lançou uma campanha de conscientização nas redes sociais, veiculando vídeos alertando para os perigos do surfe ferroviário. Em alguns casos, adolescentes que apareceram nas gravações compartilharam os vídeos em seus próprios perfis, exibindo o feito, o que reforça o desafio de educar e inibir comportamentos de risco entre os jovens. A empresa espera aumentar as iniciativas até o verão, época em que o fluxo de passageiros adolescentes rumo às praias da zona sul costuma crescer.
A legislação prevê punições rigorosas para atos de sabotagem e interrupção do serviço ferroviário. O artigo 260 do Código Penal impõe penas de reclusão de dois a cinco anos, além de multa, para adultos que atentem contra o serviço de trens. Em casos envolvendo menores de idade, a Polícia Militar os encaminha à Polícia Civil, que notifica a Vara da Infância e Juventude e o Conselho Tutelar.
A segurança pública no sistema de trens do Rio é de responsabilidade da Polícia Militar desde 1994.
Cabe ao poder público a manutenção da segurança pública no sistema.
Desculpa aí gente, a responsabilidade não é da PM, nem da Central, muito menos da pobre da Agetransp.
A responsabilidade é minha.
Pode deixar que isso não vai se repetir.
Obrigado
Para começar a entender os problemas de gestão do estado do Rio de Janeiro deixo como sugestão o livro “E agora Rio?”, da historiadora Marly Motta.