Com uma imensa carência de linhas de metrô, São Paulo não possui uma única região onde a malha metroferroviária é satisfatória. A situação é menos grave na região central, é claro, assim como o triângulo formado por três linhas na região da Vila Mariana também pode ser considerado um caso único na cidade. Mas existe potencial para “riscar” ao menos dez linhas e ainda assim encontrar locais distantes de uma estação.
Por essa razão, a decisão de lançar novos projetos é certamente uma dor de cabeça para o Metrô de São Paulo. Como optar por um trajeto e deixar outros tantos sem perspectiva? A solução é tentar agradar a todos, sobretudo quando há influência política de diversos governadores pesando na hora de priorizar uma linha. Essa “panorama” ficou um pouco mais claro após o Metrô ter divulgado seu Relatório Integrado de 2018 nesta semana. Nele, a companhia detalha várias ações, inclusive sobre os planos de expansão.
E foi esse documento que fez pipocar na grande imprensa a notícia de que o governo está investindo nas linhas 2-Verde e 19-Celeste, ambas cujo destino é chegar até o município de Guarulhos. Apesar da empolgação é fato que esses recursos previstos para 2019 são bastante limitados ainda e incapazes de fazerem as duas linhas realmente saírem do papel. Mas, sim, são um bom começo e uma sinalização para onde o Metrô apontará a sua rede.
Observando o mapa presente no relatório e reproduzido abaixo é possível notar que a companhia decidiu centrar seu foco em crescer na região Leste e Nordeste, uma virada significativa afinal três das quatro linhas que foram ou estão sendo construídas atualmente ficam nas regiões Sul e Oeste da capital. Há 20 anos, elas eram praticamente desconectadas da malha de trilhos e hoje oferecem um serviço respeitável embora insuficiente.
Já a Zona Leste e Guarulhos têm a vantagem de não serem completamente carentes de trilhos. O município passou a ser conectado à rede no ano passado com a Linha 13-Jade, mas ela é insuficiente e inadequada para absorver a demanda da região. Já a Zona Leste possui nada menos que três ramais, a Linha 3, a mais movimentada do Metrô, e as linhas 11 e 12, também bastante ocupadas. Nem assim é possível dar conta de tantos passageiros não por culpa delas e sim da péssima ocupação do solo que colocou milhões de pessoas distantes de empregos e outros serviços.
Não que o governo de São Paulo tenha se esquecido da porção leste da cidade afinal o monotrilho da Linha 15 está aí para provar, mas o ramal ainda não está nem perto de atingir sua maturidade. Por isso a ampliação da Linha 2-Verde até Guarulhos, que receberá cerca de R$ 120 milhões este ano, e o avanço do projeto da Linha 19-Celeste, cuja previsão de recursos em 2019 é de R$ 50 milhões, demonstra que o Metrô deve buscar aliviar o drama da mobilidade numa vasta região que inclui também bairros como Vila Maria e Vila Formosa, hoje completamente desconectados dos trens.
Para a extensão da Linha 2, o Metrô já possui grande parte dos imóveis desapropriados e muitos desocupados há bastante tempo. No entanto, as obras civis, que chegaram a ser licitadas, devem ter um novo certame em que a companhia pode autorizar trechos menores por falta de recursos. Já a Linha 19 já tem o chamado projeto funcional, a primeira parte do trabalho, e agora deve viabilizar o projeto básico, quando o formato do empreendimento é “congelado” com definição de locais de estações e métodos de construção, por exemplo. Ou seja, ainda não dá para cravar prováveis épocas de inauguração.
Sem contrapartida na região central
Os planos do Metrô, no entanto, continuam a criar problemas ao mesmo tempo em que buscam soluções. A razão é simples: enquanto investe em implantar linhas distantes dos pólos geradores de emprego, o governo acaba sobrecarregando ainda mais os ramais atuais. Pegue-se o exemplo da própria Linha 2. Mesmo que ajude a desafogar a Linha 3 ao atrair usuários que trocarão de trens na estação Penha, a Linha 2-Verde passará ainda pelas linhas 15, 10 e 5 antes de chegar à região da Paulista. Imaginem como ela dará conta de tanta gente.
O caso da Linha 19 é ainda mais gritante. Embora o trajeto completo a leve do centro de Guarulhos até o Campo Belo apenas o trecho até a Praça das Bandeiras está sendo estudado. Ou seja, quem a tomar em Guarulhos só terá acesso a outras linhas quando estiver no centro – uma repetição do drama vivido pela Linha 3-Vermelha. A mesma situação se vislumbra em outra linha que aparece no mapa provisório, a 22-Bordô que ficará paralela à rodovia Raposo Tavares e se conectará às estações Butantã e Hebraica-Rebouças num primeiro momento. Novamente um ramal com demanda pendular, ou seja, em que os passageiros acabam se acumulando por onde ela passa e só desembarcam no final.
O motivo para isso ocorrer envolve a falta de recursos e também de visão comercial de nossos governantes. A coisa certa a fazer é construir trechos centrais em paralelo à ampliação para as pontas assim é possível equilibrar a rede. Basta ver o efeito que a Linha 5-Lilás teve no ano passado ao desviar público de ramais como a Linha 4-Amarela. A outra vantagem é que qualquer trecho nas regiões centrais cria mais conexões naturalmente além de atingir mais pólos geradores de emprego.
Um exemplo claro desse erro está no desinteresse em levar à frente a Linha 20-Rosa. Seu trecho inicial passará por áreas de alto poder aquisitivo como Moema, o eixo da avenida Faria Lima, Pinheiros e Lapa e obviamente não tem apelo junto aos seus moradores. Porém, ela cortará uma enorme região adensada e com inúmeros empregos como Vila Olímpia, Itaim e mesmo Pinheiros, hoje atendido pela Linha Amarela.
Mais: com apenas alguns quilômetros ela conseguirá ligar as linhas 1-Azul, 5-Lilás, 4-Amarela e 2-Verde e com isso distribuir fluxo de passageiros. Porém, como sua implantação exige custos de desapropriação vultosos o governo a colocou na “geladeira”. Uma pena porque em outros países uma linha como essa seria como ouro para investidores privados, sempre dispostos a aproveitar o potencial de estações capazes de atrair diariamente dezenas de milhares de pessoas.
Sem linhas centrais, a expansão por trilhos em São Paulo seguirá sendo uma substituição de problemas: em vez de ficar apertado num ponto o passageiro mudará o local de seu sofrimento diário.
Se fato milhares d trabalhadores se concentram na região da Faria Lima , Pinheiros e vila Olímpia . A linha 20 Rosa precisa voltar à tona. Como poder ajudar ?