Com uma ociosidade de 60% atualmente, a indústria ferroviária no Brasil deverá ganhar novo impulso nos próximos dias quando o governo federal anunciar o programa Retrem, que prevê um crédito anual de R$ 1 bilhão para renovação e ampliação da frota de trens urbanos no país.
De acordo com declarações do Ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, o programa utilizará recursos do FGTS, terá taxas de juros anuais de 5,5% e 20 anos de prazo e carência incluída de 48 meses. Mas para terem direito ao empréstimo, operadoras de trens e governos terão de adquirir trens com conteúdo nacional, ressuscitando uma política industrial antiga. O programa deverá ser anunciado oficialmente no dia 28.
Na prática, o volume de recursos é suficiente para adquirir entre 30 a 40 composições como as CPTM ou do Metrô. Nas últimas encomendas das duas companhias, os valores pagos por composição variaram entre R$ 32 milhões e R$ 39 milhões (no caso dos trens da Série 2500, importados) na CPTM e R$ 23 milhões para os trens da Frota P da Linha 5-Lilás do Metrô. Corrigidos, esses valores hoje devem estar por volta de R$ 35 milhões e R$ 25 milhões, aproximadamente.
A medida deverá beneficiar fabricantes como a espanhola CAF, a francesa Alstom, a sul-coreana Rotem e a canadense Bombardier, que possuem instalações no país, além de outras empresas nacionais menores. Hoje existem poucas encomendas sendo produzidas nessas unidades. CAF e Rotem, por exemplo, estão finalizando o pedido de 65 trens da CPTM.
Apenas em São Paulo existem ao menos duas futuras encomendas previstas, a de cerca de 35 trens para a CPTM que serão priorizados na Linha 10-Turquesa e 22 composições que serão usadas pelo Metrô na extensão da Linha 2-Verde. Mas há um potencial grande de novos pedidos como o dos trens do monotrilho da Linha 17-Ouro que terão o edital divulgado nos próximos dias. Com a possibilidade de contar com esses recursos, o Metrô poderia mudar as condições e exigir a montagem das composições no Brasil, embora apenas a Bombardier tenha hoje estrutura para isso, em tese.
Além desses, há a expectativa pela retomada da Linha 6-Laranja, que precisará de 22 trens, e a possível confirmação do monotrilho da Linha 18-Bronze, que nesse caso precisará contratar outro fornecedor de monotrilho. No restante do país, há até maior carência por novos trens em sistemas mais precários como os de Recife ou Belo Horizonte e novas linhas como a Leste do Metrô de Fortaleza.
Novas fábricas no Brasil?
A linha de crédito pode acabar incentivando fabricantes que ainda não fincaram os pés no Brasil como a CRRC. A fabricante chinesa, que já forneceu trens para a Supervia e MetrôRio e agora iniciou a entrega de composições para a Linha 13-Jade da CPTM, ficaria de fora do mercado caso não criasse uma filial no país.
Além desses trens, a Linha 4-Amarela e o Metrô de Salvador utilizam hoje composições produzidas na Coreia do Sul e o Metrô de Fortaleza trouxe unidades produzidas na Itália pela Ansaldo Breda, para citar casos recentes.
Muito legal! Tomara que dê certo, o Brasil é um país transcontinental e há anos precisa de uma malha ferroviária extensa por todas as regiões.