Pouco citado pelo governador Tarcísio de Freitas, o BRT-ABC, corredor de ônibus que seu antecessor João Doria lançou em 2019 para o lugar da Linha 18-Bronze de metrô, voltou a ser destacado pela gestão atual.
Nesta quarta-feira, 08, o vice-governador Felício Ramuth visitou as obras tocadas pela NEXT Mobilidade (antiga Metra), empresa que opera o Corredor ABD e que propôs o BRT há quase seis anos.
Segundo Ramuth, 4 km dos 18 previstos estão concluídos e o restante deverá ser implantado no prazo de apenas um ano. Tudo para que a nova previsão de inauguração ocorra em janeiro de 2026.
Se isso de fato ocorrer, significará que o projeto, vendido como “solução rápida e barata” por Doria, terá levado cerca de quatro anos para ser construído ou 30 meses a mais do que o inicialmente previsto.
O vice-governador admitiu o atraso, porém, decidiu culpar “questionamentos jurídicos” pelo impasse.
No entanto, embora a renovação do contrato da Metra tenha sido alvo de ações na Justiça comum, no Tribunal de Contas do Estado e no Supremo Tribunal Federal, em nenhuma instância houve determinação para que os trabalhos fossem pausados.
Pelo contrário: seguindo entendimento da Procuradoria Geral do Estado, juízes e ministros acataram o argumento que suspender o contrato seria danoso à população.
A despeito da enorme demora numa obra que levaria apenas 18 meses, segundo o governo, o que tem sido visto até aqui é uma canaleta com pistas de concreto e a já famosa “estação” Metrópole, um ponto de ônibus fechado com climatização e portas.
Linha 18-Bronze poderia ter sido inaugurada em 2023
Cabe relembrar o triste histórico do caso. Em julho de 2019, o então governador João Doria anunciou o “BRT-ABC” como solução mágica para a mobilidade de baixa qualidade no ABC Paulista, sobretudo em São Bernardo do Campo.
Soube-se depois que a Metra havia apresentado a proposta à Doria logo no início de seu mandato. Na época, a Linha 18-Bronze, responsabilidade da concessionária VEM ABC, já acumulava quase cinco anos de contrato assinado.
No entanto, o governo segurou o projeto com o pretexto de não contar com recursos financeiros para desapropriações, algo inusitado já que nenhuma outra obra de grande porte do estado nos últimos anos deixou de sair do papel por essa razão.
Enquanto buscava uma saída jurídica para dispensar a VEM ABC sem qualquer indenização, o governo e a Metra iniciaram o projeto do corredor de ônibus, que aos poucos foi perdendo os argumentos iniciais.
De um custo de cerca de R$ 680 milhões, o valor pulou para R$ 1 bilhão, mas isso não inclui a construção de um piscinão, imprescindível para evitar alagamentos no percurso dos ônibus, e também um polpudo reequilíbrio financeiro favorável à Metra por supostas diferenças na concessão do Corredor ABD.
Outro “custo extra” do BRT-ABC é a indenização que deverá ser paga pelo estado à VEM ABC pela quebra do contrato da Linha 18-Bronze. As duas partes passaram anos em litígio até decidirem discutir no ano passado uma saída negociada, ainda não divulgada.
Obra do BRT demorou mais que estação do monotrilho da Linha 15-Prata
As obras do BRT-ABC se iniciaram efetivamente no dia 24 de fevereiro de 2022 e teriam duração de 24 meses, mas três anos depois a NEXT Mobilidade conseguiu apresentar uma única parada e um trecho de quatro quilômetros de vias concretadas.
O próprio governo Doria, que tanto criticou a solução monotrilho, ergueu a estação Jardim Colonial da Linha 15-Prata em cerca de dois anos.
Veiculo E-Trol (GESP)
Cronograma previa oito paradas prontas em 2024
A NEXT Mobilidade, por sua vez, foi incapaz de cumprir o seu próprio cronograma, que previa que ao menos oito paradas deveriam ter sido finalizadas em 2024. Nenhuma delas foi concluída.
Menos de um quarto das vias previstas para o sistema de ônibus rápidos foi concretada. O sistema, que terá 18 quilômetros de extensão, evoluiu pouco mais de um quilômetro por ano desde o início das obras.
E a integração tarifária gratuita do BRT-ABC?
Mas mesmo quando for entregue, o corredor de ônibus que irá do centro de São Bernardo até as estações Tamanduateí e Sacomã, ainda terá que responder a incômodos questionamentos.
O primeiro dele é a demanda, estimada em 173 mil passageiros por dia, bem longe das miragens da capacidade de 600 mil passageiros diários.
Trata-se de metade do que a Linha 18 poderia carregar diariamente e realizando viagens de cerca de 25 minutos.
Os três serviços do BRT ABC, por sua vez, farão um percurso similar levando no mínimo 40 minutos (“expresso”), ou 70 minutos quando parar em todos os pontos…quer dizer, “estações”.
A grande pergunta até hoje nunca abordada por qualquer uma das gestões que bancou o projeto é: haverá integração gratuita entre o BRT ABC e a rede metroferroviária?
Seria essa a condição natural da Linha 18-Bronze, como parte da malha sobre trilhos, uma enorme vantagem para o passageiro e fator de atração do modal, juntamente com o conforto e rapidez.
Há quase seis anos este site chamou a decisão de Doria de “maior retrocesso em mobilidade urbana da história de São Paulo” e os fatos têm confirmado isso.
Cancelar uma linha de metrô já contratada para apostar numa “aventura” de uma proposta capenga causa incredulidade até hoje.
São quase seis anos em que apenas um beneficiado surgiu, o grupo empresarial do ABC, que ficará meio século controlando o transporte público na região.
Boa parte dos políticos que criaram ou apoiaram essa situação absurda já não está mais em cargos públicos e pode fingir que a atitude calamitosa não tem nada a ver com eles.
Para o cidadão comum, por outro lado, a dura realidade de perder tempo precioso dentro de ônibus ainda vai persistir por anos a fio.
Para relembrar o malfadado BRT-ABC, o site preparou vários artigos detalhados comparando o sistema de ônibus com o monotrilho que foi cancelado.
E além disso, a linha 20 vai ficando cada vez mais para o fim da fila, tinham prometido que ela seria a linha prioritária, e neste momento, já perdeu a vez para linha 19, da qual não fazia sentido ficar para trás já que era a mais avançada e disparada, e já vai perdendo espaço para linha 16, além de outros projetos também passando a frente como as extensão da linha 2 até Guarulhos, da linha 4 até Taboão, linha 5 até Jardim Ângela, e se bobear, a linha 6 chega em São Carlos antes da linha 20 começar a ser construída.
você foi impecável nesta reportagem, Jean. Impecável