Ao propor extinção da EMTU, governo Doria volta a denotar desprezo por planejamento no transporte público

Companhia que gerencia os ônibus intermunicipais e o VLT da Baixada Santista deverá ser fechada e suas atribuições, repassadas à Artesp, segundo projeto enviado à Assembleia Legislativa
O VLT da Baixada Santista, uma das atribuições da EMTU: ao propor extinção da empresa, Doria troca seis por meia dúzia (GESP)

Este site se propõe a conscientizar a importância do transporte sobre trilhos como principal vetor de mobilidade na Grande São Paulo, mas isso não significa desprezar outros modais. Em nossa visão, o transporte público eficiente envolve diversos tipos de meios de locomoção, mas que devem ser integrados. Por essa razão, defendemos a criação de uma autoridade metropolitana de transportes da região metropolitana de São Paulo.

Enquanto isso não ocorre, por conta de todas as etapas necessárias para viabilizar sua implantação, é preciso simplificar e otimizar as estruturas de gestão do transporte público. Não se trata de mudar nomes e preservar outros, mas sim de enxergar o transporte coletivo como uma coisa só e não dividi-lo por modais, como ocorre hoje em São Paulo. Esse pensamento, que separa um trem de metrô de um trem metropolitano, ônibus e VLTs, é completamente ultrapassado, mas persiste na mente de nossos gestores como algo natural.

Há algumas semanas, propusemos a fusão do Metrô, CPTM e EMTU e sofremos várias críticas, nenhuma delas apresentando qualquer argumento plausível, apenas afirmações tidas como dogmas no setor. Mais do que isso, a ideia principal foi ignorada: a necessidade de pensar o transporte público como uma coisa só, independentemente de qual modal é usado. Gerir linhas metropolitanas, ramais de metrô ou linhas de ônibus têm o mesmo objetivo, transportar passageiros e que, em muitos casos, utilizam os três.

Mas tudo leva a crer que a gestão Doria tem uma visão completamente diferente da exposta acima. Para reduzir custos do estado em meio à pandemia do coronavírus e a queda na arrecadação, o governo propôs uma série de medidas de cortes de gastos e que inclui a extinção da EMTU, que hoje tem como atividade a gestão de contratos de concessão de serviços de transporte sobre pneus. Sim, na mente dos nossos burocratas um veículo que roda sobre vias urbanas é suficientemente diferente de um que circula sobre trilhos. O que dirá então de um monotrilho, que tem pneus, mas se desloca sobre vigas de concreto?

Em projeto de lei enviado à Assembléia Legislativa na quarta-feira pela Secretaria da Fazenda do estado, as atribuções da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos seriam repassadas para a Artesp, uma autarquia que hoje gerencia contratos diversos, seja de concessões de rodovias, aeroportos e serviços de ônibus rodoviários, entre outros.

Parece fazer sentido, porém, a Artesp está ligada diretamente à Secretaria de Governo, responsabilidade do vice-governador Rodrigo Garcia. Ou seja, o transporte intermunicipal de ônibus e o VLT saíriam do escopo da Secretaria dos Transportes Metropolitanos. É algo surreal separar uma atividade que está intimamente ligada ao transporte sobre trilhos e à uma secretaria que cuida justamente do transporte integrado dentro do tecido urbano.

Linha 13-Jade: gestão Doria opta por soluções paliativas em vez de projetos de longo prazo (CPTM)

Visão de curto prazo

A decisão do governador João Doria e sua equipe reforça a impressão de que inexiste planejamento de longo prazo nessa gestão. Trata-se apenas de lançar ações de curto prazo e que resolvam problemas dentro do seu mandato, mas cujo objetivo está longe de beneficiar a sociedade. É o que se denota de medidas como o cancelamento da Linha 18-Bronze do Metrô, substituída por um corredor de ônibus, ou o abandono do projeto original da Linha 13-Jade para transformá-la num serviço compartilhado com as linhas 11 e 12.

Governar é o ato de deixar legados para os próximos mandatários. Pouco se pode fazer em apenas quatro anos, por isso é importante não só dar sequência a projetos herdados como preparar outros para as futuras gestões. Quando esse legado é ruim, sobram apenas dores de cabeça, como se viu nas obras das linhas 2-Verde e 6-Laranja, e que mostraram o lado positivo da gestão Doria ao viabilizar projetos problemáticos deixados pelo seu antecessor.

Doria, no entanto, poderia plantar agora o embrião de uma futura agência ou autoridade para gerir o transporte público nas mais importantes regiões metropolitanas do estado. E que não diferenciasse modais por pneus ou rodas de aço. Seria um ato mais digno do que repassar as atribuições da EMTU para uma entidade que não tem entre suas funções pensar a mobilidade urbana.

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11 comments
  1. Política do PSDB é sempre assim, visando o individual ao invés do coletivo. Na cabeça deles, o povo que se vire pra comprar um carro! E, claro, que se dane com congestionamentos, poluição, etc…

  2. o grande problema de mobilidade urbana e custo financeira na RMSP se chama onibus.

    o ideal seria que, alem de integraçao total entre CPTM e METRO para um transporte mais eficiente e barato, o mesmo fosse gerido ao menos na RMSP pela EMTU e não ter empresas municipais.

    para quem acompanha um pouco o noticiario sobre onibus, já leu que a PMSP está tirando varias linhas da EMTU da cidade de SP sob a alegaçao de sobreposiçao. ok, concordaria com a PMSP se houvesse integração total entre os onibus da SPTRANS, EMTU e trilhos. mas nao tem. isso prejudica e muito pessoas que vem de outras cidades em direçao a capital, e até mesmo pessoas q vao de uma cidade a outra e passam pela capital.

    e sobre o VLT, nao faz sentido ele passar para o dominio da ARTESP.

    enfim, uma economia porca do GESP, mostrando a visao tacanha do atual mandatário. enquanto isso, o tribunal de justiça e seus nobres juízes e desembargadores querem aumento para o órgão de 6,8 bilhões.

    1. Pois é, não entendo como não tem integração entre EMTU com os demais modais. O bilhete único ou o BOM, inclusive, deveria valer para SPTrans e EMTU. O Rio de Janeiro, com todos os seus defeitos, integra os ônibus municipais do Rio com os ônibus metropolitanos com o mesmo bilhete único.

      Falando em bilhete único, uma coisa que eu acho absurda é a burocracia que virou conseguir esse bilhete, tem que cadastrar documento na internet, endereço… meu Deus, pra que? Se vem alguém de fora pra SP não vai poder usar bilhete de transporte por causa disso… em qualquer lugar do PLANETA um turista pode usar o bilhete de transporte da cidade, só em SP do Bruno Covas que não!

  3. Eu trabalho na Artesp e lá ninguém achou sentido nenhum nessa “herança” justamente por se tratar de pastas diferentes.

  4. A EMTU foi criada na década de 1970 como a parte estadual de um grande plano federal de gestão dos transportes nas metrópoles brasileiras.

    Funcionaria assim:

    Operação, manutenção e implantação = EBTU (federal) e EMTU’s (estados)
    Planejamento, pesquisa e desenvolvimento = Geipot (federal) e EMTU’s (estados)
    Financiamento = BNDES e EBTU (federais)/ EMTU’s e bancos de fomento (estados)

    Cada região metropolitana deveria ter sua EMTU subordinada à EMTU. Apenas São Paulo e Pernambuco criaram suas EMTU’s e os demais estados ignoraram o plano federal.

    A EMTU-SP foi criada no governo Paulo Egydio pelo brilhante arquiteto Jorge Wilheim e tinha como objetivo gerenciar Metrô, trens metropolitanos da Fepasa e ônibus intermunicipais (os ônibus eram atribuição do DER-SP naquela época, com permissões de linhas que datavam de 1929) e de cara já projetou os corredores metropolitanos de trólebus de Guarulhos, ABC e da Região Oeste da RMSP. Ela se inseriu no programa de trólebus da prefeitura de São Paulo. Antes da implantação de qualquer trólebus metropolitano, o governo seguinte (Maluf) acabou com a EMTU e engavetou todos os projetos.

    A gestão Montoro retomou os projetos dos corredores metropolitanos de trólebus e usou o Metrô-SP para gerir os projetos. Em 1987 Quércia entrou no estado e usou a EMTU para gerenciar o Metrô, Fepasa (trem metropolitano) e os corredores metropolitanos de trólebus. Isso durou até ele e seu sucessor Fleury falirem o estado. Assim, a EMTU perdeu poder em 1992 com a criação da Secretaria dos Transportes Metropolitanos e passou só a cuidar dos corredores metropolitanos de trólebus e das linhas intermunicipais. Ainda assim, na gestão Covas a EMTU conseguiu realizar os primeiros contratos de concessão de linhas por consórcios de quase todas as áreas da EMTU, faltando apenas a do ABC onde problemas jurídicos e políticos travam a licitação até hoje.

    A extinção de estatais de planejamento como a EMTU não melhora a situação da sociedade. Prova disso foi que a primeira extinção da EMTU paralisou por quase cinco anos o programa de corredores metropolitanos de trólebus.

    O governo Collor extinguiu a EBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos) e isso deixou em maus lençóis os sistemas de trens do Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador (que eram muito dependentes da EBTU). Depois os governos FHC e Lula acabaram com o Geipot (Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes). O Geipot projetou (em conjunto com a EBTU) os metrôs de Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, os trólebus de Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Recife (todos desativados), além do primeiro projeto nacional do trem de alta velocidade (em parceria com empresas alemãs). O Geipot também elaborou a planilha de custos dos ônibus urbanos (que ainda é usada hoje). O Geipot também elaborou um dos primeiros manuais de projeto de ciclovias do Brasil. Ou seja, uma empresa pública de projetos de excelente qualidade.

    Depois da extinção do Geipot, o governo federal não conseguiu projetar mais nenhum ponto de ônibus que fosse, dado que durante o desmonte do órgão federal, dispensou toda a mão-de-obra especializada e hoje pena nas mãos de políticos corruptos e da falta de mão-de-obra especializada.

    Prova disso é o VLT de Cuiabá. O governo de Mato Grosso pediu financiamento federal para o projeto antes dele sair do papel. O ministério das Cidades avaliou e comprovou que o VLT não tinha viabilidade técnica e rejeitou o financiamento federal. Por meios escusos, o relatório correto (que demonstrou a inviabilidade do VLT) foi substituído por outro falso que viabilizava o VLT. Por falta de pessoal técnico qualificado, o Ministério só descobriu a falsificação depois das obras terem sido iniciadas e estarem com 1/3 de andamento. Hoje Cuiabá não sabe o que fazer com um VLT sem viabilidade e o governo federal teme aportar mais recursos nas obras e ser enquadrado pelo TCU.

    Se o Geipot ainda existisse, haveriam centenas de técnicos de olho no projeto e auxiliariam Cuiabá e a União a não entrarem em um projeto furado como do VLT.

    A EMTU tem um plano de corredores metropolitanos aprovados desde 2010. Dois saíram do papel (Itapevi e Guarulhos) e dois estavam prestes a sair do papel (Arujá e Guarulhos-ABC). Com a extinção da EMTU, esses planos serão extintos com ela, as obras em andamento serão abandonadas e a sociedade perde. E a concessão da Metra (vencida desde 2017), como fica? No limbo.

    A extinção da EMTU é uma catástrofe que precisa ser evitada.

    1. A linha lilás e amarelas não vão de deixar faculdades nunca?!?👀 Mas brincadeiras a parte, é complicado essa parada da proposta. Sendo que exatamente algumas são privadas hahahah ou posso estar equivocado…

  5. Está na hora de nos juntarmos e darmos um BASTA na gestão PSDB em SP.

    Nessas décadas de psdb, esse partido já foi muito danoso ao transporte dos paulistas.

    Quem aí se lembra da Fepasa? logo diremos “Quem se lembra do Metrô?” “Quem se lembra da CPTM?”

    Deveríamos também ir a público e publicar tudo que esse partido já destruiu de patrimônio metro-ferroviário no Estado. Dória é mais um que segue o plano de destruição no transporte. Revoltante!

    1. Concordo contigo, mas muitos ainda caem na lábia de pessoas sem-caráter como o “jestor”, principalmente no interior, onde moro atualmente., o dislumbre pelo João “Glória” e seu partido ainda é grande por esses lados, não duvido nada tal partido e candidato vencer a próxima eleição,.

      1. Bom mesmo é ir pro interior pagando 8 pedágios ida, mais 8 volta. A cada dia parece que o povo brasileiro fica mais acéfalo.

        É defendendo político, quando deveria cobrar, é defender transporte poluente e caro, quando deveria defender as ferrovias. Lamentável lamentável lamentável…!

  6. Realmente já está mais do que na hora de requalificar os serviços de transporte público, bem como essa gestão devastadora do PSDB! Sempre vi o transporte público como um todo! Ônibus,trens e metrô fazem a mesma coisa há décadas! Mais eu sei por que eles separam os transportes, por isso da dinheiro pra eles! Tá um absurdo você pagar hoje em dia quase 8 reais numa integração de ônibus e metrô! Eu mesmo faz um bom tempo que não uso mais o transporte (apesar de gostar muito, mesmo com todas as dificuldades técnicas) ando de moto! Por que se fizer as contas, 8 reais eu vou e volto bem mais rápido! Lógico que não com a mesma segurança, mais a qualidade de vida melhora um pouco. Agora imagina se fosse tudo integrado? Com 6 reais vai, você pegasse todos os transportes em 4 horas, acredito que a economia iria girar muito.

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