Autoridade Metropolitana pode diminuir custo do transporte e integrar cidades

Replanejar a rede de transportes e promover maior qualidade aos deslocamentos pode ser possível se uma gestão unificada for adotada no âmbito dos transportes coletivos
Aumentar a eficiência e diminuir custo ainda continua sendo um sonho distante (Jean Carlos)

A mobilidade urbana nas grandes metrópoles impõe grandes desafios. Todos os dias são realizadas milhares de viagens dentro da região metropolitana. Diante do cenário de pós-pandemia, onde a economia está fragilizada, há pressão constante para otimizar este sistema.

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Três grandes pontos importantes que precisam ser levados em consideração para os próximos anos são a redução do custo do transporte, melhoria na qualidade e também na atratividade, focando tirar cidadãos do transporte individual motorizado.

Em uma entrevista realizada pela Rádio Ônibus, Sérgio Avelleda, ex-presidente da CPTM e Metrô e com passagem pela Secretaria de Transporte e Mobilidade da cidade de São Paulo, discutiu alguns desses importantes temas.

Questões atuais

Transporte público é um direito de todo o cidadão. Em uma região metropolitana como a de São Paulo manter sistemas ferroviários e rodoviários são um grande desafio, seja pela gestão descentralizada, ou pelo impacto financeiro associado a essa grande operação.

Apesar do sistema sobre trilhos, onde temos operadoras privadas e estatais como o Metrô e a CPTM, serem gerenciados pelo governo do estado, boa parte do sistema rodoviário possui administração municipalizada.

Mapa da rede de transporte metropolitano (STM)

Este fato até pode parecer comum talvez para quem viva, estude ou trabalhe na cidade de São Paulo, onde os impactos não sejam tão visíveis, uma vez que os sistemas são bem integrados na capital. Mas, para quem vive em outros municípios, há um grande dilema. Sistemas municipais de baixa eficiência e que, muitas vezes, são cobertos por linhas intermunicipais exercendo plena concorrência.

Sem falar no grande custo que é operar esse grande sistema. Linhas municipais e intermunicipais que concorrem entre si são apenas um dos problemas. Muitas vezes o passageiro é obrigado a ter dois ou até mesmo três cartões de transporte para efetuar seus deslocamentos. Além do transtorno burocrático, há maior custo ao passageiro.

Linhas metropolitanas concorrem com linhas municipais (Jean Carlos)

Para quem tem maior fôlego e quer evitar a dor de cabeça pensa no óbvio: Investir em um carro ou uma moto pode resolver o problema. A princípio sim, mas não se engane, é esta a lógica que atualmente tem prejudicado o transporte coletivo de qualidade.

Diante de alguns destes dilemas qual a solução pode ser aplicada? Qual a maneira de tornar o transporte mais eficiente, barato e atrativo? É possível centralizar a gestão do transporte público entre várias cidades?

Autoridade Metropolitana

Tão falada por portais de mobilidade e especialistas no setor, mas sempre em segundo ou até terceiro plano por parte do poder público. A autoridade metropolitana de transporte poderia solucionar grande parte destes problemas.

O principal objetivo desta nova empresa seria o planejamento, gerenciamento e organização do transporte público em âmbito metropolitano, ou seja, englobando todas as cidades da região metropolitana.

A ideia aqui é racionalizar todo o sistema de transportes, eliminando concorrências desnecessárias e otimizando rotas, unificando o sistema de bilhetagem e trazendo maior possibilidade de integração, bem como traçar projetos em consonância com o sistema de transportes como um todo.

Sistema de bilhetagem unificado pode surgir com Autoridade Metropolitana (Jean Carlos)

Um caso citado por Avelleda em sua participação no programa de rádio é o de Madri, capital da Espanha, cidade que implantou uma autoridade metropolitana nos anos 80 e viu o custo de transporte cair em até 30%.

O mais surpreendente desta redução no custo é que a autoridade metropolitana não exige investimentos vultosos para começar a atuar. Entretanto, ela tem entraves tão fortes quanto o caixa das empresas e dos municípios: o poder político e empresarial.

A criação de tal autoridade metropolitana faria com que as cidades abrissem mão de seu controle no sistema de transportes para que este gerenciamento passasse a ser mais coletivo. Isso possivelmente implicaria na maneira de como esse sistema é operado. No final é perder poder para ter maior eficiência e liberdade.

Autoridade metropolitana pode reduzir custos na operação (Jean Carlos)

No Brasil, algumas leis já permitem a implantação de autoridades deste caráter. Existem casos bastante embrionários em cidades como Goiânia e Recife.

Claro que a implantação de tal autoridade depende muito de força política. Uma forma de incentivar tais ações é a ajuda do governo federal por meio de ações de cunho técnico e investimentos que possam subsidiar estudos neste sentido.

Rumo a Tarifa Zero

A autoridade metropolitana é apenas um dos tópicos levantados por Avelleda. Quando abordado sobre a questão da Tarifa Zero, ele ressaltou um ponto importante: há a necessidade de primeiro pensar na redução das tarifas e na obtenção de fontes para financiar o transporte.

O transporte público, assim como a saúde pública, geram benefícios para toda a sociedade. Mesmo que uma pessoa não seja usuária do sistema de transporte ela é indiretamente beneficiada por conta de que boa parte da população economicamente ativa utiliza-o para suas atividades.

Ainda neste sentido, o usuário do veículo individual possui parcela importante na qualidade do transporte público. A saturação cada vez maior de veículos nas grandes vias prejudica uma boa parte da população que utiliza ônibus, por exemplo.

Na maioria das vezes, o passageiro é quem paga a conta, seja pelo custo envolvido na operação e em todas as interferências causadas pelos congestionamentos, ou pelo tempo que é perdido no trânsito.

Passageiro ainda paga grande parte do custo do transporte (Jean Carlos)

A interferência do carro é ainda muito forte e, mesmo com leis como o rodízio municipal, ainda é difícil limitar o uso dos veículos particulares.

Neste sentido, é necessário um trabalho em mão dupla: uma linha vai na ideia de ampliar o financiamento ao transporte público por meio de novas taxas relacionadas ao uso do automóvel em alguns pontos da cidade.

Uma segunda proposta vai de encontro com a contínua dinamização do transporte coletivo, seja ferroviário ou rodoviário, de forma que se possa atender a uma vasta região com rapidez, conforto, segurança, acessibilidade e integração.

Estes cinco pilares fazem parte da atratividade. Pescar novos passageiros de forma que estes deixem os carros nas garagens para utilizar o transporte coletivo é relativamente difícil, mas pode ser o ponto de mudança para a melhoria da mobilidade.

Faixa “exclusiva” para ônibus (Jean Carlos)

Ainda sobre a questão da tarifa zero: os governos precisam repensar seriamente como ampliar o financiamento para o transporte. Ideias como impostos para as empresas, em lugar do vale transporte que tem contribuído menos graças a uma crise na geração de empregos CLT, pode ser outra solução importante.

Avelleda definiu a tarifa zero como uma espécie de utopia. Não necessariamente uma impossibilidade, mas um processo de construção contínuo e que existe esforço e responsabilidade. A tarifa zero dificilmente vai sair do papel com uma simples canetada.

Nesta linha de raciocínio é ressaltado: a tarifa zero é um compromisso com a qualidade do transporte público. Se por um lado este transporte se tornará muito atrativo, por outro ele precisa atingir um novo patamar, seja pela robustez, seja pela capacidade de manutenção e operação adequadas.

Tarifa zero é compromisso com a qualidade da mobilidade (Jean Carlos)

No fim, se chega novamente à autoridade metropolitana. Associar a tarifa zero a esta nova forma de se gerenciar transporte tem a capacidade de transformar a maneira como nos deslocamos pelas diversas cidades, que na verdade, são um grande e único formigueiro humano.

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  1. É muito importante que essa nova autoridade seja estabelecida, e com isso concentrar o sistema como um todo num só lugar.

  2. A integração do sistema com utilização de um único bilhete para toda região metropolitana, é possível e deve ser estudado/implantado, agora, redução de custos na canetada? Aonde isso funcionará? Temos a capital que você circula 50 kms dentro de um ônibus e tem cidades minúsculas tipo Taboão da Serra e São Caetano do Sul, com custos menores de combustíveis, garagem, etc. Igualar cidades com tamanhos, populações, custos, etc, completamente diferentes não passa de uma utopia esquerdista. O que ajudaria a melhorar o transporte seria a quebra de monopólio e a permissão para que dezenas, centenas de empresas particulares pudessem prestar o serviço livremente, isso aumentaria a oferta. Ah claro, isso jamais será considerado, afinal, ninguém pode mexer na galinha dos ovos de ouro da quadrilha estatal

    1. O transporte público é um monopólio no mundo inteiro. Nem mesmo nos países mais liberais ele deixou de ser um monopólio. Logo sua proposta é utópica e de implantação impossível.

      Se hipoteticamente seu modelo fosse implantado, a oferta iria diminuir (as empresas iriam abandonar muitas áreas para privilegiar poucas), a tarifa iria aumentar sem controle e até mesmo os acidentes iriam crescer.

      O transporte público é um monopólio por visar o interesse público acima do interesse privado.

      1. Ivo, você é de São Paulo/SP? Se for, infelizmente você não conhece a própria cidade em que vive. Há dezenas de empresas de ônibus / cooperativas que atendem as areas periféricas da cidade, muitas delas com ligação PCC / PT, formando um “dialogo cabuloso”, ou seja, algo que pra você não existe em nenhum lugar do mundo, acontece há decadas em São Paulo. O que poderia ser feito pra melhorar isso, é deixar que essas empresas atuem também em areas centrais, aumentando a oferta e concorrência, só assim pra reduzir valores para os usuários

        1. Nenhuma cooperativa atende a cidade de São Paulo impondo suas regras. Todas as cooperativas seguem regras da prefeitura referentes a tarifa, tipo de veiculo, itinerário das linhas, etc. E essas regras visam atender ao interesse público.

          E, até o momento, nenhuma investigação das autoridades indicou envolvimento de partidos políticos com o crime organizado. Membros de partidos já foram flagrados mas nenhum deles agiu sob influência de partido. Não dá para associar atos individuais de políticos a seus partidos. Seria a mesma coisa que associar clubes de futebol a atos praticados por seus torcedores.

          Sem regras, o transporte seria pior para a sociedade.

  3. Seria uma revolução positiva essa autoridade metropolitana nos transportes da RMSP, pois hoje temos cidades e até a EMTU que praticam tarifas com valores bem mais elevados do que a Capital e o sistema de trilhos, onde na visão de quem vive fora de São Paulo Capital são sistemas de maior qualidade, conforto e confiabilidade. Diferentemente da EMTU e sistemas municipais com a deficiência de integrações entre si próprias, sistemas, infraestrutura, falta de confiabilidade, pouca oferta de viagens, veículos de qualidade inferior, comunicação e ouvidorias precárias ou inexistentes, além de inúmeros fatores e exemplos.
    Na atual gestão estadual vejo como praticamente impossível discutir essa possibilidade e implantação, mas é algo a expandir a proposta e apresentar as ideias a população em geral para estimular seu conhecimento e pressionar publicamente para as autoridades levarem o assunto mais adiante.

  4. “Investir em um carro ou uma moto pode resolver o problema. A princípio sim, mas não se engane, é esta a lógica que atualmente tem prejudicado o transporte coletivo de qualidade.”
    Quem investe em carro e moto, cansou de esperar um transporte de qualidade, rápido e econômico. Muitas vezes é mais barato se deslocar de veículo particular, de que por transporte público.
    Caso o transporte coletivo seja atraente, naturalmente se deixará os carros na garagem.

  5. Por que insistem nessa Tarifa Zero em São Paulo e cidades vizinhas?
    Não percebem o inferno que pode virar o transporte público quando os nóias da crackolândia e os moradores de rua quiserem viajar de graça?
    Como ficariam a segurança, limpeza e o vandalismo?

  6. Já diria um sábio político; “Governar é definir as prioridades”
    Na atual situação financeira de quaisquer empresas é importante e imprescindível que se faça a retomada seletiva pelos que possuem chances consistentes e reais de retorno do investimento, principalmente no atual cenário econômico, e não de forma dispersa, simultânea e aleatória como está acontecendo.
    O recalculo das recentes reduções das demandas, além da planilha atualizada Pesquisa Origem Destino das Linhas Metropolitanas de 2022 é uma ferramenta fundamental na hora de definir a diretriz dos investimentos.
    Por conta destes dados já expostos no primeiro comentário podemos ter as seguintes importantes conclusões;
    1ª Linha 2-Verde: Se torna ágil, viável e econômica sua continuidade de expansão até Guarulhos bem como a assertividade de se alterar o Plano Diretor e a Lei do Zoneamento para minimizar os trajetos pendulares e descongestionar outras linhas, antes de relançar a Linha-19 e consolida-se ainda mais se a expansão da Linha 13-Jade estiver lá.
    2ª Linha 15-Prata: Se redefine e torna ágil, viável e econômica e consolida sua continuidade de expansão até Cidade Tiradentes antes de lançar a Linha-16.
    3ª Linha 17-Ouro: Se redefine sua prioridade com necessidade de revisão no seu traçado sob o risco de se ter mais uma linha de baixíssima demanda.

    1. Ou seja, a prioridade é não expandir o metrô como se deve, mas sim só terminar alguns trechos dispersos e não ampliar mais a rede.

      Ainda bem que sua “sabedoria” nunca será adotada. Se fosse, hoje São Paulo só teria duas linhas de metrô.

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