BRT ABC: análise do projeto funcional (1ª parte)

Após meses, site enfim teve acesso ao documento elaborado em 2019 e que foi usado pela gestão Doria/Garcia para justificar o fim da Linha 18-Bronze do Metrô
BRT deverá seguir no mesmo eixo da Linha 18-Bronze (Jean Carlos)

O BRT ABC, sistema de transporte que irá substituir a Linha 18-Bronze de monotrilho, deverá atender uma região importante do ABC, proporcionando uma ligação desta região com a Linha 2-Verde do Metrô e Linha 10-Turquesa da CPTM.

Após vários meses de tentativas, este site obteve o projeto funcional, que foi elaborado em 2019, por meio da ouvidoria da EMTU, empresa do governo que gerencia o transporte intermunicipal por ônibus e o VLT da Baixada Santista.

A seguir, um resumo dos aspectos do projeto, segundo a Sytra, empresa contratada pela concessionária Metra para desenvolver o estudo, e uma comparação com aspectos semelhantes propostos pelo ramal de monotrilho, cancelado pela gestão Doria/Garcia.

Conceito inicial

BRT ABC

O BRT ABC deverá ser inserido no mesmo eixo da antiga Linha 18-Bronze, passando por avenidas como Aldino Pinotti, Lauro Gomes, Guido Aliberti e Presidente Wilson, além de vias novas que terão de ser construídas.

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A extensão do BRT é de 17,3 km e disponibilizará 20 pontos de ônibus (chamados de “estações”) e três terminais de integração localizados em São Bernardo do Campo, Tamanduateí e Sacomã. A ideia é proporcionar articulação com os municípios e integração tanto ao sistema metroferroviário, como aos corredores, destacando-se o Corredor ABD da EMTU.

Projeção mostra a Linha 18-Bronze em São Bernardo: viagem em até 24 minutos (VEM ABC)

Linha 18

A Linha 18-Bronze por sua vez teria uma extensão total de aproximadamente 20 km e contaria 18 estações, algumas delas com integração física e tarifária com o sistema sobre trilhos.

Ou seja, o passageiro teria a garantia de usufruir do transporte sem pagar nova tarifa, algo que o BRT não garante em seu projeto funcional, o que deverá encarecer a viagem.

Serviços previstos

BRT ABC

Os serviços de transporte prestados pelo BRT ABC que atenderão o eixo São Bernardo do Campo (Paço Municipal) – São Paulo (Terminal Tamanduateí e Sacomã) se dividem em três modelos:

O serviço expresso poderá conter até três linhas que se iniciarão em São Bernardo do Campo realizando parada apenas nos terminais Tamanduateí e Sacomã. Este será o serviço mais rápido ofertado.

Serviço expresso (SYSTRA)

O serviço semi-expresso terá partida de São Bernardo e destino aos terminais Tamanduateí e Sacomã. Ao longo do trajeto foram selecionadas alguns pontos com paradas, sendo eles: Goiás, Cerâmica, Instituto Mauá, Afonsina e Winston Churchill.

Serviço semi-expresso (SYSTRA)

O serviço parador terá partida em São Bernardo e fará parada em todas os pontos até a chegada no terminal Sacomã. Será composta por apenas uma linha de BRT.

Serviço Parador (SYSTRA)

Linha 18

A Linha 18-Bronze por sua vez teria um serviço único e simplificado, como acontece com as linhas de metrô convencionais. Isso permite um amplo atendimento aos passageiros evitando longos tempos de demora para utilizar, por exemplo, o serviço parador do BRT.

Neste sentido o monotrilho, levando em conta a total segregação do trânsito, tem maior efetividade que o sistema de ônibus, que enfrenta em muitas situações o conflito semafórico, a despeito das promessas de “prioridade”.

Linha 18-Bronze, trecho inicial Tamanduateí-Djalma Dutra (CMSP)

Necessidade de Implantação

BRT ABC

As cidades na Região Metropolitana de São Paulo foram formatadas com forte viés rodoviarista, de tal forma que a saturação deste sistema gerou desgaste dos meios de transporte público.

A região do ABC possui cerca de 2,7 milhões de habitantes, sendo que 65% destes vivem nos municípios de São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul.

Devido à descontinuidade do sistema viário, que corta várias cidades, a falta de integração e a demanda por meios de deslocamentos mais eficientes e limpos é a aposta do BRT, que espera influenciar no entorno de seu trajeto.

Linha 18

A necessidade de implantação do monotrilho segue o mesmo raciocínio do BRT: promover melhoria da mobilidade para a população do ABC paulista. Mas, cabe salientar que, na prática, o monotrilho é ainda mais efetivo em sua proposta.

Em termos de ocupação do espaço, o trânsito de veículos também é beneficiado, já que o monotrilho ocuparia canteiros onde são instalados os pilares que mediriam cerca de 1,4 metro de largura.

Monotrilho utilizaria pouco espaço no solo (CMSP)

Benefícios

BRT ABC

O projeto funcional aponta que o BRT proporcionará melhoria nas viagens intermunicipais entre as cidades do ABC e a Capital. Os sistemas de transporte municipais poderão ser integrados ao modal, que tem como objetivo diminuir o tempo de viagem entre os terminais.

Linha 18

A Linha 18-Bronze não só propiciaria atendimento as demandas do ABC, como promoveria a livre integração a uma rede com centenas de quilômetros de trilhos pagando apenas uma única tarifa.

É também preciso considerar que, por mais efetivo que seja o serviço expresso do BRT, com 40 minutos de tempos de viagem entre os terminais, o monotrilho, com maior extensão, consegue cumprir uma viagem completa, parando em todas as estações, em apenas 24 minutos, ou 40% mais veloz.

Ganhos econômicos

BRT ABC

Segundo o projeto funcional, o BRT traz a vantagem de utilizar a infraestrutura e veículos que possuem domínio por parte da indústria nacional, diminuindo sua dependência externa.

O custo de implantação e manutenção, quando comparados com outros modos de transporte, gera relativo custo benefício. O BRT é classificado como “modal de média capacidade”.

Traçado do BRT e localização das estações (SYSTRA)

Linha 18

Em termos tecnológicos o Brasil ainda não tem fabricantes nacionais de monotrilho, o que gera dependência do mercado externo. Entretanto, a engenharia nacional já domina de forma clara a construção de estações como as do monotrilho.

Citamos como exemplo a estação Jardim Colonial da Linha 15-Prata que, com seu tamanho e todos os equipamentos de acessibilidade e segurança, incluindo portas de plataforma, foi entregue em apenas uma única gestão.

Cabe dizer também que a durabilidade das vigas trilho é bastante longa, ao contrário do pavimento rígido, que se desgasta ao longo do tempo.

Terminal do BRT em São Bernardo (Systra)

Ganhos operacionais

BRT ABC

Segundo o projeto, os ganhos em termos de operação estão na capacidade de gerenciamento por operadoras de sistemas de ônibus que já atuam no mercado e na possível flexibilização do sistema, uma vez que se pode compartilhar o viário comum.

A velocidade média do sistema será de 25 km/h no serviço expresso e 20 km/h no serviço parador. Esta velocidade, maior do que a do transporte individual, pode induzir mudança nas viagens realizadas via transporte coletivo, aumentando a demanda, de acordo com o documento.

O projeto visa um retrabalho no sistema viário que vai gerar ganhos para o sistema de tráfego geral. Há previsão de que a emissão de poluentes e de ruído diminua, dada adoção de veículos elétricos e a migração para o transporte coletivo.

Linha 18

Em termos de velocidade operacional, o monotrilho circularia a uma média de 38 km/h e, considerando o ciclo completo com manobras, a velocidade seria de 35,5 km/h, pelo menos 10 km/h a mais do que o BRT no serviço expresso (ressaltando o fato de que o trem faria paradas em todas as estações, portanto, atenderia mais regiões de forma rápida).

A migração do carro para outros modos de transporte depende não só da velocidade, mas da capacidade dos trens, algo que o monotrilho consegue, comprovadamente, atestar por meio de relatórios e estudos técnicos. Além disso, volta a pesar a integração tarifária, que tornaria a Linha 18 vastamente mais atraente que o novo corredor de ônibus.

Trecho extraído estudo funcional da Linha 18-Bronze (STM)

Urbanização

BRT ABC

Em termos de urbanização, o projeto pretende estimular transformações no entorno dos pontos de ônibus como mudanças no uso e ocupação do solo, bem como na instalação de novos empreendimentos.

Tais melhorias deverão vir acompanhadas do adensamento populacional e incremento gradual na demanda do sistema BRT ABC, conclui o estudo. Não há, contudo, comprovação desse fenômeno em relação à corredores de ônibus.

Linha 18

Em termos de urbanização, o monotrilho tem capacidade comprovada de promover adensamento populacional. Utilizando o caso prático da Linha 15-Prata é possivel ver o crescimento cada vez maior de torres residenciais e de uso misto, com serviços agregados nos andares inferiores.

Por sua vez, a capacidade de transporte do monotrilho ante ao BRT gera, por parte do setor imobiliário e de serviços, a garantia de que os passageiros terão fácil acesso aos futuros empreendimentos.

Cabe citar que o monotrilho também abre espaço para a implantação de ciclovias, promovendo uma mobilidade ainda mais limpa, algo que o BRT não permite, dado o seu baixo nível de segregação.

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  1. Mas a pergunta que fica é se teremos que pagar uma tarifa a mais para utilizar esse BRT, como é feito nos corredores do ABC atualmente, ou se será a mesma tarifa já cobrada na CPTM e Metrô? Eu acho que está mais para a primeira afirmação.

    1. Sim, terá de pagar uma nova tarifa.
      Neste modelo não há integração com o sistema de trilhos.

  2. Os caras ainda tem a cara de pau de chamar meros pontos de ônibus de estações…

    Enfim, ainda torço para que essa porcaria nunca saia do papel, população do ABC já está farta desta máfia chamada Metra.

    1. Não serão meros pontos de ônibus, serão estações mesmo, equipadas com ar condicionado e outras facilidades. O problema não é este, a troca de modal sim. E de fato o ABC inteiro é uma máfia, vide as licitações da antiga área 5 da EMTU, caso Leblon em Mauá, etc. Quem não é do feudo não consegue entrar, muito menos ficar.

  3. Eu não acho ruim a ideia de fazer monotrilho, o problema é que tem q fazer bem feito, e ter manutenção nas vigas-guias

  4. A solução proposta é tão ridícula que hoje há uma linha metropolitana (152) que, saindo das proximidades de onde será o Terminal São Bernardo e seguindo pela Via Anchieta (paralelo ao trajeto proposto) faz o percurso em 48min, ou seja, gastarão milhões para fazer algo que JÁ EXISTE, passando por um trajeto sujeito a alagamentos.
    Além disto, basta perguntar aos passageiros que utilizam o corredor São Bernardo do Campo/Jabaquara em horários de pico e veja se estão satisfeitos com o conforto, velocidade etc. É um modal saturado e a falta de integração tarifária com os demais modais metropolitanos é absurda.
    A proposta é tão ridícula que, se fosse boa mesmo, a própria Metra já teria aplicado nos demais corredores sob concessão dela.
    Se estivéssemos em um país sério, a relação Metra/PSDB seria alvo de investigação, porque não existe justificativa plausível pra essa proposta de BRT.

  5. se não tiver estrutura, as estações na verdade seriam apenas uma parada.

    a verdade é que a gestão Doria/Garcia seguiu a logica de Jaime Lerner, que quis transformar o ônibus com a mesma eficiência do transporte metroviário, com custo mais barato, rápido e simples de construir. a questão é que ônibus nunca vai ser metrô. Curitiba já saturou o sistema de ônibus, outras cidades que implantaram esse sistema, como Bogotá, idem. o ABC, em especial SBC, já está saturada com os ônibus.

    a única justificativa plausível para implantação do BRT ao invés do metrô, seria a demanda. e não me parece que a demanda seria baixa com o monotrilho. veja bem que nem estou considerando o fator lobby da família setti-braga, apenas fatores técnicos.

  6. Na verdade o ideal seria metrô subterrâneo, mas como os custos de sua implantação são muito altos, acho que a idéia do VLT é melhor que monotrilho e muito melhor que BRT.

    O monotrilho além de ter uma manutenção mais cara devido as trocas de pneus e a aparelhos de mudança de via mais complexos, ainda tem o problema de ser uma tecnologia importada.

    Já o VLT usa trilhos e rodas convencionais e temos fornecedores nacionais através das fábricas em Hortolância (CAF) e outra em Taubaté (Alstom).

    O VLT do Rio de Janeiro foi fabricado pela Alstom em Taubaté, e a prefeitura da capital fluminense já decidiu substituir o BRT pelo VLT.

    Embora o BRT tem a vantagem de um custo mais barato, implantação mais rápida e fornecedores nacionais, apresenta o problema de um alto custo de operação devido a utilização de diesel como fonte de energia e mesmo se for elétrico ainda apresenta os problemas de um ônibus comum como a troca constante de pneus e a interferência do tráfego de automóveis e pessoas em suas vias.

    1. A tecnologia ser importada de longe não é o problema do monotrilho e nunca foi, o vlt tem capacidade menor doq o monotrilho, não muito mas tem, numa linha que tem previsão de ter um acréscimo grande de demanda o monotrilho se sairia melhor, e se fosse feito um estudo melhor poderiam apenas estudar ampliar estações e adicionar alguns vagões ao monotrilho no futuro caso a demanda explodisse, já que a L15 hj q tem as estações maiores com 90m, bem menores doq os 132/136m do metrô e 172m da cptm

  7. Como vão fazer um corredor de ônibus na avenida Presidente Wilson? Ela é estreita para isto e lá há muito galpões e quando os caminhões entram e saem atrasa o trânsito. Este corredor projetado é pior que o Expresso Tiradentes ou o Corredor São Mateus Jabaquara. Se é para fazer uma coisa desta que tem menor capacidade que um monotrilho, maior tempo de viagem e que vai degradar o entorno é melhor não fazer nada. Infelizmente nenhum deputado estadual ou vereador dos municípios onde está sendo projetado isto questionou. Gostaria que o Ministério Público questionasse.

  8. Não é porque os corredores passa rápido (“passa raiva” para os críticos) fazem a população passar raiva que devemos defender trenzinhos da disneylândia numa metrópole tão complexa como a nossa

    1. O monotrilho, como meio de transporte, em termos de capacidade só perde obra o metrô. Já andei de monotrilho da Vila Prudente e São Mateus e achei bem eficiente. Infelizmente na grande mídia não apareceu nenhuma reportagem entrevistando os usuários do monotrilho e nem quem mora no entorno.

  9. Esse BRT vai ser uma porcaria, quem usar ficará ilhado, terá que pagar outra tarifa para acessar o metrô, além de ser lento, na minha opinião, melhor poupar esforços e deixar como está, para se ter ideia de ônibus linha 152 parando nos pontos e lotado gasto cerca de 50 minutos do Ferrazópolis até o Sacomã, quem mora em Santo André e São Caetano já tem o trem, logo, esse lixo só servirá para aumentar o trânsito, uma vez que não terá uma via segregada

  10. Acorda ABC precisamos protestar contra essa situação, vamos nos organizar, ou colocarão na nossa goela abaixo esse transporte que não nos atende a contento. Merecemos um transporte decente, merecemos o metrô.

  11. Será por que então que os países asiáticos tem linhas de monotrilho tão bem desenvolvidas? O preconceito com o monotrilho tem emperrado e muito o planejamento ferroviário em SP.

    1. É verdade. Em Tóquio, por exemplo, há uma linha de monotrilho que tem quase 60 anos. Foi inaugurada em 1964 quando houve as Olimpíadas.

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