BYD admite antecipar entrega de monotrilho da Linha 17 em março de 2022

Em entrevista ao Via Trolebus, diretor de projetos da fabricante chinesa afirmou que primeiro trem está sendo fabricado e tem previsão de entrega até dezembro, mas que pode enviá-lo ao país ‘para alguns tipos de testes’, a pedido do governo
BYD SkyRail

Uma possibilidade um tanto quanto surreal a respeito da Linha 17-Ouro do Metrô ganhou contornos factíveis nesta sexta-feira (1) quando o diretor de projetos da empresa BYD admitiu que pode antecipar o envio do primeiro trem de monotrilho ao Brasil até março de 2022.

Em entrevista ao Via Trolebus (veja vídeo no final do texto), Alexandre Barbosa disse que o “trem está previsto para chegar em dezembro [de 2022] e existem sim conversas para que seja possível fazer uma antecipação e entregar esse trem em março”.

Segundo o executivo, a fabricante chinesa tem capacidade de entregar esse trem “para poder fazer alguns tipos de testes no Brasil”. Barbosa, no entanto, revelou que a hipótese ainda está sendo discutida.

BYD assinou contrato com Metrô em abril de 2020, mas Justiça suspendeu execução até seis meses atrás (STM)

A vinda do chamado trem “cabeça de série” (o primeiro a ser produzido dos 14 previstos e usado para testes) esbarra em vários fatores como a necessidade de profissionais do Metrô de São Paulo acompanharem os testes na China. Porém, as restrições de viagem por conta da pandemia dificultam que uma equipe se desloque até o país já que há poucos voos e é preciso fazer uma quarentena obrigatória – a BYD diz estar procurando uma forma de viabilizar isso.

Barbosa revelou que a BYD já produziu um truque (base rodante do trem) adaptado ao padrão da Scomi, fornecedora original da Linha 17 e cujo monotrilho é diferente do modelo chinês. A fabricante também montou uma linha de testes com 900 metros de extensão para avaliar o veículo adaptado ao ramal do Metrô.

Descompasso na implantação da Linha 17

A informação sobre a possível antecipação da entrega do primeiro trem da Linha 17 foi compartilhada pelo secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, em entrevista ao canal Money News dias atrás.

Plataforma incompleta da estação Aeroporto Congonhas (CMSP)

A hipótese, no entanto, faz surgirem questionamentos sobre a real necessidade de ter o primeiro trem em solo brasileiro enquanto o projeto da Linha 17-Ouro segue com o cronograma bastante apertado.

Em tese, seria preciso resolver em apenas seis meses o que não anda funcionando bem há anos, ou seja, concluir minimamente as estações e vias, instalar os sistemas de sinalização, comunicação, portas de plataforma e oferecer alguma área estruturada no pátio para abrigar a composição, para citar alguns fatores.

Mais importante ainda seria destravar o contrato de fornecimento de energia do ramal, a cargo do consórcio TSEA/Ferreira Guedes/ Adtranz, que assumiu o projeto em 2017, mas que pouco fez deste então.

A energia para movimentar os trens do ramal de monotrilho virá da subestação Bandeirantes, a mesma que atende a Linha 5-Lilás, no bairro do Campo Belo. Será preciso construir um abrigo para os transformadores e implantar um duto de cabos que irá da região da avenida Bandeirantes até a Roberto Marinho para levar eletricidade ao sistema.

Planta que mostra a localização da subestação da Linha 17 e no detalhe imagem de satélite de junho deste ano: sem sinal de obras

Exceto por um milagre, é pouco crível que todas essas metas sejam atingidas até março a ponto de o trem da BYD poder circular minimamente pelas vias. Sequer se sabe se “algum tipo de teste”, a que se refere o diretor, seja algo realmente útil para que a Linha 17 cumpra o esperado, ou seja, inicie a operação plena de fato.

Por outro lado, o mês de março traz uma coincidência curiosa já que se trata da véspera para que futuros candidatos às eleições gerais em outubro se desincompatibilizem de seus cargos.

Tanto o governador João Doria, pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, quanto Alexandre Baldy, presidente do PP em Goiás e cotado pela mídia do estado como postulante ao senado, precisarão se afastar das atuais funções até o começo de abril se quiserem concorrer.

Espera-se por isso que a chegada do trem não seja apenas mais um ‘teatro’ para ser usado em potenciais campanhas eleitorais, sacrificando um planejamento de anos da tão aguardada linha.

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5 comments
  1. A pressa para entrega do trem também pode ser justificada por conta do processo na justiça que ainda está rolando sobre os trens?

  2. Vai ser outra inauguração igual a da linha 13. Motivos eleitoreiros … Isso pq o governador é gestor, e não político

  3. Não existem motivos plausíveis que justifiquem se apressar e antecipar um “teste” inútil para março de 2022 que não seja um ato político, ingênuo é quem pensa diferente.
    Lembrando que o rodeiro (base rodante do trem a ser adotado BYD é adaptação ao padrão da Scomi), fornecedora coreana que declinou da Linha 17 e cujo modal é diferente do modelo chinês e da linha 15-da Bombardier, e que não está explícito que será o modelo adotado em Salvador pela BYD!?
    A minha visão e entendimento da importância da padronização em um ambiente industrial se deve ao fato de convívio diário em uma instituição pública na minha vida profissional nas quais as diversidades de componentes e equipamentos técnicos são dezenas de vezes superior a linhas metrô ferroviárias.
    Não podemos falar economia na construção e manutenção quando se faltam a noção de uniformidade e racionalização dos componentes construtivos, manutenção e operação, pois sempre que coloco minhas opiniões me baseio na experiência cotidiana da minha vida profissional na área de engenharia, pois trabalho em uma grande empresa estatal e lido diariamente com especificações e dai esta minha insistência da importância do planejamento e padronização, que comprovadamente sempre produz benefícios futuros.

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