Após um longo período em que surgiram diversas teorias sobre seu interesse em reativar o projeto da Linha 18-Bronze de metrô, a fabricante chinesa BYD se pronunciou oficialmente sobre o assunto nesta quinta-feira, 23. A empresa negou que tenha apresentado um projeto para resgatar o ramal de monotrilho, cancelado pelo governo de João Doria em julho do ano passado. Também fez questão de frisar que não propôs se responsabilizar por eventuais desapropriações do projeto, um dos argumentos usados pela atual gestão para justificar o fim da PPP com a concessionária VEM ABC.
“No dia 19 de junho, a BYD representada pelo Gerente de Novos Negócios, Alexandre Liu, participou de uma reunião com o Consórcio Municipal ABC. Durante o encontro, nenhum projeto foi apresentado para retomar a linha 18. A BYD Brasil apenas se colocou à disposição para colaborar em uma eventual parceria com o Consórcio VEM ABC, sem ter ciência de quais condições este contrato se encontra“, diz nota enviada ao site. “É preciso deixar registrado que a BYD também não afirmou que se responsabilizaria pelas desapropriações e os custos financeiros para viabilizar o projeto mencionado“, completou o texto da empresa.
Há algumas semanas, o site tem tentado ouvir diversos atores desse processo, mas sem muito sucesso. O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, cujo presidente, o prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão, tem capiteneado o esforço para retomar o projeto, foi contatado por nós, mas até o momento não retornou nossos questionamentos. Segundo uma pessoa a par das tratativas e que pediu para manter seu nome no anonimato, a reunião com o secretário do Desenvolvimento Regional do estado, Marco Vinholi, foi marcada pelo consórcio, que convidou a BYD para mostrar que o monotrilho seria viável e a melhor opção diante dos atrasos e dificuldades da Secretaria dos Transportes Metropolitano em levar à frente o projeto do corredor de ônibus BRT, que até hoje não teve seus detalhes revelados.
No encontro, o funcionário da BYD teria apresentando um vídeo com imagens aéreas de drones e também material da própria VEM ABC, mas nenhum plano detalhado teria sido mostrado ao secretário Vinholi, apenas que havia interesse da empresa chinesa em ajudar a viabilizar o projeto original. E como seria feito? Segundo a fonte, por meio de intermediação de possíveis financiamentos apenas, sem qualquer contrapartida da fabricante seja em desapropriações ou participação na VEM ABC, como chegou a ser veiculado.
Por falar nisso, esse é outro ponto polêmico na história trazida em primeira mão pelo jornal Diário do Grande ABC no começo do mês. A BYD nunca teria cogitado fazer uma proposta para os sócios da concessionária que venceu a concorrência do ramal em 2014. O que houve, segundo o funcionário ouvido, é o interesse em ser fornecedor de material rodante da Linha 18 já que a situação da Scomi, que foi contratada originalmente pela VEM ABC, já era grave há alguns anos.
Contrato de concessão ainda vivo
Embora possa frustrar a expectativa dos defensores da Linha 18, incluído este blog, que defende a prioridade para linhas metroferroviárias, fato é que os rumores que se espalharam não ajudam a uma eventural revisão dos planos de governo. No entanto, isso não significa que o governo Doria tem uma grande chance de corrigir um erro imperdoável de pela primeira vez na história de São Paulo cancelar uma linha metroviária que estava contratada.
Por falar em contrato, o site tentou ouvir outras instâncias do governo a fim de esclarecer outra informação que circulou nas últimas semanas, a de que a VEM ABC ainda não chegou a um acordo para a rescisão da concessão, como a própria empresa afirmou recentemente. Quando questionado em suas redes sociais, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, insistiu em afirmar que a Linha 18 já não existia mais e que esse assunto caberia à Procuradoria Geral do Estado, órgão jurídico que analisa os contratos públicos.
Em resposta enviada ao site, a assessoria de imprensa do órgão confirmou que a tratativas com a VEM ABC seguem: “A Procuradoria Geral do Estado de São Paulo está analisando o processo administrativo instaurado pela Secretaria de Transportes Metropolitanos referente à resilição unilateral do contrato de Parceria Público Privada (PPP) com a concessionária VEM ABC“.
Ou seja, a rescisão do contrato ainda não ocorreu, o que em tese significaria que a decisão do governo poderia ser revertida por um fato novo. Como se deduz, há sim interesse de um grupo empresarial em viabilizar o projeto, além da própria VEM ABC, que nunca concordou com a rescisão unilateral.
O renascimento do interesse de políticos da região do ABC Paulista, com exceção do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (adepto do ônibus), também é um bom sinal de que a proposta do BRT não foi unanimidade mesmo no meio político. Como tem ficado mais claro a cada semana que passa sem que o governo do estado apresente qualquer evolução no suposto projeto, a ideia do corredor de ônibus no lugar do monotrilho não passava de um ‘rascunho’ como justificativa para o fim da linha de metrô.
Esse triste episódio só reforça a crença de que planejamento do transporte público deve ficar longe da política. O modal de monotrilho teria “caído de páraquedas” no Metrô, bancado por projeções fantasiosas da gestão Serra e acabou sendo implantando de forma atabalhoada a ponto de uma década depois ainda esperarmos pelo seu funcionamento pleno na Linha 15-Prata. Mas isso não impediu que outros dois projetos fossem licitados ainda em meio ao aprendizado a respeito do sistema.
Não há dúvida que a pressão político-eleitoral na época precipitou os problemas hoje vividos pelo monotrilho, que ainda aguarda a chance de provar se é de fato um modal capaz. Essa resposta está perto de ser conhecida. Com a maturidade no processo de construção e operação desse sistema, novos projetos podem ganhar em celeridade eficiência. Jogar no lixo esse aprendizado é algo inconsequente.
Por isso, ao afirmar que São Paulo não terá mais monotrilhos, como fez Baldy também nesta quinta-feira, repetem-se os mesmos erros de quem os lançou sem os estudos adequados. Quem tem que decidir qual é o sistema adequado é o Metrô e seu corpo técnico e não políticos cuja passagem pelo cargo é breve, mas o estrago deixado, duradouro.
Excelente matéria Ricardo. Infelizmente vivemos no governo que se alto-declara “Gestor Eficiente” mas não tem um pingo de visão de futuro. Dória/Baldy está sendo uma das piores gestões da história de SP. Como pode dar prioridade pra corredor de ônibus?
O que se podia esperar de um “gestor” que queria oferecer ração feita de comida estragada na merenda escolar das crianças?
Concordo plenamente, inclusive Alexandre Baldy é o pior secretário de transportes que este estado já teve, além ser um grande mau caráter, lembro perfeitamente numa Live com esse cidadão com ele mentindo e ainda dando risada. Gostaria muito que na minha vida eu pudesse ficar cara a cara com ele, iria falar tudo o que está “entalado”
Não fala mal do Sr. Dorinha que o IVO fica triste.
kkkkk, o Ivo vai falar que BRT é melhor que monotrilho e que monotrilho é um modal ruim. Isso que quando a gente detona o monotrilho da linha 15 ele diz que é um modal maravilhoso e melhor do que BRT.
essa historia cada dia que passa está mais estranha. deveria haver mais transparencia, pois se trata de algo de interesse publico. no entanto, concordo com o autor do texto quando diz que, agora que o metrô comçea a dominar o conhecimento sobre o monotrilho, o mesmo é descartado.
Inclusive o pateta do secretário, afirmou categoricamente que não haverá mais porjetos do monotrilho…ou seja enquanto tivermos “jestor” e sua trupe podemos esperar mais corredores de ônibus com nome bonitinho pra enganar trouxas.
Moral da história: É pedir a Deus para que o BRT não saia do papel, e quem sabe na próxima eleição, umcandidato de melhor caráter que o Doria, o que é bem fácil, retome o projeto do monotrilho.
Conto os dias para esse desgoverno acabar e a linha 18 voltar com outro candidato.
Aí a iniciativa privada não quer participar de licitação de trilhos e tem toda a razão, pois se cancelam uma licitação concluída, como haverá segurança em investir…
Mesmo que a BYD não apresentou proposta, a responsabilidade continua sobre o GESP.
Aliás, se o negócio é fazer BRT, por causa do custo das desapropriações, logo, o mesmo não poderá ser BRT, pois pra se ter vias segregadas e “Estações” que permitam o embarque rápido (Tipo Expresso Tiradentes), a estrutura seria praticamente a mesma do monotrilho.
Logo, nem BRT teremos, será um corredor de ônibus, exatamente como são os da Metra.
Quem é do ABC sabe que o rio que passa na Avenida Guido Aliberti transborda com qualquer garoa, principalmente na entrada da Almirante Delamare, que não tem o muro de contenção, então no verão, pode esquecer de usar isso.
O impressionante é ver gente defendendo o BRT com unhas e dentes, achando que o “modal” será melhor.