Cauduro e Martino: A evolução da comunicação visual do Metrô de São Paulo

Dupla de arquitetos foi responsável por formatar a marca, símbolos e a design da comunicação dentro do Metrô de São Paulo. Mesmo após retrabalho por um escritório americano, muitas do trabalho original foi mantido
Cauduro e Matino, arquitetos responsáveis pela comunicação visual do Metrô
Cauduro e Matino, arquitetos responsáveis pela comunicação visual do Metrô

A comunicação visual é um importante elemento dentro do sistema metroferroviário. Para além da comunicação, a identidade visual e a marca são fatores icônicos dentro das estações da Companhia do Metropolitano de São Paulo, razão social do Metrô paulistano.

Nos anos 60 a dupla de arquitetos João Carlos Cauduro e Ludovico Antônio Martino deu forma e vida as estações brutalistas do Metrô de São Paulo.

Cauduro faleceu na semana passada aos 88 anos e foi lembrado pelas suas inúmeras criações, sobretudo o trabalho no Metrô.

Para rememorar os avanços obtidos ao longo de décadas, mostraremos a questão da comunicação visual no Metrô de São Paulo partindo do seu histórico, passando pela situação atual e traçando o prognóstico deste importante meio de comunicação.

Logo do Metrô elaborado por Cauduro
Logo do Metrô elaborado por Cauduro

O primeiro ponto a ser analisado é a questão da evolução histórica da comunicação visual do Metrô. Ao passar pelas estações do metropolitano o passageiro pode se deparar com diversos tipos de placas diferentes onde notadamente é perceptível as mudanças de design ao longo dos anos.

Elementos de comunicação visual (Cauduro e Martino)
Elementos de comunicação visual (Cauduro e Martino)

1º Padrão – Cauduro & Martino (década de 60)

O primeiro padrão de comunicação visual que foi elaborado para o Metrô foi desenvolvido pelos arquitetos João Carlos Cauduro e Ludovico Martino. O trabalho executado é bastante profundo e complexo, sendo inclusive utilizado na exposição da tese de Doutorado de Cauduro.

Este primeiro padrão é marcado pela criação da logomarca da Companhia do Metropolitano e a conceitualização inicial da identidade visual das placas das estações.

Conjunto de pictogramas originais do Metrô (Cauduro e Martino)
Conjunto de pictogramas originais do Metrô (Cauduro e Martino)

Na época havia diversas discussões sobre como a cor poderia ser implantada nas estações. Sugeriu-se em certo momento que cada estação tivesse uma cor diferente para que isso pudesse auxiliar os passageiros analfabetos, uma vez que no início dos anos 70 a taxa desse indicador era superior a 30%. O consórcio HMD orientou por desconsiderar a ideia uma vez que tal fator social poderia ser contornado a médio prazo.

Totem original da estação Paraíso com integração a Linha Norte Sul (Azul), Ramal Moema (Azul claro e Ramal Paulista (Verde) (Cauduro e Martino)
Totem original da estação Paraíso com integração a Linha Norte Sul (Azul), Ramal Moema (Azul claro e Ramal Paulista (Verde) (Cauduro e Martino)

O “Manual do Sistema Informativo do Metrô” chegou a ser entregue com cada estação identificada em uma cor diferente. O projeto inicial, porém, nunca foi implantado, mantendo-se em voga as versões mais padronizadas com a cor predominante da linha.  Abaixo há alguns detalhes da comunicação visual como placas e suas disposições nas estações.

Cauduro ainda foi responsável pela elaboração do primeiro mapa da rede metroviária com a presença das principais linhas desenvolvidas pelo consórcio HMD, as Linhas Norte-Sul e Ramal Moema, Leste-Oeste, Sudoeste-Sudeste e o Ramal Paulista.

Primeiro mapa da rede metroviária (Cauduro e Martino)
Primeiro mapa da rede metroviária (Cauduro e Martino)

2º Padrão – Unimark (década de 70)

O segundo padrão de comunicação visual foi elaborado pelo escritório Unimark nos Estados Unidos. Um dos arquitetos responsáveis pela elaboração do projeto foi Bob Noorda que já havia realizado trabalhos em outras redes metroviárias como é o caso do Metropolitano de Milão.

O projeto elaborado pela Unimark praticamente reutilizou o trabalho de Cauduro e Martino, aplicando alterações em alguns pontos como a tipografia utilizada (formato das letras) e a questão da identificação cromática nas estações.

Foi a comunicação da Unimark que formalizou a troca da fonte Univers para Helvética, principalmente por conta da falta de fornecedores de tal tipografia. A questão cromática foi fundamental nesta fase do projeto. Dentre os estudos realizados por Cauduro para a linha Norte-Sul estavam:

  1. Variação da cor azul para cada estação (escala)
  2. Cores totalmente diferentes para cada estação
  3. Cor branca e fosca com informações das linhas em pequenas faixas coloridas
  4. Duas faixas, uma com a cor da linha e a outra branca
  5. Duas faixas com dois tons de azul

A solução adotada foi a utilização de duas faixas azuis com tons diferentes para a Linha Norte-Sul. O projeto foi aplicado pela Unimark apenas na estação Praça da Árvore, enquanto nas demais estações coube ao Metrô realizar a implantação.

Como não foi elaborado um manual que padronizasse a nova identidade, neste período ocorreram problemas que culminaram na despadronização da comunicação originalmente instalada, fruto das pequenas alterações em métodos e materiais.

Comunicação visual da estação Sé (Metro SP)
Comunicação visual da estação Sé (Metro SP)

Na dissertação de mestrado de Olivia Chiavareto Pezzin que aborda o design de comunicação visual ressalta-se uma importante declaração de Bob Noorda se retratando por ter tomado a autoria do projeto original.

“Curiosamente, o novo projeto entregue pela Unimark era muito semelhante ao trabalho desenvolvido por Cauduro e Martino, tanto que o próprio Bob Noorda se retratou com os brasileiros por ter tomado para si a autoria do projeto em uma publicação japonesa”.

Dos elementos visuais elaborados por Cauduro e Martino estão a marca do Metrô, que mesmo após mais de 50 anos se mantém moderna, e os totens no formato de prisma triangular. Os arquitetos deixaram suas marcas em diversos ambientes e empresas da cidade de São Paulo, tornando o trabalho de ambos uma marca singular do design brasileiro.

Cauduro continuou atuando em outros projetos e chegou a desenvolver, no passado recente, um redesign da comunicação visual nas estações do Metrô e da CPTM. Alguns destes trabalhos podem ser visualizados em algumas estações da Linha 5-Lilás e 15-Prata por exemplo.

Padrão de comunicação visual antigo da estação Adolfo Pinheiro (Jean Carlos)

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2 comments
  1. O projeto original de Cauduro, com o mapa da linha integrado ao nome da estação, era muito mais bonito e sofisticado que o da Unimark. O mapa da linha que vemos hoje nas portas de plataforma é quase idêntico à sua ideia original.

    A escolha tipográfica por Univers teria deixado o Metrô desde o princípio com um aspecto mais moderno, limpo e preciso, especialmente quando as letras são vistas de perto, em relação à Helvetica, que tem um aspecto muito utilitário, genérico e desgastado pelo uso frequente, a ponto de ser confundida por qualquer leigo com Arial, que é um clone bem inferior. Não por acaso, a escolha de tipografia mais recente para a comunicação nas linhas é Frutiger, que veio do mesmo criador de Univers e com a qual mantém um parentesco próximo em estrutura e acabamento dos traços.

    Resta reformular visualmente o trecho da Linha 1 que adotou uma solução absurda e injustificável, desintegrada de todo o resto da rede, com e sinalização de plataforma branca e letras em Helvetica Rounded azul. Talvez seja a pior ideia relacionada ao design do Metrô em toda sua história.

    Outro equívoco que remonta ao projeto Unimark foi pintar as três primeiras linhas da rede em pares de tons, claro/escuro. No projeto de Cauduro está claríssimo que cada linha teria uma única cor sólida e os pares de tons se referiam especificamente aos dois serviços distintos presentes em duas das linhas que teriam ramais, com os trens indo ora para uma estação terminal, ora para a outra. A versão Unimark generalizou o par de tons para as quatro primeiras linhas e introduziu uma complicação que teve de ser revertida no final dos anos 90 de forma a abrir uma paleta de cores maior, que fosse aplicável às novas linhas que foram surgindo. E por suposto custa mais barato fabricar uma placa de sinalização com uma cor a menos.

    1. Não vejo a hora do metrô trocar as horríveis e grotescas placas brancas da linha azul, de todas os trocentos padrões que eles adotaram, esse é o mais feio e datado.

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