Escolhida pelo Metrô de São Paulo para fornecer 14 trens de monotrilho para a Linha 17-Ouro, a BYD é uma novata nesse tipo de modal. A gigante chinesa, mais conhecida por ser uma das maiores produtoras de baterias de íon de lítio do mundo, e também por sua atuação no mercado automobilístico e de energia, tem se destacado no Brasil no segmento de ônibus recentemente.
O projeto do monotrilho SkyRail, lançado em 2016 após cinco anos de desenvolvimento, no entanto, marcou sua entrada em um mercado que ainda não conseguiu se estabelecer como alternativa de transporte de média capacidade no mundo. A despeito de um número significativo de linhas de monotrilho operando, sobretudo na China, o modal desperta muitas críticas, especialmente do lobby de grandes grupos industriais ligados ao transporte rodoviário que tem vendido a ideia de que os corredores de ônibus podem fazer o trabalho de um sistema automatizado e segregado da malha urbana.
O SkyRail atualmente possui apenas uma linha comercial em funcionamento, na cidade de Yinchuan, na China. Com quase 6 km, o sistema possui uma via circular e fica dentro de um enorme parque de exposições da cidade. Além dele, a BYD montou uma pequena linha de testes em sua sede, em Shenzen, no sul do país. No entanto, a imprensa chinesa afirma que mais linhas do monotrilho da BYD deverão surgir nos próximos anos em cidades como Guilin, Guang’an, Shantou e Bengbu, que já teriam contratado a empresa.
Claro que em se tratando da China e seu capitalismo de estado, há que duvidar de algumas afirmações oficiais, porém, o SkyRail tem realmente potencial para ser implantado fora do seu país de origem. Por falar nisso, a primeira linha “internacional” do monotrilho da BYD será construída em Salvador. A empresa, em sociedade com a Metrogreen, venceu a licitação para a implantação do chamado VLT e que terá até trechos sobre o mar. As obras devem começar em 2020.
Mas o projeto da Linha 17-Ouro será um desafio para a BYD, a razão é que a fabricante terá de adaptar seu monotrilho para os padrões das vigas-trilho do ramal, construídas para receber os trens da Scomi, fabricante da Malásia que fazia parte do consórcio Monotrilho Integração, cujo contrato foi rescindido no ano passado. O projeto malaio utiliza, por exemplo, vigas mais largas que o da BYD, que possui mais semelhança com o equipamento da Bombardier.
Ao contrário de trens convencionais, onde existe um padrão maior nas composições e que são baseadas na bitola utilizada, o monotrilho pode sofrer mais variações de fabricante para fabricante, o que tem sido um aspecto negativo do modal. A largura da viga-trilho da Linha 17 é de 80 cm enquanto o SkyRail opera em vigas com 70 cm, ou seja, será preciso redesenhar diversos componentes e distribuí-los de forma semelhante aos do trem malaio. As vigas-trilho também recebem cabeamento e suportes para os diversos sistemas de operação e que também terão de ser reposicionados caso o da BYD tenha uma solução diferente.
Semelhante ao Innovia
Em imagens divulgadas na China, o interior do SkyRail lembra muito o do Innovia 300, da Bombardier, que é usado na Linha 15-Prata. Em ambos, a disposição dos assentos é a mesma, com fileiras nas laterais dos vagões e próximo à passagem entre eles. Nos dois modelos o conjunto de eixos ficam localizados justamente próximos à ligação entre os vagões enquanto no trem da Scomi ele é situado no centro de cada carro e coberto por assentos.
O trem da BYD também tem janelas mais elevadas que o Bombardier e portas com área envidraçada menor que o modelo canadense. Imagens de divulgação mostram painels de LED ao lado das portas que podem ser usado para informações ou publicidade, além mapa digital acima delas como nos trens da Série 2500 da CPTM. Os vagões possuem uma largura de 3,15 m, um pouco mais largo que o Innovia.
Assim como o trem da Linha 15, também o SkyRail pode operar com UTO, sigla em inglês para “Unattended Train Operation”, a grosso modo, operação do trem sem maquinista. Apesar disso, a cabine de comando do monotrilho é segregada dos passageiros, ao menos na versão chinesa. Possivelmente os requisitos técnidos do Metrô devem suprimir essa divisão em favor de mais espaço para os passageiros. Assim como em outras linhas mais novas, a 17-Ouro também usará o sistema de sinalização CBTC com GoA4, em que a movimentação da composição, abertura e fechamento das portas e operação em situações de emergência são feitas de forma automática e remota.
Autonomia
Com seu know-how em baterias de alta capacidade, a BYD equipou o SkyRail com um sistema de emergência a bordo de todos os vagões que é capaz de movimentar o monotrilho até a próxima estação em caso de falta de energia elétrica na via. Normalmente, nessas situações é necessário rebocar a composição com um veículo externo. A fabricante afirma que seu modelo possui alta eficiência energética, com uso de frenagem regenerativa e possibilidade de equipar subestações de energia com paineis solares que reduzem os custos de operação.
É claro que o equipamento da BYD terá de provar na prática ser uma boa opção para o ramal da Zona Sul. Um dos aspectos negativos do trem da Bombardier tem sido o excesso de trepidação, que faz a viagem um tanto desconfortável. A empresa chinesa diz que o SkyRail possui um sistema único de suspensão com ajuste automático e capacidade de atingir velocidades elevadas. Outro desafio diz respeito aos chamados “track-switches”, equipamentos de mudança de via, que tiveram as bases de instalação desenhadas para receber equipamento da Scomi e terão de ser adaptados.
Prazo após a assinatura do contrato?
Após ver seu concorrente, o consórcio Signalling, ser desclassificado da licitação, a BYD aguarda a assinatura do contrato para fornecer os trens e sistemas da Linha 17, hoje a parte mais atrasada da obra que se arrasta há praticamente oito anos (os trabalhos tiveram início em abril de 2012). Por isso é impraticável pensar em prazo de conclusão por ora.
O consórcio derrotado tem base no Brasil e é liderado pelo empresário Sidney Piva, que assumiu o controle das empresas T´Trans e Bom Sinal, além de ser o principal sócio da Viação Itapemirim. Não se sabe ainda se ele entrará com algum recurso para impedir que a BYD assuma o projeto, mas coincidência ou não, o executivo viajou com a comitiva do governador João Doria para os Emirados Árabes nos últimos dias. Segundo, o jornal Folha de São Paulo, Piva pretende buscar investidores para seus projetos incluindo uma nova companhia aérea.
Para a BYD, no entanto, ainda será preciso provar que, apesar do gigantismo do grupo, ela é capaz de fornecer um produto confiável, eficiente e sobretudo de forma veloz para não atrasar ainda mais a abertura do ramal de pouco mais de 7 km. A empresa tem buscado oferecer o SkyRail mundo afora, incluindo até mesmo os Estados Unidos, país de cultura rodoviarista. Para os americanos, a BYD tem dito que já “mais de 330 km de trilhos e 22 sistemas em andamento, entre planejamento e projeto, construção e operação”. Espera-se que os projetos brasileiros sirvam em breve de vitrine positiva para empresa.
Eu só espero que o metrõ corrija o problema da trepidação na estrutura da linha 17 com o aprendizado que obteve na linha 15….e qdo inaugurar, não tenha a trepidação que tanto teve criticas e é incomoda.
São adaptações importantes que terão que ser feitas, mas creio que a BYD esta preparada para isso, tendo em vista que ela foi uma das duas empresas a apresentar proposta para a concorrência para a compra de monotrilhos que a linha de Mumbai fez no final do ano passado, linha essa que tem justamente os monotrilhos da Scomi. A outra foi a CRRC terceira colocada no certame paulista, portanto creio que tanto BYD como CRRC estão preparadas para substituir os monotrilhos da Scomi se assim solicitadas
Utopia pensar que esse será o futuro do transporte sob trilhos em São Paulo.
Se não consegue Resolver problemas simples com o que já tem em funcionamento. E muito menos terminar projetos de décadas sucateados e super faturados que nem saiu do papel.
O estado deveria se preocupar em cumprir o que já havia se comprometido a fazer. Aí após pensar em alternativas melhores e mais avançadas no setor. E de onde virá os investimentos? E quem irá beneficiar?
São questões pertinentes que tenho certeza que o estado não saberá responder.
acredito que o fato de o trem e as vigas serem mais largas, melhora um tanto a estabilidade da composição, pois a tendência é diminuir o “efeito pêndulo”. Além disso, a Bombardier não é exatamente uma empresa que se importa com a qualidade do vende ao Brasil…