A delação premiada do ex-diretor do Metrô Sérgio Corrêa Brasil, cujos trechos foram revelados pela grande imprensa nesta semana, colocaram uma imensa sombra de dúvida sobre inúmeras decisões tomadas pelas gestões dos ex-governadores José Serra e Geraldo Alckmin na expansão da malha metroviária em São Paulo.
Segundo Brasil, houve um esquema de propinas e acordos de bastidores entre funcionários do Metrô, políticos do PSDB, DEM e PPS e as grandes construtoras como Odebrecht, Camargo Côrrea e Andrade Gutierrez para desviar recursos e ampliar gastos com os projetos das linhas 2-Verde, 5-Lilás e 6-Laranja. A ideia, de acordo com o ex-diretor, que foi responsável por intermediar esses interesses, era o de atrasar obras e alterar projetos para que gerassem mais caixa e, consequentemente, propinas que teriam sido repassadas para políticos.
Além da corrupção em si, as revelações de Sérgio Brasil têm o potencial de acabar com a credibilidade da Secretaria dos Transportes Metropolitanos e do próprio Metrô e CPTM. E a razão é simples: caso sejam comprovados os supostos desvios, como aceitar uma decisão técnica da pasta sem pensar se isso não pode ter uma motivação obscura novamente? Como garantir que a escolha de um tipo de modal ou mesmo uma modalidade de licitação não foi “contaminada” por interesses pouco republicanos?
Mesmo alguns projetos que estão sendo retomados pela gestão de João Doria tiveram seu início na época em que Sérgio Brasil relata os casos de propina, que foram de 2004 a 2014, segundo o ex-diretor. Um dos projetos, aliás, é a Linha 6-Laranja de metrô pesado.
Originalmente tocada como uma obra convencional em que os lotes seriam licitados separadamente e a operação seria do Metrô, o ramal acabou sendo alterado para uma PPP (Parceria Público-Privada) mesmo com boa parte do trabalho já feito. A mudança, vendida como uma saída mais eficiente e rápida para tirar a linha do papel, acabou se monstrando um desastre.
O leilão teve apenas um participante, nada menos que um consórcio que incluiu a Odebrecht, empresa mais notória na operação Lava Jato, e as igualmente enroladas Queiroz Galvão e UTC Engenharia. Como se sabe, desde 2013, quando ela sagrou-se vencedora, a obra mal andou e hoje vislumbra uma solução um tanto quanto nebulosa para variar.
Na delação, Sérgio Brasil afirmou que trabalhou para que a licitação fosse direcionada para o grupo vencedor e teria negociado para que o contrato fosse assinado logo para surtir efeito positivo na eleição de 2014.
O começo de tudo
Na Linha 5-Lilás, as informações reveladas pela imprensa não detalham a forma como ocorreu a influência da “parceria”, mas é sabido que a licitação, que teve o resultado antecipado pelo jornal Folha de São Paulo na época, foi reconhecida como fraudada pela Camargo Côrrea em 2017. A construtora, em acordo de leniência com o Cade, revelou um cartel para dividir os lotes da licitação que ampliou o ramal em 10 km entre o final da década passada e este ano.
Um dos aspectos mais estranhos da licitação envolve o chamado “Tatu Tênis Clube”, um grupo de empreiteiras que domina as escavações com tuneladores no Brasil e formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e a própria Camargo Côrrea. Não por acaso, os três “tatuzões” (daí o apelido) usados na obra foram contratados entre elas.
Mas mesmo com “experiência” nesse tipo de obra, os trabalhos demoraram muito mais do que o previsto, incluindo a utilização de uma tuneladora recondicionada que havia escavado os túneis da Linha 4-Amarela.
Mas as revelações que mais causam espanto são as da Linha 2-Verde. Segundo Sérgio Brasil, o Metrô fez 29 aditivos para manter um contrato assinado nos anos 90 e que previa outro traçado para o ramal, que o levaria até a estação São Caetano da CPTM. Mas o governo do estado na época acabou dando sequência ao contrato e alterou o percurso no sentido de Vila Prudente, de acordo com a delação.
O ex-diretor ainda afirma que a opção por fazer o trecho entre as estações Tamanduateí e Vila Prudente por via subterrânea teria sido um pedido das construtoras para aumentar o valor do projeto que deveria ter sido feito na superfície.
Melhor opção?
A grande pergunta para quem acompanha o desenvolvimento da malha metroferroviária em São Paulo é saber se, a despeito das revelações de Sérgio Brasil, as decisões de traçados dessas linhas ou método de construção foram corretas. Apesar de ter se tornado manchete em alguns jornais, a opção por levar a Linha 2 para a Zona Leste em vez do ABC tem se mostrado funcional. Sem dúvida, facilitaria a vida dos usuários da região, mas ao seguir para a Vila Prudente a linha Verde também se prestou a melhorar a mobilidade para muitos habitantes e foi fundamental para que a Linha 15 pudesse sair do papel.
Mas é fato que muitos argumentos ditos técnicos ou financeiros acabam sendo colocados em xeque caso as revelações sejam confirmadas pela Justiça. Como acreditar em uma PPP caso a Linha 6 tenha sido uma gigantesca operação para beneficiar empresas e políticos? Ou como garantir que a utilização de um método de escavação como o feito por um “tatuzão” é realmente necessária sem deixar de desconfiar que por trás disso pode haver um acerto para reduzir a concorrência?
Talvez pior do que tudo seja assimilar o fato de que muitas obras que se arrastaram por anos a fio podem ter sido retardadas propositadamente e não pelos repetitivos pretextos de licenças ambientais, desapropriações ou por conta do tempo ruim, uma das desculpas mais recorrentes de políticos. Tempo ruim, só mesmo para quem ainda sonha com um país mais justo e uma classe política decente.
Os citados na delação negaram qualquer irregularidade e o Metrô afirmou ser o mais interessado na apuração de todos os fatos, conforme reportagens publicadas pelo G1, Folha e Estadão, terapara citar alguns veículos.
Só uma dica “sob trilhos” significa “embaixo dos trilhos”. O título desse post está errado.
Bem observado, falha nossa…obrigado por avisar!
Complicado isso daí.
Que seja tudo investigado.
Agora sobre o traçado da L2, evidentemente que ir para Vila Prudente beneficiou muito mais uma população desassistida pela rede metroferroviária do que ir para SCS.
Eu fico pensando o que deve ter rolado por trás dos panos para não terem estendido a linha verde sentido São Mateus naquela época.
Optaram pelo monotrilho.
Talvez hoje faça algum sentido: a expansão da L2 até a Dutra desafoga a saturada linha vermelha e conectar o monotrilho ao Ipiranga vai desafogar a linha verde no futuro.
Em síntese é o que todo cidadão sempre desconfia: quando há atraso e aditivos é porque provavelmente há propina que motive por trás… Triste.
Deodoro da Fonseca apenas anunciou a República em 1889, até hoje aguardamos ela ser instaurada de fato.
É um escárnio mesmo a situação. Enquanto muitos (incluindo leitores sobre o tema é jornalistas) se debruçam ele compreender aspectos técnicos que justifiquem uma mudança de traçado ou ainda a modificação de um modal por outro, isso é só uma cortina de fumaça para objetivos escusos.
Torço muito para estar enganado, mas está é minha sensação com a Linha 18 -Bronze. Até agora não apresentaram NADA dizendo que justificaria cancelar o Monotrilho, o que me leva a suspeitar é que estão tentando, a todo custo, buscar algo que de razão a ausência de argumentos deles. O grande ABC possui um peso muito forte no que diz respeito a concessões de ônibus, sendo que apenas para pontuar, faz mais de 7 anos que estão tentando licitar as linhas da EMTU, mas sem sucesso algum. Enquanto isso, as linhas são operadas por permissão, sendo que a fiscalização e exigências são muito mais flexíveis.
É preciso sempre estar atento a tudo. O sindicato dos ferroviários havia apontado que a concessão do monotrilho da Linha 15 – Prata também era direcionado. Não deram bola e o que se viu, na prática, foi apenas uma empresa oferecendo lance, como ocorreu na PPP da Linha 6 – Laranja.
Mas infelizmente questões como essas não são novas. Basta lembrar que José Serra declarou em alto e bom tom que atuou politicamente para “travar” o Trem de alta Velocidade que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro. Basta ver aqui:
https://m.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1558529-em-sp-serra-diz-que-atuou-para-atrasar-trem-bala.shtml
Não há como não lamentar tudo isso. São mandos e desmandos somente baseados em interesses e que nos deixam a Deus dará.
Meu caro (e chará), há muita sujeira por debaixo dos panos.
Veja essa matéria:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/time-de-futebol-linha-de-metro-e-autopecas-fazem-parte-do-imperio-dos-donos-de-onibus.shtml
Segunda a matéria, há empresa de ônibus por trás de concessão das linhas 5 Lilás, 4 Amarela e 15 Prata.
Sobre a Linha 18 Bronze, a dúvida fica no ar: será que as empresas de ônibus teve peso na decisão de acabar com o monotrilho e ao invés dele colocar um corredor de ônibus?
Veja, se há estudos que indiquem uma demanda menor (e que até hoje não foram apresentados, se é que existem mesmo) porque então não foi apresentado um projeto de VLT (vide o caso de Santos, poderia ser inspirado nele).
VLT é seguro, não emite gases poluentes, é pontual, é mais espaçoso e confortável do que um BRT e poderia igualmente ser implantado ao nível da rua, não necessitando de construir via elevada como o Monotrilho.
Mas não, preferiram acabar com o Monotrilho e colocar um corredor de ônibus…
É nessas horas que as ditas “conspirações” que alegam interferência dessas ditas empresas fazem algum sentido…
Que o povo paulista aprenda a nunca mais votar em candidatos que colocam interesses escusos a frente da necessidade real da população.
Eu simplesmente não entendo o que aconteceu com os habitantes do ABC Paulista, e muito menos com os deputados estaduais e vereadores que venceram prometendo tirar do papel a Linha 18 – Bronze, que não criticaram/criticam e não indagaram/indagam o Governo do Estado sobre tal alteração de modal. É impressionante também que os fanáticos por ônibus não consigam enxergar que: ônibus é responsável e indicado para transportar uma baixa capacidade de usuários, e não média e alta como alguns apontam que é possível se fazer. É apenas indicado em regiões que não seja possível implementar um sistema de média e alta capacidade.
O maior problema atual da mobilidade urbana brasileira – que vem desde o século XX – é o rodoviarismo. Construção de rodovias em detrimento das ferrovias, troca de modal metroferroviário por um rodoviário. É óbvio e constatado empiricamente que o metrô atraí usuários, mesmo aqueles consolidados com outros meios de transporte, porque esse modal é mais rápido, eficiente e confortável (mesmo com lotações em horários de pico).
É errônea a decisão de se cancelar a linha de metrô por um corredor de ônibus, é irracional a concordância dos usuários com tal decisão e é retrógrado a continuação do rodoviarismo brasileiro. Um Governo que venceu com um discurso de aumentar a malha ferroviária no Estado de São Paulo, só aparenta estar enganando seus usuários e condenando-os a continuarem andar de ônibus.
Sobre a mudança de traçado da L2, tem coisas citadas que deixam um grande ? na cabeça, mesmo isso n mudando o fato de ser um grande desacato contra a população.
A L6 a gnt já viu q está a caminho de dar ruim novamente, agora so espero que a justiça faça seu papel e que isso não atrase a expansão do metro.
Apenas lembrando que ainda se trata de uma DELAÇÃO, isto é, ele tem de apresentar as provas do que está dizendo. Digo isso pra ninguém ir já condenando tudo e a todos!!!
Espero que tudo seja esclarecido e principalmente divulgado ao final da investigação!!!!