O cenário de abandono de alguns canteiros de obras espalhados por São Paulo ainda existe em algumas regiões, mas é visível também que algumas linhas de Metrô e CPTM estão agitadas, com evolução nítida para quem passa por elas. São cúpulas de acesso surgindo, prédios tomando forma, vigas sendo içadas e trens novos começando a circular, entre outros sinais de que algo está diferente na paisagem.
E está. A cerca de um ano da possível descompatibilização do cargo, o governador Geraldo Alckmin quer inaugurar vários quilômetros de linhas férreas na cidade, já mirando as eleições presidenciais de 2018. O cálculo é simples: até 04 de abril ele poderá inaugurar essas obras sem ferir a legislação eleitoral. Após isso, se quiser disputar o cargo precisará se afastar embora ainda possa aproveitar o embalo das inaugurações indiretamente.
Por isso o ritmo acelerado das obras faz muita gente pensar que elas só andam bem perto de eleições. De fato, há uma certa coincidência entre anos eleitorais e inaugurações – até porque muitas ocorrem sem que o trabalho esteja de fato encerrado. No caso das linhas em construção em São Paulo não dá para afirmar com certeza que tudo está funcionando agora porque mira a eleição ou se, depois de vários anos com atrasos e problemas, enfim essas obras entraram nos eixos. Parece ser um pouco dos dois.
Pressão
O maior exemplo dessa nova situação é a Linha 15-Prata. O monotrilho da Zona Leste, depois de um período vagaroso, avança em ritmo alucinante. Todas as semanas novas vigas são lançadas, coberturas das estações montadas, assim como passarelas e plataformas. É verdade que isso só pode acontecer após o desvio do córrego da Moóca ser resolvido, mas a forma como as estações São Lucas e Camilo Haddad surgiram do nada é a prova de que obras públicas podem sim ser velozes se houver interesse – o problema é o tipo de interesse.
No ritmo em que se encontra não é exagero dizer que veremos os trens do monotrilho circulando em testes em alguns meses. A previsão de inauguração de oito estações? Março de 2018, ou seja, dias antes do fim do prazo de descompatibilização.
A outra linha que é vitrine eleitoral para Alckmin é a 5-Lilás. Prestes a ser concedida à iniciativa priva, a linha deverá ganhar um novo trecho de 11 km que a conectará às linhas 1 e 2. A promessa do governador é entregar nove das dez estações até o final de 2017. Como a complexidade aqui é imensa é bem provável que o serviço até lá seja apenas com algumas viagens controladas – a abertura em horário integral só deverá ocorrer no segundo semestre de 2018, em nossa estimativa.
A Linha 13-Jade, da CPTM, que o antigo secretário de Transportes Metropolitanos disse ser possível entregar em 18 meses (a tempo da Copa de 2014), agora está visível para quem passa pelas rodovias Ayrton Senna, Dutra e Hélio Smidt. A inauguração só deverá ocorrer no segundo semestre de 2018, mas será ‘inaugurada’ parcialmente antes disso.
Até mesmo a Linha 4-Amarela, uma das mais criticadas obras do governo, enfim progride como se esperava. Duas estações devem ser entregues até o final de 2017 e a terceira, ainda antes da eleição do ano que vem, algo que já deveria ter ocorrido mas no pleito de 2014.
Calcanhar de aquiles
Mas nem tudo é otimismo. Das nove linhas prometidas por Alckmin nada menos que cinco ficarão para a próxima gestão inaugurar. A Linha 17-Ouro, monotrilho também previsto para a Copa, voltou a ter suas obras em bom ritmo, porém, há muitos trechos indefinidos o que deverá jogar sua inauguração para 2019 no mínimo. A Linha 9 da CPTM, cujas obras de duas estações pararam no final do ano, também está praticamente fora do radar, sem que haja uma nova licitação para completá-las.
Pior que isso são as três linhas licitadas, mas que não saíram do papel. A Linha 6-Laranja, que já tinha parte das obras em andamento, está parada desde setembro do ano passado. Espera-se alguma definição no segundo semestre, mas a conclusão só deverá ocorrer na próxima década. Já as Linhas 2 e 18, licitadas, não devem ser lançadas por Alckmin tão cedo já que faltam recursos para isso.
Além do esforço em entregar esses quilômetros de linhas próximo a eleição, há de se reconhecer que vários obstáculos para que essas obras avançassem foram resolvidos nos últimos meses. O governo teve que contornar vários rompimentos de consórcios que acabaram exigindo novas licitações ou, na melhor hipótese, chamar outros participantes desses certames. A operação Lava Jato também deixou algumas construtoras abaladas e os famosos aditivos e pedidos de “reequilíbrio financeiro” tão comuns passaram a ser negados. Para completar, o governo viu a arrecadação cair e impedir novos investimentos.
Embora aproveitada pelo momento eleitoral, a ampliação do Metrô e CPTM deve colocar a rede num patamar inédito capaz de, se não resolver, amenizar a deficiente mobilidade da Grande São Paulo. É uma boa notícia, mas que merecia ter sido dada há bastante tempo.
Com a crise econômica que a Dilma e o PT jogaram o país, e com a dificuldade de crédito gerado pela baixa classificação dada pela Secretaria do Tesouro Nacional, sem justificativa, fica impossível manter os investimentos. Mesmo assim, São Paulo é o único Estado que continua a fazer grandes obras como a expansão da malha metroferroviária. Se o governo federal ajudasse e se não tivesse a crise econômica, a maioria das obras já estariam prontas.