Em apresentação, CPTM traz mais detalhes sobre o Trem Intercidades

Ligação entre São Paulo e Campinas deverá ser realizada por dois tipos de serviços. Jundiaí deve perder extensão da Linha 7 por novo trem metropolitano
Trem biodiesel usado na Florida: governo deve evitar eletrificação da região entre Jundiaí e Campinas (Brightline)

Durante o evento Arena ANTP, organizado pela Associação Nacional de Transportes Públicos, o presidente da CPTM, Pedro Moro, e o coordenador da Coordenadoria de Monitoração das Concessões e Permissões da Secretaria de Transportes Metropolitanos, Michael Sotelo Cerqueira, realizaram uma apresentação em que foram apresentados mais detalhes sobre a concessão que dará origem ao Trem Intercidades entre São Paulo e Campinas e que possui previsão de chegar à Americana.

Embora muitas informações já fossem conhecidas ou sugeridas pelo governo, os dois representantes da gestão Doria detalharam algumas propostas em estudo para a implantação do serviço de trens regionais. O quadro apresentado por eles reforça a impressão de que o governo pretende modelar uma concessão à iniciativa privada que exigirá um investimento baixo se comparada às propostas anteriores, ainda na gestão do ex-governador Geraldo Alckmin.

Nos primeiros estudos, o TIC, como também é chamado, deveria ser um trem com propulsão elétrica e que circularia em vias novas em sua maior parte a fim de reduzir o tempo de viagem. Mas os altos custos de desapropriações e o investimento nas vias e sistemas foram considerados impraticáveis. Desde então, tem se pensado numa solução mais simples e que exija o mínimo de modificações no atual traçado utilizado pela Linha 7-Rubi e pelos trens de carga.

A gestão Doria foi além e cogita não eletrificar o trecho a partir de Jundiaí como forma de baratear o projeto. É esse cenário que a apresentação de Moro e Sotelo revela. Confira a seguir como deverá ficar o serviço sob trilhos nesse eixo:

Linha 7-Rubi

O ramal da CPTM será concedido em conjunto com o Trem Intercidades. Como os serviços compartilharão parte das vias e estações, a ideia é aproveitar a sinergia com uma mesma empresa administrando todo o trecho. Mais importante que isso, a Linha 7 torna a concessão mais atraente por envolver um volume muito grande de passageiros – hoje quase meio milhão de pessoas usa o ramal diariamente.

No entanto, a absoluta maioria embarca a partir de Francisco Morato em direção à Luz. Já o trecho no sentido Jundiaí tem baixa adesão pela lentidão da viagem até São Paulo, por isso a apresentação dá a entender que esse trecho da Linha 7 seria suprimido e trocado por um novo serviço metropolitano entre Francisco Morato e Campinas, com paradas nas cidades de Louveira, Vinhedo, Valinhos e também Jundiaí. Se esse entendimento estiver correto, um usuário que queira seguir para a capital pelo serviço metropolitano tomará um trem até Francisco Morato e trocará de trem, como já ocorre hoje quando a composição não segue até São Paulo.

O esquema de vias proposto pelo governo

Serviço Metropolitano Francisco Morato-Campinas

Eis aí talvez o grande mistério dos planos do governo. Para criar esse serviço parador será preciso acessar o trecho que hoje é administrado pelas concessionárias de carga Rumo Logística e MRS Logística. Existem atualmente duas vias entre Jundiaí e Campinas, uma usada pelos trens de carga e outra em estado precário. A ideia é que o serviço parador utilize uma delas, com um trem indo e voltando pela mesma via, ou seja, os intervalos seriam altos no início do serviço. Entre Francisco Morato e Jundiaí o serviço seria normal, realizado por duas vias com uma das viagens seguindo até Campinas, provavelmente.

A questão aqui é que a partir de Jundiaí não existe eletrificação das vias e tudo leva a crer que a gestão Doria não cogita instalar essa infraestrutura já que tem sugerido que deverá usar trens com propulsão por biodiesel no TIC. Ou seja, talvez a concessionária acabe utilizando dois tipos de composições nesse serviço, a atual elétrica e a nova a biodiesel. Ou, então, dividir o ramal entre um trecho eletrificado e outro com uma composição movida a motor por combustão.

De qualquer forma, será um serviço com intervalos mais altos e demanda menor com o objetivo de conectar as regiões de Jundiaí e Campinas, e futuramente talvez Americana.

Trem Intercidades – Serviço Expresso

O grande chamariz da concessão é claro será o trem expresso entre Campinas e São Paulo, com parada em Jundiaí. Para viabilizá-lo será preciso segregar a via de carga e as duas vias da Linha 7-Rubi e criar uma única via para o TIC e não duas, como seria mais adequado. A solução pensada pelo governo é criar o chamado “bypass” em alguns trechos do trajeto, ou seja, locais onde as vias seriam duplicadas para permitir que mais trens circulem.

Essa duplicação parcial ocorreria nas regiões mais movimentadas como entre Barra Funda e Pirituba, de lá até Francisco Morato, e por fim até Jundiaí. Já o trecho Jundiaí-Campinas permaneceria com apenas uma via e nos mesmos moldes do serviço metropolitano, ou seja, com uma composição indo e voltando nos moldes de uma extensão operacional. A proposta prevê também que a concessionária possa disponibilizar viagens do TIC partindo de Jundiaí para São Paulo também.

Para viabilizar esse esquema de operação será preciso criar uma nova via para os trens de carga desde São Paulo até Campinas. Para o TIC, já há atualmente uma terceria via entre Barra Funda e Pirituba, sendo necessário então estendê-la até Campinas. De forma geral, o trecho entre São Paulo e Jundiaí contaria com quatro vias completas e cinco vias em algumas regiões para o “bypass”. Já o trecho entre Jundiaí e Campinas, pularia de uma via para três trilhos.

Trecho Jundiaí-Campinas possui via hoje abandonada

Americana

A extensão até Americana, desejada por Doria, no entanto, tem chances mais remotas de existir a médio prazo. Segundo o mesmo documento, há uma dificuldade em relação às vias, que exigirão desapropriações para duplicá-las. O trecho é considerado de grande densidade de transporte de cargas e talvez não haja assim um volume de passageiros considerável para viabilizá-lo se o serviço não for realmente expresso.

Segundo o governo, serão cinco etapas até a assinatura do contrato: a aprovação do conselho de Parcerias Público-Privadas, audiências e consultas públicas, publicação do edital e entrega de propostas. Durante o evento, o secretário executivo da STM, Paulo José Galli, estimou que a audiência pública deverá ocorrer em janeiro, o que faz crer que a licitação do projeto possa ser realizada durante 2020, com possível início da concessão no final do ano que vem.

Competição com o transporte sobre pneus

O grande argumento do Trem Intercidades será ecológico, ao retirar veículos das estradas, sejam automóveis ou ônibus. Mas para isso será preciso uma tarifa acessível e de preferência com algum tipo de integração com as linhas de metrô e trens metropolitanos em São Paulo. Em outras palavras, o TIC precisa ser prático e rápido, com o passageiro chegando a seu destino sem burocracias ou custos extras.

STM fala em investimento em trens e melhoria nas vias, estações e sistemas, mas não esclarece quem será responsável por construir as novas paradas a partir de Jundiaí

Ser mais vantajoso que os ônibus não parece algo difícil. Hoje, a viagem entre Campinas e a estação Tietê custa pouco mais de R$ 30,00 e leva entre 1h30 e 2h, dependendo do período do dia. O governo estima que o trem expresso será capaz de cumprir esse mesmo percurso em uma hora até a estação Barra Funda. Ou seja, o trem terá que desenvolver uma velocidade média de 100 km/h, incluindo desacelerações em Jundiaí e Barra Funda, além do tempo de parada intermediário. Como se sabe, a atual faixa de domínio entre essas cidades é um tanto tortuosa e com restrições de velocidade, o que poderia aumentar o tempo de viagem em tese.

Em sua, o Trem Intercidades pode se tornar viável se o governo chegar à uma equação que some um investimento baixo para implantá-lo, uma tarifa atraente e um serviço minimamente superior ao ônibus. Se for mesmo uma concessão patrocinada, o valor da tarifa não fará diferença para a empresa privada, que será remunerada por passageiro transportado. Nesse cenário pode haver um subsídio dos cofres estaduais caso esse conta não feche já que o preço da passagem não pode ser alto de forma que não atraia demanda.

A grande questão sobre o TIC é se ele conseguirá tirar automóveis das rodovias. A viagem de carro nesse trecho é bem mais veloz que de ônibus, em que pese a chegada sempre demorada nos horários de pico em São Paulo. Mas de lá é possível seguir para qualquer lugar na capital, algo que a rede de trens ainda não cobre de forma adequada.

Se conseguir provar que é um modal rápido, confortável e seguro, o TIC tem boas chances de vingar, mas não parece uma tarefa tão rápida e fácil assim.

A grande questão a respeito do TIC é saber se conseguirá ser mais atraente que ônibus e automóveis (CCR)

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2 comments
  1. Esse é o típico projeto que aquela frase “só acredito vendo cai” muito bem. Parece haver pouca vontade por parte dos governantes em relação ao mesmo, sabemos que as concessionárias que administram rodovias tem um gigante Lobby Político.

    Vale lembrar que até a década de 90 ainda tinhamos uma malha ferroviária de respeito que foi covardemente sucateada propositalmente mediante a interesses políticos e empresariais. E agora que tentam reativar um trecho relativamente curto, parece que eles estão tentando fazer a oitava maravilha do mundo.

  2. Me pareceu uma operação complicada demais para algo aparentemente simples. Se é para operar com dois modelos de vias, o governo poderia cogitar as locomotivas “híbridas” diesel / elétricas da Hitachi que servem o sistema Intercity britânico.

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