Entenda o CCOx, projeto de modernização do Centro de Controle do Metrô de São Paulo

Centro nervoso que opera quatro linhas do Metrô, estrutura é alvo de licitação internacional que promete uma reformulação profunda no local
CCO Vergueiro passará pro obras de revitalização (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

O Metrô de São Paulo lançou na sexta-feira (26) uma licitação que envolve a reestruturação do Centro de Controle Operacional (CCO) da companhia, que abriga as equipes que monitoram e operam os quatro ramais. A concorrência internacional terá a sessão pública de recebimento de propostas em 6 de maio e o site mostra a seguir em detalhes o que será feito no local, considerado um dos pontos-chave para a boa imagem que goza o serviço.

O projeto do novo CCO se destaca por transcender apenas os aspectos técnicos, mas por expor de forma clara sua preocupação com a experiência do passageiro e do empregado. A consolidação de mais de 50 anos de operação e expertise, aliadas a uma visão futurista, será posta em prática no CCOx, através de uma verdadeira reformulação do sistema nervoso central da companhia.

Escopo e atuação

O CCO (Centro de Controle Operacional) é o local responsável por supervisionar e controlar o sistema metroviário em suas varias facetas e aspectos. Atualmente o Centro de Controle estabelecido na rua Vergueiro tem o controle direto das Linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. As demais linhas como 4-Amarela, 5-Lilás e 15-Prata possuem CCOs separados, mas com linhas permanentes de comunicação utilizadas para elaboração de estratégias em situações excepcionais.

As atuações do CCO estão focadas na operação dos trens com o controle do tráfego das composições nas vias e nos pátios, supervisão do fluxo de passageiros, supervisão do sistema de energia elétrica e de equipamentos auxiliares, controle e monitoramento da segurança pública e a divulgação de informações, sejam internas ou externas. É um local que, por essência, possui alto fluxo de informação com elevado grau de importância.

Conforme os anos foram progredindo, o fluxo de informações aumentou de forma que as estruturas atuais se tornaram defasadas em uma série de aspectos. Podemos citar o fator organizacional provocado pelo aumento de estruturas necessárias para o gerenciamento dessas informações causando, em certa medida, a despadronização e acúmulo de equipamentos.

O escopo do projeto básico prevê reformas nas instalações prediais, implantação e adequação de sistemas como os de ar-condicionado, iluminação, baixa tensão, bandeamento, alimentação elétrica, comunicação de dados, sistemas computacionais e gerenciamento de imagens incluindo um novo videowall. O mobiliário também será renovado com novos itens projetados sob medida para as novas instalações.

Conceito CCOx

Seria uma injustiça simplesmente falar apenas de meras obras civis tendo em vista que o novo CCO não se trata apenas de uma simples reforma pontual e paliativa. O novo CCO projetado pelo Metrô vai adotar em seu projeto novos conceitos que serão aplicados sobretudo no aspecto organizacional, incorporando inovações e novas ideias.

Mais do que uma requalificação física, o CCOx é uma requalificação de conceitos profundos que tem como base a experiência de todos os envolvidos na cadeia de transportes, desde o funcionário que opera um console de controle de tráfego até o passageiro que se desloca pelas linhas do Metropolitano.

Para compreender os conceitos que embasam o CCOx, é importante entender a história do CCO. Ele foi construido na década de 70 para o gerenciamento da Norte-Sul, atual Linha 1-Azul. Sua estrutura pode ser considerada bem segura, quase um bunker, seguindo uma linha de construções fortificadas. A ideia era criar um local plenamente livre de ameaças externas, uma vez que o fluxo de informações ali existentes possuía cunho estratégico no que tange a operação do sistema.

A formatação do CCO se manteve em bom estado por praticamente 20 anos quando, na década de 90, foi implantada a Linha 2-Verde. A partir desse momento novos equipamentos foram implantados de forma adaptada, uma vez que não era previsto alterações no layout original.

Tendo em vista essas mudanças, no ano de 1998 o CCO passou por uma reforma que teve como objetivo reorganizar os sistemas. Como se sabe, o salto tecnológico no novo milênio foi responsável por grandes mudanças no gerenciamento de informações. Por mais que o CCO não tenha necessariamente ganhado novas linhas para gerenciar diretamente, as novas tecnologias e sistemas computacionais forçam os funcionários a se desdobrarem em busca da melhor maneira de lidar com os dados a fim de conseguir operar o sistema metroviário com plena efetividade.

Não é preciso muito esforço para prever que uma simples obra só iria tapar um buraco que novamente seria reaberto pela torrente de dados e informações que urgem por uma boa alocação. É com esse pensamento que o CCO será reorganizado de forma a se tornar escalável. Também é necessário ressaltar que as mudanças não estão somente restritas à Sala de Operação, mas as estruturas adjacentes de apoio e de estratégia.

Os conceitos que subsidiam o CCOx estão alocados em duas bases:

CX – Customer Experience (Experiência do Passageiro)

O objetivo do CX é a melhoria e otimização das interações do passageiro com o sistema durante a sua entrada, na viagem e no pós viagem. Como o CCO é provedor de informações importantes, cabe a ele fornecer parte dessas informações para que os passageiros possam ter a melhor experiência de viagem possível.

EX – Employee Experience (Experiência do Funcionário)

O EX tem como premissa a soma de todas as experiências do funcionário, desde a fase de recrutamento, treinamento, operação, reciclagem e desligamento. A ideia é que a melhoria da experiência do funcionário, qualquer que seja sua atuação, reflete de forma direta na qualidade do serviço prestado.

Personificação do Metrô

Outra ideia que é bastante importante é a de personificação. Esse método consiste em atribuir valores e características de forma a criar uma espécie de pessoa, que representa a empresa e seus valores. Uma série de pesquisas foi realizada com os passageiros para definir qual seria o perfil da “pessoa Metrô” e quais as principais características que ela deve passar ao público. Os resultados podem dar uma dimensão do que o Metrô hoje representa.

Características da Persona Metro (CMSP)

Com fundamento na Persona Metro se faz um questionamento: “De que maneira o CCO, como edifício, pode contribuir para que o Metrô seja visto e percebido pelos passageiros da maneira desejada?” Apara responder esse questionamento foram elaborados os valores para o CCOx, esses valores representam a essência do novo Centro de Controle.

Valores e diretrizes do CCOx (CMSP)

Percebe-se que o projeto do CCOx não é apenas uma adequação para trazer o Centro de Controle para o 2021, mas para prepará-lo para o futuro. O que está se plantando hoje são as árvores de amanhã de forma que todo o espaço seja planejado para suportar toda a carga de novas informações que hão de surgir. Além de pensar no aspecto tecnológico também existe o inescapável aspecto humano. Em um mundo cada vez mais digital e rápido, todas as ações que reafirmem o cuidado com o ser humano, ora como passageiro, ora como funcionário, são dignas de méritos.

Setorização

Uma das características mais marcantes do CCOx será a reorganização dos setores visando otimizar os espaços existentes com as diversas funções que podem ser desempenhadas no local. Os espaços atualmente são divididos em 5 ambientes: Controle, Apoio, Visitação, Negócio e Técnico.

Divisão do CCO atualmente (CMSP)

A reestruturação leva em consideração todos os seis fatores conceituais do projeto do CCOx: Contemporaneidade, Escalabilidade, Segurança, Eficiência na Comunicação, Humanização e Flexibilidade. A distribuição das salas foi elaborada estrategicamente de forma a se criar barreiras naturais entre os espaços considerados mais públicos e os ambientes mais restritos. Sendo o coração desse grande sistema a Sala de Controle, a ideia é que todos os outros ambientes estejam correlacionados a ele em diferentes intensidades.

Setorização prevista para o CCOx (CMSP)

No fluxograma que será exposto a seguir podemos ver como as areas do CCOx interagem entre si. As graduações na escala do cinza mostram o nível de restrição de acesso, uma forma de manter o coração do sistema sempre livre de qualquer tipo de interferência. Devemos sempre lembrar que é na Sala de Controle onde toda a dinâmica do sistema metroviário ganha vida.

Fluxograma de interação a nível de acesso das áreas do CCOx

Ambiente de controle

O ambiente de controle é o local onde estarão centralizadas as áreas ligadas diretamente com a operação do sistema metroviário e segurança pública. É o local com maior restrição de acesso, pois lidará diretamente com as informações do sistema em tempo real, além de ser o local onde ocorrerão os processos de tomada de decisões estratégicas. Levando em consideração esses fatores, o Ambiente de Controle possui baixa interferência externa e uma acústica de boa qualidade, evitando assim reverberações pelo o ambiente e isolando o local de ruídos externos, ao mesmo tempo que não deixa passar para fora as informações discutidas em seu interior.

Ela é formada por 4 áreas de interesse sendo elas a Sala de Controle, a Central de Informações (CIN), Apoio Técnico e Sala de Estratégia. A Sala de Controle é a principal área deste ambiente onde estarão posicionados os consoles de operação e o novo videowall, um grande painel formado por um conjunto de 90 monitores de alta resolução que darão insumos em tempo real para os operadores do sistema. A configuração do local possibilitará a escalabilidade dos postos com eventuais modificações que possam vir a ser efetuadas posteriormente. Os consoles são posicionados próximos ao painel do videowall de forma que seja garantida todas as condições de ergonomia dos funcionários que cuidam da operação e segurança pública.

As demais salas estão inclusas no ambiente de controle por questões estratégicas. Na Central de informações ficará alocada a equipe de relacionamento com o passageiro, na sala de Apoio Técnico ficará reservada para a equipe de engenharia e manutenção, por fim, a equipe de operadores e supervisores realizarão reuniões na Sala de Estratégia onde será definido o plano de ação para a operação no dia-a-dia.

Ambiente de Controle do CCOx (CMSP)

Ambiente de Negócio

O ambiente de negócios é a área com características mais institucionais do Metrô. Ela é composta por uma sala vitrine, uma sala de reuniões e coletiva de imprensa além de uma antessala que serve como apoio ou até mesmo como local para entrevistas informais. Na sala vitrine estão dispostos uma série de objetos históricos do Metrô. Todas essas salas possuem visão para a Sala de Controle, entretanto sua visualização pode ser limitada através de vidro polarizado em casos onde a pauta discutida nesse ambiente possa vir a apresentar um conteúdo de maior sensibilidade.

Ambiente de Negócios (CMSP)

Ambiente de Visitação

O ambiente de visitação, como o próprio nome sugere, é composta pelas áreas mais abertas do CCOx. A estrutura do local é propícia para que os visitantes e usuários possam usufruir de um espaço aconchegante e confortável. O espaço é composto basicamente pelo auditório onde podem ser realizadas diversas apresentações, um hall de visitação onde são realizados os coffe breaks e tambem onde há o acesso aos ambientes de negócio e apoio, além dos sanitários. Por fim temos o aquário de visitação, estrutura com vista privilegiada para a sala de controle. Assim como o ambiente de negócios, o aquário de visitação tambem conta com a presença de vidro polarizado para limitar a visão em casos de situações atípicas.

Ambiente de Visitação (CMSP)

Ambiente de Apoio

O ambiente de apoio contempla as áreas de circulação restrita apenas aos funcionários. Os acessos para este ambiente são controlados por duas portas, uma ao leste e outra a norte do CCOx. Neste local estão dispostos escritórios para a realização de treinamentos, hall de convivência, sanitários, vestiários e uma copa. A região dos vestiários possui paredes com uma disposição específica e leve levando em consideração a quantidade de homens e mulheres que venham a compor as equipes de trabalho no local. Através do ambiente de apoio os funcionários tem acesso tanto ao Ambiente de Controle como ao Ambiente técnico.

Ambiente de Apoio (CMSP)

Ambiente Técnico

O ambiente técnico é a área destinada para a alocação dos equipamentos vitais para o funcionamento do CCOx. A localização de cada equipamento é definida conforme a sua função de maneira a otimizar a alocação dos recursos. A sala de computadores por exemplo fica logo acima da Sala DTS, um ambiente no subsolo do CCO por onde chegam os cabos subterrâneos oriundos das vias do metropolitano. O corredor técnico existente atrás do painel do videowall está disposto de forma a garantir a manutenção dos equipamentos de video e tambem de equipamentos de rede necessários para a transmissão de dados aos sistemas correlatos. O sistema de ar-condicionado está localizado na ala norte e conta com um sistema de redundância em caso de falha do sistema principal. Sua localização é próxima a fachada para que seja possível a tomada de ar do ambiente externo.

Ambiente Técnico (CMSP)

Informações tecnológicas

O projeto do CCO contempla uma série de melhorias tecnológicas de grande importância. Neste artigo daremos foco em dois pontos principais: A virtualização e o painel de videowall.

A virtualização, em linhas gerais, visa retirar do ambiente de controle a maior quantidade possível de hardware. Todo o sistema computacional será instalado em uma grande sala de computadores que irá transmitir as informações do sistema virtual ao operador do console. Além dos ganhos com segurança, existe a possibilidade de atualização tecnológica sem que haja grandes impactos com o ambiente da sala de controle. A ideia é de que esse sistema tenha alta confiabilidade e disponibilidade. Como consequência dessas melhorias a própria temperatura do ambiente acaba diminuindo, exigindo menos esforço por parte do sistema de refrigeração do CCOx.

O painel do videowall é de longe a novidade mais chamativa. A ideia é instalar uma parede composta por uma série de monitores de video ao longo do fundo da sala de controle. Ao total serão 3 linhas de monitores compostas por 30 equipamentos, ou seja, serão 90 monitores utilizados para a composição do novo painel. Vale citar que os painéis deverão ter resolução Full HD (1080p) e um tamanho de 55″. Dessa forma as informações mais pertinentes para a operação do sistema estão disponíveis para todos os presentes dentro da Sala de Controle.

Prazos e Valores

A licitação será internacional e o valor do orçamento é sigiloso, sendo apenas revelado após a assinatura do contrato. A apresentação das propostas deverá ser feita até o dia 06 de maio de 2021 e o critério de julgamento será o de Menor Preço. O prazo para a execução dos serviços será de 24 meses (2 anos). Abaixo está o cronograma do projeto.

Cronograma de barras do projeto CCOx (CMSP)

Conclusão

Apesar de contar com muitos outros detalhes minuciosos, tentamos passar os principais pontos do projeto de revitalização do CCO do Metrô. Ao observar de perto a documentação técnica é possível ver o cuidado de cada ação e principalmente perceber que cada mudança atende a um critério específico que visa atender aos conceitos da empresa Metrô. Se temos uma grande exigência pelo lado tecnológico ao criar uma estrutura que seja capaz de se expandir, tambem temos a mesma exigência em relação ao lado humano das relações de trabalho que existirão naquele ambiente, considerando inclusive os seus impactos ao passageiro. Não é toda empresa que pensa na experiência do funcionário como um fator de qualidade do serviço. Se existe uma forma de definir o CCOx, poderíamos dizer que é uma nova experiência de qualidade para o funcionário e para o passageiro.

Projeto do CCOx (CMSP)

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4 comments
    1. Não existe previsão ou projeto para a concessão das Linhas 1,2 e 3. O novo CCO está sendo formatado levando em conta esse cenário..

      1. Ou seja, as três linhas tem que ser vendidas juntas porque estão amarradas pelo CCO. Ou assim imaginam os burocratas que assim vão impedir a venda das linhas.
        Outra coisa ; CCO centralizado é uma concepção ultrapassada. A tendência mundial são CCO s menores , descentralizados e automatizados ao máximo, precisando menos gente para operar, até por questão de segurança. Vide os metrôs de Nova Iorque , Londres e outros.
        Por último; quanto vai custar e de onde vai sair a grana .

  1. É bom ver projetos como estes sendo alavancados pelo Metrô. Meu receio era justamente que com o passar do tempo ele fosse ficando cada vez mais e mais defasado em relação as demais operadoras. Colocar o Metrô no século XXI é uma demonstração da sua importância e grandeza, além de servir como norte da forma como futuras linhas devem atuar.

    Espero também que esta evolução comece a gerar reflexos na irmã “mais nova”, a CPTM, que precisa ser colocada no século XXI. Eles dizem que com a concessão de algumas linhas isto poderá ocorrer, mas será preciso algum tempo para tanto.

    Parabéns pela excelente matéria, Jean!

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