A CRRC, uma das maiores fabricantes de trens do mundo, está mais próxima de montar uma fábrica de trens no Brasil. A aquisição dos novos 44 trens para o Metrô de São Paulo aqueceu ainda mais os rumores da presença chinesa no Brasil.
A empresa faz parte do Consórcio CRRC Sifang Brasil, vencedor de um acirrado processo licitatório para a aquisição de uma nova série de trens para o Metrô de São Paulo, a Frota R. A aquisição de 44 composições no valor de R$ 3,1 bilhões está em processo de habilitação pelo Metrô.
Segundo documentos obtidos pelo site nesta sexta-feira, 10, a CRRC Brasil entrou em consórcio com a filial chinesa CRRC Qingdao Sifang Co., Ltd. a mesma que fabricou os oito trens da Série 2500 da CPTM.
O que surpreende nos documentos é a participação societária das empresas. A CRRC Brasil tem participação de 95% do consórcio, enquanto a matriz na China possui apenas 5%.
A título de comparação, o consórcio Temoinsa-Sifang que fabricou os trens da Série 2500, tinha a participação de 3% da Temoinsa e 97% da fabricante chinesa. Percebe-se que o papel da filial no Brasil deverá ser de fundamental importância.
Atribuições
Um dos documentos que estabelece a formação do consórcio estabelece uma série de atividades entre as empresas participantes. Veja abaixo os trabalhos de cada uma:
CRRC Brasil:
- Gerenciamento de projetos
- Administração do contrato
- Projeto de trens
- Aquisição de peças e componentes
- Montagem final e teste de truques
- Montagem, testes gerais e entrega ao Metrô
- Desembaraço alfandegário de peças
- Organizar a entrega e comissionamento no Metrô
- Fornecimento de sobressalentes e ferramentas de teste
- Entrega de manuais
- Treinamento, suporte e serviço pós venda com apoio da Sifang
CRRC Sifang:
- Auxiliar a CRRC Brasil com os projetos de trens
- Fornecer caixa e peças para os trens
- Fornecimento de manuais
- Suporte financeiro para a CRRC Brasil executar o projeto
- Garantia contratual
- Treinar os funcionários da CRRC Brasil e designar pessoal para instalação de montagem local em SÃO PAULO
- Fornecer orientação técnica à CRRC Brasil na fabricação, teste, comissionamento, pós venda e garantia.
Diante das informações apresentadas, pode-se inferir que as peças serão produzidas pela matriz na China enquanto a filial brasileira será responsável por realizar a montagem dos componentes em São Paulo. O projeto, montagem e testes, como visto acima, será realizado no estado.
Mudança de objeto social
O site se aprofundou mais no assunto e buscou mais informações sobre a CRRC Brasil. A empresa foi constituída em abril de 2013 e tinha como objeto social:
- Comércio atacadista de mercadorias em geral, sem predominância de alimentos ou de insumos agropecuários
- Manutenção e reparação de veículos ferroviários
- Consultoria em publicidade
No dia 23 de fevereiro de 2024, dias antes do leilão do Trem Intercidades, a CRRC mudou objeto social incluindo dois novos itens, a fabricação de trens e a fabricação de peças para veículos ferroviários. Veja a nova lista:
- Comércio atacadista de mercadorias em geral, sem predominância de alimentos ou de insumos agropecuários
- Fabricação de locomotivas, vagões e outros materiais rodantes
- Fabricação de peças e acessórios para veículos ferroviários
- Manutenção e reparação de veículos ferroviários
- Consultoria em publicidade
Conclusão
Apesar de não haver ainda uma manifestação oficial por parte da empresa, os sinais de que a CRRC se estabelecerá em território nacional ficam cada vez mais evidentes.
A empresa tem apresentado projetos mais arrojados do que o das tradicionais concorrentes europeias a preços muito menores, o que tem dado uma vantagem competitiva à fabricante chinesa.
A grande encomenda de trens para o Brasil pode motivar uma presença maior da CRRC em território nacional. Além dos 44 trens para o Metrô de São Paulo, a CRRC deverá atender a demanda de 22 novos trens para a TIC Trens (Intercidades e TIM) e 24 novos trens para o Metrô BH.
Ao todo, a CRRC tem uma demanda para construção de 566 carros para as ferrovias no Brasil. A expansão do Metrô e a renovação de frota em várias linhas possivelmente demandará ainda mais pressão sobre a indústria que poderá contar com uma concorrente de alto padrão.
O mercado da América Latina poderá ser beneficiado, evitando assim o complexo processo logístico entre dois continentes, barateando e facilitando a fabricação para países vizinhos.
Caso se confirme, a presença da CRRC no Brasil tem potencial de causar grandes mudanças no mercado ferroviário nacional. As empresas que já estão estabelecidas precisarão se reinventar para sobreviver ao avanço dos chineses.