Não é de hoje que grandes grupos empresariais do setor de transporte rodoviário têm demonstrado interesse pela mobilidade sobre trilhos. O grupo RUAS, um dos maiores no transporte urbano no país e que possui diversas viações que atuam em São Paulo, criou a RUASInvest para diversificar seus negócios que incluem participação acionária nas concessionárias das linhas 4 e 5 de metrô.
Com presença ainda modesta no setor, o grupo Comporte é outro oriundo de um empresário que começou no negócio de ônibus urbanos a ampliar o leque de opções sobre trilhos. A holding tem como sócia principal a família Constantino, mais conhecida por ser a fundadora da companhia aérea Gol. A empresa também participa, em sociedade com a Viação Piracicabana, na BR Mobilidade, concessionária que opera o VLT da Baixada Santista, uma PPP lançada pelo governo Alckmin.
Agora, a Comporte afirma que tem interesse em participar de um projeto maior e mais ambicioso, a Linha 6-Laranja, de metrô. A afirmação foi feita por Henrique Constantino ao jornal Folha de São Paulo nesta segunda-feira, 3. O artigo, no entanto, não explica como a Comporte fará parte do projeto de PPP, mas insinua que isso se daria por uma sociedade com a Acciona, grupo espanhol que anunciou um acordo inicial para assumir o controle da Move São Paulo, concessionária responsável pela construção e operação do ramal.
Pode ser um indício de que o negócio está perto de ser fechado já que o prazo para a caducidade do contrato com a Move vencer no próximo dia 9, um domingo. No final do ano passado, o governo Doria anunciou que a Acciona havia chegado a um acordo prévio com os sócios da Move São Paulo, as construtoras Odebrecht, UTC e Queiroz Galvão, além de investidores menores. Desde então, os dois grupos empresariais passaram a negociar os detalhes da venda, entre eles o de manter as empresas originais ligadas ao projeto por meio do Consórcio Metropolitano Linha 6, que foi formado por elas para construir a linha.
Desde agosto do ano passado, a gestão Doria tem postergado a vigência da caducidade, quando o contrato perderia seu valor e seria preciso avaliar os valores investidos e devidos pelos sócios da PPP. Para o governo, esse caminho é tortuoso e significa adiar indefinidamente a retomada do projeto. Diante disso, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos passou a buscar possíveis interessados a investir no projeto e assumir sua liderança. No entanto, poucas informações surgiram nesse período, incluindo a tentativa de um lobbista de pressionar a Acciona por meio do interesse dos chineses no projeto.
Nas oportunidades em que tocou no assunto, o governo tem prometido um desfecho até o dia 9. Em declarações recentes, o governador João Doria tem prometido que nenhuma obra estará parada até o segundo semestre deste ano, incluindo o Rodoanel Norte e a Linha 6-Laranja.
Maior PPP do setor de trilhos
A Linha 6-Laranja deveria ter sido a vitrine do modelo de negócios de parcerias público-privadas na área de trilhos. Por ser plena, ela se diferencia da Linha 4, onde a ViaQuatro investiu apenas nos trens e sistemas, além de operá-la. No caso da Move São Paulo, toda a construção e operação por 25 anos ficaria sob sua responsabilidade. No entanto, a empresa, cujos sócios foram alvo da operação Lava Jato, perdeu crédito no mercado e com isso o fôlego necessário para seguir em frente. Desde setembro de 2016, a obra está parada, com alguns poços escavados e equipamentos parados em canteiros.
Com 15,3 km de extensão e 15 estações, a Linha 6 ligará a região de Brasilândia até a estação São Joaquim da Linha 1-Azul, passando pelas linhas 7 e 8 (estação Água Branca), 4-Amarela (estação Higienópolis-Mackenzie) e os bairros de Perdizes, Pacaembu, Pompéia e Bela Vista. Estima-se que vá transportar mais de 600 mil pessoas por dia quando estiver completa. A previsão de entrega original da linha era justamente 2020, caso não houvesse ocorrido esses problemas.