No último dia do prazo fornecido pela Linha Uni para viabilizar a construção da estação 14 Bis-Saracura, da Linha 6-Laranja, o IPHAN, órgão federal de preservação histórica e cultural, anunciou a liberação da área 4 para escavações.
Ela era a única de seis áreas onde foram encontrados vestígios arqueológicos associados a um quilombo existente no final do século 19 que ainda estava com sua situação indefinida.
Na área 4 acredita-se que existia um terreiro para realização de rituais religiosos de origem africana.
Segundo o IPHAN, a concessionária que constroi a estação poderá atuar no local, porém, deverá realizar o “registro, desmontagem, remoção, armazenamento, remontagem e exposição dos achados arqueológicos”.
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As estruturas encontradas no canteiro de obras serão removidas e mantidas em um local provisório e então trazidas de volta para uma área de exposição a ser definida pela Linha Uni.
Todos os custos dessa atividade, chamada de “musealização”, serão bancados pela concessionária que deverá disponibilizar acesso ao local para estudos.
Atraso do IPHAN
A aprovação pelo IPHAN ocorreu apenas após enorme pressão da Linha Uni e do governo do estado, que também se reuniu com integrantes do órgão.
A indecisão do instituto, que de um lado tem acatado a maioria dos pleitos de movimentos culturais da região, pôs em risco o acesso da população local à mobilidade sobre trilhos, algo que poderia ter sido evitado.
Embora não houvesse negação quanto à importância dos achados, a questão que se prolongou além do tempo razoável foi o que fazer com o material encontrado.
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Os grupos de preservação histórica buscavam evitar que as estruturas fossem retiradas do local, mas a concessionária argumentava que a obra, pelo seu vulto, seria inviável com os materiais mantidos intactos.
A retirada e posterior exposição dentro da estação era, sem dúvida alguma, a saída sensata, mas ela só poderia ser proferida pelo IPHAN, que tinha a última palavra no assunto.
OPINIÃO: Omissão de nome da concessionária e da Linha 6
Embora negado, o aspecto político parece ter exercido alguma influência na dificuldade do órgão lidar de forma isenta em busca de uma solução.
Um indício disso está no comunicado divulgado pelo próprio IPHAN, que em nenhum trecho cita textualmente o nome da Linha 6-Laranja ou da Linha Uni e o governo do estado de São Paulo, sócios no projeto.
Por razões não esclarecidas, o texto ignora o envolvimento do governo estadual enquanto chama o ramal de metrô de “empreendimento”, 14 Bis-Saracura de “estação de metrô” e a Linha Uni de “empreendedor”.
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No texto, o órgão parece preocupado em justificar a demora em tomar uma decisão e reforçar em vários trechos seu “esforço” em ouvir os “movimentos da sociedade civil”.
Ilustra o comunicado uma imagem de uma reunião do presidente do IPHAN, Leandro Grass, com integrantes do movimento Estação Saracura/Vai-Vai, da Ialorixá Solange Machado d’Oyá, e dos deputados federais Guilherme Boulos e Erika Hilton, aliados do governo Lula, adversário político do governador Tarcísio de Freitas.
O movimento, por outro lado, em várias ocasiões pleiteou a paralisação das atividades e até mesmo o tombamento da área, o que impediria a construção da estação. Houve inclusive manifestações sobre perigo de “movimentos neonazistas” invadirem o canteiro de obras para destruir ou retirar os achados, o que foi considerado absurdo pela concessionária, segundo mensagens que constam do processo.
Estação 14 Bis prevista para 2029
Com a liberação, a Linha Uni terá que colocar em ação um plano para avançar na obra da estação 14 Bis a fim de que ela não impeça a abertura da Linha 6-Laranja até a estação São Joaquim, prevista para outubro de 2027.
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Em meio à remoção do material arqueológico, a Acciona, responsável pelas obras, fará uma escavação por níveis até chegar às estruturas de túneis montadas pelo tatuzão de forma provisória.
Elas serão retiradas para a construção das plataformas, mas a estação não ficará pronta a tempo. O objetivo é encerrar as obras civis pesadas e então iniciar acabamento e implantação de sistemas com a meta de abrir 14 Bis em janeiro de 2029.
Espera-se que com isso todos saiam vitoriosos: a preservação da história negra na região e a melhoria da qualidade de vida da população, que terá acesso a um transporte limpo e rápido.
E que as rusgas ideológicas fiquem enterradas onde não possam mais ser achadas.
Tenho certeza de que a Acciona conseguirá acelerar essa obra enquanto segue rumo à estação São Carlos.
Essa linha é essencial para destravar SP.
Excelente reportagem, concordo também que a Acciona , consiga fazer as obras rapidamente, afinal , como mencionado no comentário anterior esta linha é de suma importancia ao metrô paulistano..
E os deputados sempre trabalhando.contra o povo, o Sr. Boulos e a Sra Ericka vivem numa bolha colocando.os interesses próprios.contra os interesses daqueles que colocaram eles lá, só.para mar ar a “oposição “.
Parabéns pela reportagem, graças a Deus tudo se resolveu👏👏👏👏
Da série, eu ouvi um amém?
“Guilherme Boulos e Erika Hilton”, já explicou tudo, essas “pessoas” só gostam de atraso e retrocesso.
Graças à Deus, o Estado de São Paulo nunca foi governado pela esquerda.
Seria cômico, se não fosse trágico.
Bastante desonesto sugerir que a preocupação com a preservação histórica seja política, o uso dos termos mais genéricos não indica absolutamente nada alem do seguimentos dos padrões jurídicos estabelecidos pra esse tipo de documento, nenhum documento publico utiliza os nome diretos dos agente o tempo todo, em geral definem um termo que descreva sua função no documento e seguem com ele ate o fim.
o IPHAN esta de parabéns pelo excelente trabalho de zelo pela nossa historia, já a reportagem precisa rever sua ética.
O fato da linha toda ser privatizada ( PPP na pratica é privatização) é uma catástrofe ao transporte publico do estado mas infelizmente retrato de anos de neoliberalismo.
Pedro, PPP não é privatização, nem na teoria, muito menos na prática.
O patrimônio continua sendo público, ou seja, pertencente ao Estado.
Esse equívoco é muito comum e coloca em descrédito um mecanismo que auxilia o governo a alavancar obras enquanto pode ficar noutras demandas.
O estado não tem mais dinheiro pra ficar bancando um monte de linhas de metrô por aí. O estado não cuida só de transporte público. A única forma de recuperar o tempo perdido na expansão metroviária será recorrer às PPPs mesmo. Mas se você enxerga a construção de linhas como “catástrofe”, aí a gente não tem como fazer nada.
a lerdeza do IPHAN nessa tratativa e vários outros casos mostram o quanto defasado e incompetente. Chegar lá e dizer que precisa tombar ou que tem valor histórico não é suficiente, precisa dar embasamento e documentar rápido.
em centenas de obras com casas com meio século que inutilmente precisam ser preservadas, coisas com pouca relevância seria mais que dificilmente só digitalizar em 3d 4k para utilizar para vizualizar como foi, sem esbanjar um dinheiro que não é do Iphan ou do governo..
Boa notícia essa que foi resolvida a questão. De qualquer forma, o aspecto político conseguiu atrapalhar o andamento das obras, pois, enquanto as demais estações do trecho sul serão inauguradas em 2027, a Estação 14 Bis ficará somente para 2029. Finalmente deixarão aqueles que querem, que gostam e que sabem trabalhar, realizarem o serviço em prol da população.
Boulos e Erika Hilton envolvidos, que surpresa! O PSOL é atraso puro, graças a Deus jamais governarão a cidade de São Paulo. Acredito que a obra da estação não atrapalhará a chegada em São Joaquim, será como foi com a estação Campo Belo da Linha 5 Lilás, que abriu só um ano depois da inauguração da extensão da linha até Klabin.
IPHAN é um órgão completamente inútil que só atrasa o desenvolvimento e a preservação do patrimônio! Só ver o que aconteceu com a “Igreja do Ouro” em Salvador. aí junta a ineficiência do órgão mais a politização do Boulos e do Erik, quem sai prejudicado é a população. Eu cheguei a ver os “achados” ….. um punhado de caco de vidro que vai atrasar em 2 anos a abertura da estação. A população quem que começar a ver e entender o pq do atraso e responder nas próximas eleições se concordam ou não com esses políticos que preferem fazer guerra ideológica ao invés de fazer o que a população realmente precisa.
Cara, finalmente. Já tava sem esperança.
Não seria de má fé quando alguém se refere a uma reunião de terceiros e ainda republica a fotografia sem nem saber do que se tratou a pauta e qual foi a devida participação dos presentes? Senão, caímos numa várzea (bem) grande de suposições, a rotular os políticos ali como partícipes de uma mesma causa comum e perversa. Do mesmo modo, eu não sei qual do que se tratou a participação deles. Mas vai ver, eles quem foram fundamentais para destravar a coisa toda (ou não). O jornalismo deveria perguntar às partes envolvidas, mesmo ao emitir suas opiniões.
Caro Marcelo, o site acompanha o assunto há tempos, portanto sugiro ler outros artigos antes de fazer suposições sobre “má fé” ou distorcer as informações apenas para defender um lado.
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O texto do artigo não recrimina o fato de o presidente do IPHAN se encontrar com representantes dos movimentos e políticos aliados do governo federal.
O que causa estranheza é não dar publicidade ao relacionamento com o governo do estado, cujo governador é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Houve inclusive uma reunião em fevereiro com o secretário de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini e o presidente da Artesp, entre outros, com o mesmo Leandro Grassi, mas nesse caso não houve divulgação.
O ponto crucial é que o IPHAN pareceu mais preocupado em justificar o fato que não aceitou o que o movimento queria, que era manter os achados no local, o que inviabilizaria a estação. Existem centenas de arquivos sobre o caso, boa parte deles explorado por este site.
A despeito de serem adversários, Lula e Tarcísio mostraram grandeza ao destravarem o túnel Santos-Guarujá, demonstrando que ambas as esferas devem conviver para o bem comum, deixando suas diferenças para as eleições. O resto, meu caro, é cegueira ideológica que tira a razão de ambos os lados.
Liberou porque a não construção da estação iria cair na conta do governo federal. Seria mais uma justificativa pra oposição cair matando em cima.