Manutenção da madrugada do Metrô: como ocorre uma troca de trilhos?

Acompanhamos o trabalho das equipes da companhia durante recuperação de vias da Linha 1-Azul
Processo de Solda dos Trilhos (Jean Carlos)

As atividades de manutenção são fundamentais para manter a segurança da operação dos transportes sobre trilhos. No Metrô de São Paulo, profissionais trabalham tanto de dia quanto de noite para executar todas as tarefas de zeladoria das linhas.

Uma destas tarefas é a troca de trilhos, uma atividade que, pelo nível de intervenção, não pode ser realizada durante a operação comercial. Para isso é necessário usar uma curta janela de tempo na madrugada, quando os trens não circulam, para que as atividades sejam realizadas.

Este site acompanhou, a convite do Metrô, uma troca de trilho na região da estação Santana da Linha 1-Azul e traz todos os detalhes desta operação.

A operação comercial do Metrô se inicia todos os dias a partir das 4h40 e termina pouco depois da meia-noite, com o fechamento das estações. Entretanto, apesar disso ainda há circulação de trens remanescentes das estações terminais que seguem destino aos extremos das linhas.

Últimos trens da operação comercial na estação Tucuruvi (Jean Carlos)

Após a chegada do último trem até a estação terminal, o Metrô poderá iniciar os procedimentos para o acesso seguro dos funcionários nas vias. Após as linhas serem desenergizadas os funcionários podem adentrar nas vias.

O ponto de partida ocorreu na estação Tucuruvi onde estava alocado um veículo de manutenção que prestaria auxílio na região da troca de trilhos. Seguimos com ele até a região da estação Santana onde seria realizada a troca de uma barra com aproximadamente 40 metros de comprimento.

Veiculo de manutenção em Tucuruvi (Jean Carlos)

Chegando ao local, os técnicos do Metrô, juntamente com operários contratados, realizaram o deslocamento da barra até o local de troca. O trilho estava originalmente posicionado no trecho elevado alguns metros depois da estação.

O trilho foi preso e colocado em pequenos vagões onde eram içados para o deslocamento. Após chegar na posição desejada, o trilho foi novamente descarregado na via.

Para a realização da troca de trilhos, a barra antiga precisa ser removida. Para o procedimento ser realizado com segurança, uma primeira etapa de corte é feita com uso do maçarico. Dessa forma é possível aliviar a tensão existente na barra e evitar acidentes.

As fixações do trilho antigo foram previamente removidas de forma que o trabalho pudesse ser feito de forma mais rápida e eficiente por parte das equipes envolvidas.

O posicionamento do novo trilho e retirada do antigo acontece através de cavaletes metálicos dotados de tenazes que agarram os trilhos. Originalmente o trabalho de movimentação era puramente braçal e, com os novos equipamentos, o trabalho se torna mais simplificado.

Antes da instalação do novo trilho, é feito um trabalho de sobreposição da barra nova com o intuito de realizar a medição correta da seção de corte necessária para a execução da solda. 

Após a marcação, o trilho é cortado com uma serra elétrica automatizada. O equipamento é fixado no boleto, que é a parte superior do trilho, e através de acionamento remoto a máquina realiza de forma precisa o corte do trilho. Depois desta etapa o trilho novo é posicionado na posição definitiva.

Antes da realização da soldagem, etapas importantes precisam ser realizadas. Uma delas é o posicionamento correto do trilho quanto à sua altura e seu alinhamento. Essa medida é realizada por profissionais experientes que avaliam detalhadamente os desvios e efetuam as correções necessárias.

Com os trilhos devidamente alinhados, é realizada a instalação das formas que auxiliarão no processo de solda. Juntamente com elas, é também colocado no trilho um apoio para o maçarico que realizará o pré aquecimento das barras metálicas.

A forma, após instalada, passa por um processo de vedação com uma massa especial. Este processo pode ser considerado um dos mais importantes, pois é vital para que o aço despejado na forma não vaze.

Caso o aço acabe vazando por alguma falha de vedação, o trilho precisará ser novamente cortado e a solda refeita, o que teria graves implicações em uma janela de tempo bastante apertada para a manutenção.

Realizada a vedação, o próximo passo é o preaquecimento dos trilhos. Nesta etapa é realizada a regulagem do maçarico e seu ajuste na forma. O objetivo aqui é realizar o aquecimento de toda a estrutura dos trilhos, da base ao topo, até que se atinja a temperatura ideal que fica entre 900°C e 1.000°C.

O processo de soldagem ocorre através da retirada do maçarico, posicionamento do cadinho com material ferroso e acionamento da reação química que envolve compostos de alumínio e óxido ferroso.

A reação exotérmica aumenta a temperatura no interior do cadinho até a faixa dos 2.000°C. Neste estágio o aço é derretido e escorre para o interior da forma. O material mais denso fica nas camadas inferiores do trilho enquanto o material menos denso, composto principalmente por alumínio, é eliminado pelas laterais. O processo garante a qualidade química da solda.

Durante todo o processo, existe um funcionário especializado do Metrô realizando a contagem do tempo para autorizar a realização das próximas etapas que consistem na retirada da forma e do excesso de material.

Após o resfriamento da solda, ocorre o processo de esmerilhamento do trilho. Nesta etapa é realizada a retirada de material em excesso para que o perfil do trilho seja mantido garantindo a estabilidade no rolamento das rodas do trem.

Geralmente, depois de todo o procedimento de solda, ainda são realizados testes para aferir a qualidade do serviço, como  ensaio com líquido penetrante e em alguns casos o ultrasom.

A modernização do procedimento de troca de trilhos pode ser visto através da adoção de novos equipamentos, alguns deles automatizados, que garantem maior eficiência e velocidade na manutenção. Este ganho pode chegar a alguns minutos, mas que é importante para a disponibilizar as vias para a operação comercial.

Geralmente a troca de trilhos é realizada após inspeções dos veículos de ultrassom. As atividades são programadas e podem ser realizadas em diferentes pontos da linha durante uma mesma madrugada.

Equipamentos utilizados na troca de trilhos (Jean Carlos)

O tipo de trilho utilizado no procedimento é do modelo TR-57, importado do Japão. O motivo da troca foi a presença de cavidades causadas pela baixa aderência dos trens nos trechos elevados, geralmente um dos efeitos da chuva. Ao longo do tempo as cavidades geram desconforto aos passageiros e a troca se faz importante.

Geralmente trilhos podem durar muitos anos depois de serem trocados. Isso depende muito do local onde estão instalados: se em retas, curvas, em túneis ou no trecho elevado. No Metrô, ainda existem trilhos datados de 1972 em boas condições de uso.

Os trilhos que são cortados e removidos são remetidos ao pátio para aferição e pesagem. Essas barras deverão ser leiloadas e resultarão em receitas acessórias para o Metrô.

Uma curiosidade é a utilização de caminhões híbridos nas atividades de manutenção. Também conhecidos como veículos rodoferroviários, os caminhões têm papel importante no transporte de materiais ao longo das vias e também pelas ruas, o que permite maior flexibilidade logística.

Veiculo de manutenção atuando na linha (Jean Carlos)

No geral, a atividade de troca de trilhos exige sinergia entre as equipes, preparação da atividade antes e durante a realização da manutenção, bem como preparo técnico de todos os envolvidos.

O rigor em todas as etapas é fundamental para que o processo de solda possa ser realizado com sucesso. A janela de tempo da madrugada é ideal para que se possa garantir todas as condições de segurança aos funcionários, bem como a realização do procedimento com eficiência.

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3 comments
  1. Parabéns pela matéria!
    Já acompanhei esta atividade algumas e vezes e você descreveu muito bem !
    Agora , pede pra acompanhar uma troca de trilhos na CPTM…
    O equipamento deles tb é muito bom mas as equipes …..

  2. Se ainda há trilhos de 1972 no Metrô, além de outros de anos seguintes das décadas de 70 e 80, então os trilhos do EPB também são dos tempos que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) fabricava trilhos e hoje nem fabrica mais. É uma pena, agora são só trilhos importados do Japão, da China e da Polônia, pois aqui os projetos ferroviários nem dão mais economia de escala para a fabricação de trilhos pela CSN porque nossas obras ferroviárias são muito morosas!

  3. Legal. Essa já ser a 983749363538506 matéria que se faz sobre troca de trilho, logo se vê que pela imprensa não se sabe absolutamente nada do que se passa no sistema metroferroviário.

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