Os repetidos atrasos nas obras de expansão do Metrô de São Paulo não têm causado apenas dor de cabeça para os usuários, que esperam por mais opções de destinos e uma viagem mais confortável. Também os pátios de manutenção andam cheios de trens encomendados justamente para dar conta da ampliação da rede. A situação está chegando ao pico, literalmente, neste ano.
Nada menos que três das cinco linhas em obras já têm novos trens armazenados, mas que não podem ser usados ou não são necessários devido ao trecho em operação não comportar mais composições. Confira como está a situação de cada uma delas e quando isso deve ser resolvido a seguir:
Linha 4 – Amarela
Operada pela ViaQuatro, a Linha 4 recebeu novos trens no começo do ano, já prevendo a inauguração das cinco estações da segunda fase. Com ela, a linha deveria beirar um milhão de passageiros transportados por ano, porém, os problemas com o consórcio vencedor da primeira licitação fez com que apenas uma das estações fosse aberta. Resultado: os trens, fabricados pela Rotem na Coreia do Sul, começaram a chegar, mas mal tem espaço para serem guardados no pátio. A ViaQuatro já opera 14 unidades da primeira encomenda e só precisará colocar mais trens no dia a dia quando mais estações forem abertas, o só deve ocorrer a partir do segundo semestre de 2017.
Linha 5 – Lilás
Tem sido o caso mais emblemático, a ponto de virar manchete na imprensa devido ao processo apresentado pela Procuradoria do Estado, que acusa o governo de irresponsabilidade por comprar os trens antes da hora. A Frota P, fabricada pela CAF, está quase toda entregue – apenas um trem estava pendente, segundo apurou o blog. No entanto, as 26 composições estão espalhadas nos pátios da Linha 5, na fábrica em Hortolândia e até no pátio Jabaquara, onde não podem ser colocadas nos trilhos devido à bitola menor (não confundir com a confusão do promotor).
Oito unidades estão quase prontas para entrar em operação no trecho atual da Linha 5 a partir de setembro. Mas mesmo que dê tudo certo, as sete estações atuais não precisarão mais do que uma dezena de trens por enquanto. Apenas no segundo semestre de 2017, quando mais três estações forem inauguradas, uma parte da encomenda passará a ser usada efetivamente.
Linha 15 – Prata
O pioneiro monotrilho da Zona Leste sofre de um problema semelhante ao da Linha 5. Os trens produzidos pela Bombardier começaram a chegar ao pátio Oratório antes que a linha esteja pronta para usar a maior parte deles. Apenas duas estações estão funcionando em horário menor que o padrão do Metrô. Com isso, cinco trens se revezam na tarefa de fazer o bate-e-volta entre Oratório e Vila Prudente. O sistema CBTC, que fará a sinalização e controle do tráfego, também segue em testes para funcionar para valer quando as novas estações forem abertas. A previsão é que mais oito paradas sejam inauguradas até 2018. Enquanto isso, ao menos 11 monotrilhos estão parados no pátio sem uso.
Situação inversa na CPTM
Enquanto isso, a empresa “irmã” do Metrô, embora tenha necessidade de mais trens modernos, segue com falta de composições ou mantendo trens obsoletos em serviço. A encomenda de 65 unidades das séries 8500 e 9500 deve resolver esse dilema, mas, apesar disso, apenas dois trens dos 11 entregues estavam em operação em agosto. E seguem as distorções como a frota da Linha 8 que é exclusiva do ramal e maior do que necessário. Mas por contrato não pode ser utilizada em outras linhas.
Uma pena porque a CPTM, ao contrário do Metrô, não sofre com diferentes tecnologias em suas linhas. Sua frota, em tese, pode rodar em qualquer uma das seis linhas, coisa que no Metrô só existe nas linhas antigas – 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha.
Se o fator da série 8000 não poder ser utilizada em outras linhas, a não ser na 8 Diamante, em função do contrato de concessão à iniciativa privada a manutenção dessa frota, mais uma vez fica evidente que concessões e privatizações não são benéficas para o transporte público.