Com o 1º turno da eleição encerrado neste domingo (8), dois candidatos ligados ao ex-governador (e presidenciável derrotado) Geraldo Alckmin conseguiram passar para o 2º turno da eleição para o governo do estado de São Paulo. João Doria, candidato do PSDB, partido de Alckmin, e Márcio França, atual governador, assumirão em janeiro uma longa lista de obras e projetos de mobilidade sobre trilhos iniciada em sua grande maioria pelo padrinho político.
França, do PSB, foi um vice-governador discreto enquanto Alckmin governou o estado nos últimos anos, mas projetou-se rapidamente a partir de abril quando o ex-governador precisou se afastar do cargo para se candidatar à presidência. Embora a promessa de apoiá-lo acabasse frustrada, o ex-prefeito de São Vicente manteve a área de transportes metropolitanos nas mãos do secretário Clodoaldo Pelissioni, que faz parte do grupo mais próximo de Alckmin.
Já Doria deixou a prefeitura de São Paulo com apenas 15 meses do mandato cumprido a fim de manter o PSDB à frente do estado após 24 anos de governo tucano. Curiosamente virou um fenômeno na eleição de 2016 quando Geraldo Alckmin bancou sua candidatura no partido, a contragosto de vários integrantes antigos da legenda.
Em comum, ambos receberão uma gestão na área de transportes com altos e baixos. Se levou muitos anos para concluir algumas obras importantes como a extensão da Linha 5-Lilás, parte da segunda fase da Linha 4-Amarela e a nova Linha 13-Jade da CPTM, Alckmin deixará vários projetos e obras inacabados e com perspectivas ruins, por culpa da crise econômica, operação Lava Jato e da burocracia brasileira, mas também por incapacidade da sua gestão de desatar alguns nós e também por exibir sinais de corrupção preocupantes em várias frentes.
Até aqui, no entanto, seus potenciais sucessores não souberam explicar como irão tirar do papel tantas obras ou mesmo acelerar alguns projetos de modernização capazes de expandir a rede metroferroviária para um patamar mínimo em que o transporte sobre trilhos passe a ser o principal modal da Grande São Paulo – tarefa que somente ele pode suportar de forma eficiente. Enquanto Doria coloca suas fichas nas PPPs (Parcerias Público-Privadas), mas que até hoje não se mostraram eficazes na construção civil, França sugeriu algumas propostas ingênuas como reembolsar passageiros da CPTM por atrasos nos trens (em vez de resolver seus problemas) ou prometer estender a Linha 7-Rubi até Campinas.
Veja a seguir o “legado” deixado pelo governo Alckmin:
Linha 2-Verde – Extensão até Guarulhos
Inaugurada em 1991, a Linha 2-Verde teve sua expansão executada em várias fases até a chegada em Vila Prudente em 2010. O governo Alckmin licitou uma segunda fase que levará a linha até Guarulhos com mais 14 km e 13 estações, contratos foram assinados com os consórcios, porém, a ordem de serviço foi suspensa por falta de recursos – embora R$ 1,5 bilhão tenha sido obtido junto ao BNDES. A razão alegada foi a crise econômica que reduziu a receita do governo, além da operação Lava Jato, que afetou grandes empreiteiras como a Mendes Junior, uma das vencedoras desta licitação.
Situação atual: a verba do BNDES foi repassada para a Linha 6-Laranja, restando ao atual governo sugerir que ela seja retomada como uma PPP, possivelmente desmembrada da atual Linha 2. Ao menos as desapropriações seguiram em frente em vários trechos que hoje encontram-se desocupados. A importância da extensão é tão grande quanto a que foi a chegada da Linha 5 em Santa Cruz e Chácara Klabin, já que ela desafogará a Linha 3 e oferecerá uma ligação mais eficiente para a região de Guarulhos e Zona Leste, entre outros efeitos.
Linha 4-Amarela – Estação Vila Sônia e extensão até Taboão
Depois de um período complicado com um consórcio que atrasou a obra, a segunda fase da Linha 4 segue em bom ritmo, com duas estações entregues e a terceira prestes a ser concluída. Faltará apenas a estação Vila Sônia, prevista para 2020 e que levará o ramal para perto de Taboão da Serra. Caberá ao próximo governador decidir se a terceira fase sairá do papel e que incluirá duas novas estações e a chegada ao município vizinho.
Linha 5-Lilás – Extensão até Jardim Ângela
Prestes a ser concluída, com a estação Campo Belo sendo entregue em dezembro (espera-se), a Linha Lilás foi um dos projetos que Alckmin conseguiu entregar, embora com vários anos de atraso. A linha, no entanto, tem estudos para seguir até Jardim Ângela, uma antiga reivindicação dos moradores da região. Assim como Taboão, é tarefa para o próximo governador apostar em mais esse prolongamento.
Linha 6-Laranja – Implantação do primeiro trecho
Era para ser a grande vitrine da gestão Alckmin e também a prova de que as PPPs plenas, ou seja, em todas as fases do projeto, seriam capazes de acelerar a construção de uma linha de metrô. Mas resultou justamente no contrário, em muito atraso e indefinições. A linha já tinha vários projetos prontos quando o governo decidiu transformá-la numa parceria público-privada. Foram precisos vários meses para formatar a nova licitação que acabou tendo apenas um interessado, o consórcio Move São Paulo, formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC, entre outras.
A primeira dificuldade veio pelo desconhecimento jurídico em desapropriar terrenos numa PPP – houve juízes que aceitaram o argumento de que essas desapropriações eram feitas pelo consórcio e não pelo governo. O imbróglio fez com que a liberação de terrenos demorasse muito, atrasando o início dos trabalhos. Após um período em que as obras tiveram um ritmo bom e até mesmo duas tuneladoras enviadas ao Brasil, o consórcio desistiu do projeto alegando falta de recursos do BNDES (com juros mais baixos). A razão era que essas empresas estavam com o nome sujo no mercado e impossibilitadas de contrair empréstimos por conta da operação Lava Jato.
Após um longo período em que o governo esperou os donos da Move São Paulo a tentaram repassar para outros interessados sem sucesso, foi decretada a caducidade do contrato. Agora, governo e consórcio brigam na Justiça para dividir o prejuízo e liberar o projeto para ser relicitado. É um dos assuntos prioritários do novo governo, que terá de decidir o que fazer com os canteiros e poços já abertos além de R$ 1,7 bilhão que estão congelados a espera da retomada das obras.
Linha 7-Rubi – Obras na estação Francisco Morato e modernização das vias
Mais precária na CPTM, a Linha 7-Rubi praticamente renovou toda a sua frota de trens este ano, com a adição das séries 8500 e 9500 mas ela ainda carece de modernização nas vias e reforma ou reconstrução de estações como Francisco Morato, cuja obra foi retomada este ano. O desafio aqui é tornar a viagem mais veloz e confortável para os passageiros que a acessam.
Linha 8-Diamante – Concessão
Além de obras de modernização de algumas estações, a Linha 8 pode ser alvo de uma concessão de operação pela iniciativa privada, projeto tocado pela gestão Alckmin em conjunto com a Linha 9-Esmeralda. A ideia é concedê-las em conjunto, mas a licitação ainda não está pronta e ficará a cargo do próximo governo, caso ele considere a ideia viável. A economia para os cofres públicos seria grande além da modernização de várias estações, segundo o governo.
Linha 9-Esmeralda – Expansão até Varginha
Além da concessão em conjunto com a Linha 8, o ramal Esmeralda deve ganhar mais duas estações no extremo sul, Mendes-Natal e Varginha. As obras foram retomadas neste ano e só devem ficar prontas em 2020. Falta apenas licitar o último contrato além da assinatura da penúltima licitação, recentemente leiloada.
Linha 10-Turquesa – Modernização de trens e estações
Com a chegada dos novos trens da CPTM, a Linha 10 enfim recebeu composições mais novas, a Série 7500 que antes circulava na Linha 9. Mas como eles não são suficientes para retirar os velhos e problemáticos Série 2100 de circulação, os passageiros ainda sofrem com viagens lentas entre o ABC e a Zona Leste de São Paulo. Segundo disse ao site o presidente da empresa, Paulo Magalhães, uma nova licitação de trens será necessária para tirar os trens espanhois de serviço. Além disso, as cidades da região ainda aguardam o projeto de modernização e adequação das estações da linha, que chegou a ser aventado no passado e nunca retomado.
Linha 11-Coral – Estação Suzano e trens diretos até Mogi das Cruzes
Assim como a Linha 7, também a Linha 11-Coral viu sua frota de trens ser modernizada com a Série 8500. Com isso algumas viagens de Luz até Estudantes passaram a ser realizadas, tornando menos sofrido o deslocamento dos passageiros que deixaram de baldear em Guaianases. A estação Suzano, entregue com apenas uma plataforma, também deverá inaugurar a segunda que contará com a extensão da Linha 12-Safira e assim criando uma nova possibilidade de trajeto para os usuários.
Linha 12-Safira- Modernização das vias e novos trens
Outra linha que sofreu muito com composições antigas, mas que passou a receber trens da Série 2000, 2070 e 7000 de outros ramais. Porém, a viagem ainda é lenta sobretudo no trecho entre Engenheiro Goulart e Tatuapé, assim como os intervalos altos. De quebra, ela passou a dividir suas vias com a Linha 13-Jade em alguns horários.
Linha 13-Jade – Entrega dos novos trens
A Linha 13 ainda funciona de forma restrita com viagens lentas e intervalos altos, mas deve melhorar gradativamente em 2019. A expectativa é pela chegada dos seus trens da Série 2500, produzidos na China e que devem ser entregues no primeiro semestre do ano que vem. Restará ao novo governo pensar se já é hora (e é, sem dúvida) de lançar os projetos de expansão que a levarão numa ponta até Arujá e na outra, até a região da Mooca ou Vila Mariana.
Linha 15-Prata – Conclusão das estações faltantes, decisão sobre a expansão até Cidade Tiradentes
Quando surgiu em 2009, o monotrilho substituiu um corredor de ônibus que chegaria até Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital. Mas até hoje a Linha 15-Prata funciona de forma precária, com quatro das seis estações em horário restrito e outras quatro estações próximas de serem concluídas. O problema é que os trabalhos estão lentos na parte de operação e parados nas obras até São Mateus. Talvez o próximo governador tenha que resolver esse abacaxi logo que assumir em janeiro. Quanto à chegada em Cidade Tiradentes, é outra história. Há todo um imbróglio para desapropriar e duplicar a avenida Ragueb Chohfi, por onde passarão as vias, além da própria licitação da obra.
Linha 17-Ouro – Conclusão da obra e solução para o consórcio Monotrilho Integração
O monotrilho da Zona Sul poderia ser uma linha fabulosa, ligando regiões carentes como Paraisópolis e Cidade Ademar com outros ramais, além de conectar o Aeroporto de Congonhas e de quebra ser uma alternativa perimetral para que usuários fossem da Zona Oeste para a Zona Sul e vice-versa. Mas tornou-se uma imensa dor de cabeça para o governo. Uma gestão caótica do Metrô e um consórcio problemático tornaram o projeto um grande monumento à ineficiência e descaso. Iniciada em 2012, a obra se arrasta com partes evoluindo e outras absolutamente paradas.
Hoje a grande questão é resolver como concluir a parte que cabe ao consórcio Monotrilho Integração, formado pelas empresas Andrade Gutierrez, CR Almeida, Scomi e MPE. As duas primeiras, construtoras, já tentaram abandonar a obra, mas seguem presas por decisões judiciais enquanto a MPE faliu. Já a Scomi, fabricante do monotrilho, tem silenciado sobre sua parte no contrato. A empresa, da Malásia, estaria em dificuldades financeiras e com algumas unidades do trem em fase final de fabricação em sua sede. Mas a implantação de sistemas, outra da suas atribuições, estão num ritmo lento, impossibilitando que a linha possa iniciar os testes um dia. Enquanto isso, o pátio e as estações estão avançando, mas ainda longe da conclusão.
O futuro governador terá de decidir se rompe com o consórcio e chama o segundo colocado, mas nesse caso será preciso uma enorme adequação dos trens já que cada via de monotrilho é exclusiva para um modelo, ou tenta obrigar o atual a concluir os trabalhos. E isso se falar nas outras duas fases que estão congeladas e sem perspectiva de saírem do papel.
Linha 18-Bronze – Conseguir recursos para desapropriações
Parece piada, mas a outra PPP plena de transporte ferroviário está parada há quatro anos por falta de dinheiro para desapropriações. É a situação inversa de outras duas linhas suspensas, a 6 e a 2 que já têm terrenos limpos e liberados. Estamos falando é claro da Linha 18, monotrilho que ligará o ABC paulista à estação Tamanduateí. O contrato foi assinado em 2014 e até hoje o governo não obteve recursos para iniciar as desapropriações. O assunto estava travado na Assembléia Legislativa por conta da disputa entre França e Doria – o governador pretendia aprovar projetos em seus últimos meses deste mandato e o ex-prefeito impedia por meio da bancada do PSDB. Agora um dos dois terá de resolver a questão antes que o consórcio VEM ABC, vencedor da licitação, acabe desistindo do projeto.
Trem Intercidades – Definir a forma de tirar o projeto do papel
Menina dos olhos de Alckmin, o trem regional foi uma das mais emblemáticas promessas não cumpridas do tucano. O projeto nasceu ambicioso, com vias segregadas e velocidade média alta, na casa dos 200 km/h. Até um impressionante túnel entre São Paulo e baixada santista foi pensado e que teria um profundidade sem igual no país. Mas a ideia se mostrou extremamente custosa e pouco depois o governo decidiu aproveitar parte do traçado atual das linhas da CPTM para baratear o projeto. Nem assim o plano funcionou e recentemente a gestão Alckmin mudou de ideia novamente e contratou um estudo para que o Trem Intercidades aproveite o leito existente em conjunto com trens de carga.
Curiosamente, o trem regional virou bandeira de vários candidatos, mas França e Doria certamente têm visões diferentes sobre ele. Para o atual governador, implantar uma extensão da Linha 7 até Campinas é algo viável e rápido. Já o ex-prefeito de São Paulo deve tentar mais uma parceria público-privada, em que moldes só saberemos quando um dos dois assumir a cadeira do Palácio dos Bandeirantes no dia 1º de janeiro de 2019.
Boa tarde Ricardo Meirer
Essas obras do Metrô como por Exemplo a Extensão da Linha 5 Lilas até o Jardim Angela.
A execução para a obra acontecer fica a cargo do Metrô? ou fica a cargo do Governador de escolher qual obra fazer?
Boa tarde Ricardo Meirer
Quanto a obra de Extensão do Metrô da Linha 5 Lilas até o Jardim Angela.
A responsabilidade por querer fazer essa obra, fica a Cargo do Metrô ou fica a cargo do Governador querer executar essa obra.
Oi Rafael, a decisão é política. Cabe ao Metrô estudar o traçado e a demanda. Com aval do governo então são realizados os projetos para implantação e, posteriormente, a licitação da obra. A equação envolve o impacto da extensão, o custo e a disponibilidade de recursos. E, claro, um certo viés eleitoral, afinal o governador em questão pode influir ao priorizar trechos que lhe interessam politicamente.
Show de Matéria.
Tomara que as extensões e novas linhas saiam o mais rápido possível do papel, independente de quem seja o governador.
E deixo uns “pitacos” também… a CPTM chegou a estudar a Linha Amarela até o Pari, o que sera excelente pois desafogaria um pouco a Luz, mas depois não se falou nada sobre isso, qual foi a desculpa para não tocar o projeto em frente?
Creio que não seria tão complicado assim, pois a distância nem é tão grande… e digo mais seria bacana se a Linha atingisse também os Bairros da Vila Guilherme e da Vila Maria, até porque a Linha Amarela comparada as demais é bem curta, e com tal extensão ficaria bem próxima das outras.
Outro estudo que fizeram,mas também não deram nenhuma satisfação, foi sobre a Linha Esmeralda até Parelheiros, o que também seria ótimo para aquela região.