Projeto lançado em sua gestão como governador do estado, a Linha 18-Bronze no Metrô foi defendida pelo ex-governador Geraldo Alckmin em entrevista ao jornal Diário do Grande ABC. O tucano afirmou que o projeto é necessário e que poderia ser relicitado, embora tenha admitido que não sabe dizer em que situação o contrato está – atualmente passa por um processo de arbitragem solicitado pela concessionária vencedora do certame, a VEM ABC.
Para Alckmin, o projeto de monotrilho “não pode ser abandonado, esquecido”, argumentando que outras linhas de metrô estão prestes a chegar a municípios da Grande São Paulo nos próximos anos como Guarulhos e Taboão da Serra e que o ABC Paulista não pode ser uma exceção.
A Linha 18-Bronze foi modelada como uma PPP (Parceria Público-Privada) orçada em R$ 4,2 bilhões em 2013. Em agosto de 2014, Alckmin assinou o contrato com a VEM ABC, que deveria ter ficado à frente do ramal por 25 anos, sendo quatro deles para a construção dos 14,9 km e 13 estações entre Tamanduateí e o centro de São Bernardo do Campo.
Durante o evento de assinatura há mais de seis anos, o ex-governador salientou que o projeto havia sido “uma união de esforço dos três níveis de governo e da iniciativa privada. Transporte de alta capacidade, cada trem do monotrilho tira de 10 a 12 ônibus das ruas e 500 carros”. Alckmin se referia ao fato de o projeto ter sido defendido pelo ex-prefeito de São Bernardo, o petista Rogério Marinho, e contar com recursos federais por meio do PAC, na gestão de Dilma Rousseff.
Na prática, no entanto, o governo federal nunca repassou um centavo para o projeto além de tornar o estado de São Paulo incapaz de contrair novos empréstimos, o que impediu o financiamento das desapropriações necessárias para dar luz verde à construção. Apesar disso, o governo Alckmin acabou não tendo sucesso em obter os recursos após ter sua nota revista durante a gestão do presidente Michel Temer.
Possível candidato em 2022
Quando assumiu o governo, João Doria, indicado por Alckmin, quebrou a promessa de campanha de viabilizar a Linha 18-Bronze. Em julho do ano passado, ele anunciou que o monotrilho seria cancelado e em seu lugar seria construído um corredor de ônibus ‘BRT’. Semanas atrás, soube-se que a mudança visava repassar o projeto para a concessionária Metra, que opera os ônibus do Corredor ABD, e que teria sua demanda afetada pelo monotrilho.
Na solução costurada pela EMTU, companhia que gerencia as concessões de ônibus intermunicipais, a Metra e seus donos (o tradicional grupo Viação ABC) terão o contrato do Corredor ABD prorrogado por mais 25 anos mediante a construção e operação do ‘BRT’ além de linhas de ônibus secundárias. A proposta está em análise pelas comissões de privatização e parcerias privadas do governo do estado, mas deve ser aprovada em breve.
Curiosamente, Alckmin não propôs o fim dos corredores na região que, na sua visão, complementam o transporte sobre trilhos. O posicionamento de evitar conflitos, no entanto, coincide com informações reveladas pela jornalista Sonia Racy na semana passada que apontam que o ex-governador pretende voltar a se candidatar ao governo do estado em 2022. A intenção, entretanto, não seria apoiada por Doria, que estaria preparando a candidatura da secretária do Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen.
Esta declaração do Alckmin que embora seja do mesmo partido de Dória além de confirmar a discórdia é mais uma constatação da vulnerabilidade de decisões abstratas e que a politicagem no Brasil sempre prevalece acima das decisões técnicas sensatas.
Nas gestões técnicas financeiras de quaisquer empresas ou empreendimentos, é importante e imprescindível que se faça a retomada seletiva pelos que possuem chances consistentes e reais de retorno do investimento, principalmente no atual cenário econômico, e não se ficar anunciando de forma simultânea e aleatória como já acontece frequentemente novas linhas sem concluir as que se iniciaram.
É fundamental em engenharia que a construção e montagem devam ter seu cronograma cumprido dentro do prazo e não se adicione inúmeros aditivos alterando o orçamento original.
Também neste principio, existe um ditado que diz “Em engenharia, quando a construção e montagem inconclusas conforme o planejado, os gastos com ás desmobilizações, retomada, mobilização, a única coisa que é certa é o prejuízo”.
Como resultado tem se elevados gastos com equipamentos ociosos, alguns em deterioração e em estado de condicionamento e comissionamento devido ao adiamento constante dos projetos, montagens, construções e testes até as partidas de operações das Linhas.
Ainda tenho esperança que a porcaria do BRT não saia do papel e o projeto original seja retomado, mas para isso o canalha maior, o “gestor”, tem que ser derrotado na próxima eleição.
Na verdade, do ponto de vista técnico, a Linha 18 nunca foi planejada pelo Metrô. Ela teve de ser aceita como “projeto” da Secretaria (STM) na ocasião. E agora o Metrô acatou o seu cancelamento também por parte da STM (e ponto final).
A Linha 18 é sim, obviamente, de extrema necessidade e importância para a região do ABC. Mas a sua integração com a rede é (ou era) péssima. Jogar toda a sua demanda pendular numa estação que já recebe grande demanda, em uma linha (Verde) que já estará superlotada, é (ou seria) uma ideia no mínimo suicida, além de querer driblar as Leis da Física.
Essa linha teria de ser resgatada com uma adição no seu projeto original. Deveria seguir além de Tamanduateí e atender Ipiranga, onde também teria acesso direto à Linha 5-Lilás. Sem no mínimo esta alteração, fica difícil dizer que a L18 era um bom projeto, ainda que ela continue sim sendo essencial para o ABC, e eu a defenda no lugar desse BRT inventado.