Era final de 2012 e a concessionária GRU Airport, que assumira a administração do aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul, mostrava serviço ao construir um novo terminal internacional em tempo recorde, capaz de ser usado na Copa do Mundo de 2014. O governo do estado, na época, acabara de anunciar o início das obras da Linha 13-Jade da CPTM, que faria a ligação do terminal aeroportuário com a rede metroferroviária de São Paulo, uma antiga promessa de outras administrações.
A previsão da gestão Alckmin, no entanto, era fantasiosa: entregar a obra em apenas 18 meses. O então secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, até explicou tamanho otimismo: “a maior parte do trajeto não exige desapropriações” e que o projeto não seria tão complicado de implantar. O tempo passou e a promessa, claro, ficou no passado, afinal a Linha 13, com sorte, deve ser entregue no início de 2018, ou seja, mais de cinco anos depois de lançada. Mas não foram apenas os agentes públicos que alardearam algo que não eram capazes de entregar. A própria GRU Airport conta sua parte da piada de mau gosto.
Na época, o presidente da concessionária, Antônio Miguel Marques, fez pouco caso da chegada da Linha 13 às proximidades do aeroporto. “Quando a Linha for entregue um dia antes inauguramos o people mover”, registraram alguns jornais. Agora, mesmo com todo atraso da linha da CPTM, o ‘trenzinho’ da GRU Airport não passa apenas de uma ideia. Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, a concessionária estima entregar a ligação férrea entre a estação da Linha 13 e os terminais 2 e 3 apenas 18 meses após a abertura do ramal.
Ou seja, nada de ligação rápida e de alta capacidade para os passageiros, funcionários e visitantes do aeroporto pelo menos até 2020.
Situação precária
A concessão do aeroporto em 2012 implicou em várias mudanças na região. Além de repensar a ocupação da imensa área que ocupa o terminal aéreo, a GRU Airport decidiu cancelar a cessão de um terreno em frente ao atual Terminal 2 e que seria usado como estação da Linha 13. No local, a empresa pretendia construir um centro de convenções e shopping a fim de explorar potencial comercial dos milhares de usuários que passam pelo local diariamente.
Com isso, a estação Aeroporto foi deslocada para uma área distante dos prédios principais de Guarulhos, relativamente próxima do atual Terminal 1, o famoso puxadinho, construído na época da Infraero. O problema é que o local fica a cerca de 2 km dos principais terminais, distância que não pode ser feita a pé ou por esteiras. A solução da concessionária parecia perfeita e alinhada com o que se vê nos maiores aeroportos do mundo, o “people mover”, espécie de trenzinho aéreo capaz de dar conta das mais de mil pessoas que poderão desembarcar da Linha 13 a cada oito minutos (intervalo previsto no início de operação).
No entanto, a GRU Airport nunca chegou a dar detalhes de como seria esse “people mover”. Rumores sobre um monotrilho surgiram, mas sem que um trajeto ou formato fosse confirmado. O que se pode imaginar é que teria três estações, uma ao lado da CPTM, outra no centro do Terminal 2, onde hoje existem estacionamentos descobertos, e uma terceira parada em frente ao Terminal 3, responsável pelos voos internacionais. O trajeto pode ser feito em poucos minutos e dar conta de malas e outros volumes comuns em viagens de avião.
O que não estava previsto no horizonte é que a concessionária estivesse passando por sérias dificuldades financeiras a ponto de atrasar o repasse da outorga de R$ 1,1 bilhão ao governo federal. Com a crise financeira do país, o movimento de passageiros tem caído brutalmente, reduzindo receitas da empresa. E o governo Temer já planeja até mesmo repassar a concessão para outras empresas mais saneadas.
Em outras palavras, como esperar que uma empresa em dificuldades ofereça um sistema de transporte como o “people mover” a tempo de ser usado em conjunto com a linha? Com isso, restará aos passageiros que usarem a linha ferroviária que tenham paciência em esperar ônibus que provavelmente terão de dar conta do imenso volume que a estação terá.