Porque a Linha 17-Ouro do Metrô pode não ser inaugurada até 2022

Previsão feita pelo governador João Doria nesta quinta-feira (17) não encontra subsídios no planejamento da própria companhia metroviária
“Destino Congonhas”: nome da estação pode mudar (GESP)

O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quinta-feira (16) a retomada das obras civis remanescentes da Linha 17-Ouro do Metrô. Segundo o tucano, o ramal de monotrilho será entregue até 31 de dezembro de 2022, não por acaso a data de encerramento do seu mandato à frente do estado de São Paulo. Em discurso na estação Morumbi, que não faz parte do escopo da Coesa Engenharia (empresa que assumiu o contrato), Doria afirmou que os trabalhos começarão já nesta sexta-feira, dia seguinte à assinatura da ordem de serviço.

A luz verde para que as obras de sete estações, pátio de manutenção e vias sejam finalizadas era esperada há vários meses. Logo ao assumir a secretaria dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, ex-deputado e Ministro das Cidades no governo Temer, decidiu romper o contrato com o Consórcio Monotrilho Integração, que havia sido vencedor da principal licitação do projeto ainda no início da década. Para substituí-lo, o Metrô desmembrou os trabalhos em duas licitações, de obras civis e de sistemas (incluindo trens), mas ambas apresentaram questionamentos na Justiça que só foram resolvidos neste semestre.

Com isso, a previsão de entrega do ramal de 7,7 km e oito estações deveria ter sido reprogramada, porém, o governo resolveu bancar a conclusão dos trabalhos em 2022, data que já constava há bastante tempo das previsões. Segundo afirmação pouco clara de Baldy no comunicado enviado à imprensa, “agora, se não houver óbices judiciais, entregaremos para a população em 2022”. No entanto, para cumprir essa promessa será preciso que não só a Coesa, mas sobretudo a BYD, fabricante dos trens e sistemas, se desdobrem para adiantar os serviços e assim anteciparem de forma ampla os cronogramas oficiais do Metrô.

Trabalho até 2024

O site fez um levantamento dos prazos mencionados no documento de “Datas Marco”, que estipula a quantidade de dias de trabalho em diversas partes do escopo dos contratos. A constatação é que a Coesa pode realmente cumprir os pontos mais importantes do projeto, que tem como prazo de execução dos serviços de 30 meses, ou seja, 17 de junho de 2023.

Baseado no planejamento do Metrô, a construtora poderia concluir os serviços relacionados diretamente com o monotrilho até outubro de 2022. Essa previsão, no entanto, é apenas teórica já que parte da premissa que o governo assinou a ordem de serviço para todas as etapas do contrato ao mesmo tempo. Isso não ocorre normalmente já que geralmente essa autorização é feita de forma escalonada, à medida que etapas avançam, como o projeto executivo, necessário para que as obras possam ser realizadas.

Ou seja, a margem de manobra da Coesa é pequena em algumas frentes como a que envolve concluir o pátio Água Espraiada (420 dias) e as passarelas de emergência (480). Mas sim, há de se considerar que os trabalhos podem ocorrer de forma mais célere que o previsto e com isso a empresa cumpra sua parte no projeto em meados de 2022.

O que Coesa e BYD tem a fazer pela frente e o tempo máximo para cada tarefa (As datas foram estimadas pelo site com base em documentos do Metrô)

O problema nesse caso é que as sete estações poderão se juntar à Morumbi, que é parte de outro contrato e está prestes a ser entregue ao Metrô. Detalhe: sem vigas-trilho, sistemas e portas de plataforma, que fazem parte dos novos contratos. E ficará assim, como uma ‘miragem’ por pelo menos dois anos. Ocorre que o andamento do contrato da chinesa BYD é crucial para que a Linha 17 seja entregue num prazo razoável, mas aqui o cronograma é mais complexo e demorado.

Embora tenha sido retomada em outubro após decisão judicial que confirmou a BYD à frente do projeto (assinado originalmente em abril), a execução desse serviço tem prazo de 38 meses ao todo, terminando em tese por volta do final de 2023. O cronograma de “Datas Marco”, entretanto, é preocupante para as aspirações do governador de deixar o cargo com o ramal pronto.

Considerando como data de início o mês de outubro (a informação oficial não foi divulgada), a BYD teria como metas mais próximas concluir as instalações de portas (480 dias), bandejamento (510) e rede de fibra ótica no trecho operacional (540). Todos esses serviços poderão ser realizados ainda em 2022, mas outros como o sistema de energia, instalação de track-switches e sinalização podem ficar para 2023. Sem eles, não há como a linha funcionar.

Primeiro trem em 2023?

O cronograma também prevê 900 dias para a integração de todos os sistemas, o que levaria os trabalhos até 2024. No entanto, não é de hoje que Metrô e CPTM colocaram trens para operar sem que tudo estivesse concluído. Reza a lenda que a Linha 5 operou na inauguração da estação Eucaliptos no modo manual em 2018 enquanto a Linha 13 estreou com apenas um trem para evitar riscos já que não havia sinalização pronta.

Maquete do monotrilho SkyRail: BYD tem a tarefa mais difícil para viabilizar uma (pouco) possível entrega em 2022 (STM)

Mas sem um trem não há como inaugurar nenhuma linha metroferroviária e nesse quesito, os prazos previstos também não ajudam. A fabricante chinesa terá que concluir a primeira composição do monotrilho em até 720 dias, segundo o documento. Baseado em outubro, esse prazo chegaria a julho de 2023, mas uma abordagem mais otimista, que incluiria uma possível continuidade dos trabalhos de desenvolvimento na China pela BYD mesmo com o imbróglio na Justiça, somado a um ritmo de desenvolvimento mais veloz, característico das empresas do país, e o primeiro trem poderia ficar pronto em 2022.

Essa hipótese, que também teria de incluir um mínimo de sistemas funcionando, poderia permitir a Doria circular a bordo do monotrilho por um pequeno trecho da Linha 17 e assim realizar uma entrega simbólica, como fizeram seus antecessores em outros ramais. Mas daí a afirmar que a população (estimados 185 mil passageiros diários) terá a Linha Ouro entregue até dezembro de 2022 é evidentemente um palpite arriscado. Que a BYD e a Coesa nos desmintam, mas até lá pairam as dúvidas sobre a real data de inauguração do enrolado ramal do Metrô.

Nota do editor: todas as datas apresentadas neste artigo são estimadas com base em documentos da licitação e portanto apenas ilustrativas. O site não teve acesso às ordens de serviço para calcular o cronograma com maior precisão.

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5 comments
  1. A linha 17 já foi concedida, mas os operadores da ViaMobilidade não tem qualquer experiência com trens de monotrilho, já que o único sistema em funcionamento é de responsabilidade do Metrô; se o governador forçar a operação em modo manual, podemos ter alguns problemas…
    Eu chuto que ele vai “inaugurar” o sistema em 2022 com 1 trem e em manual e, assim que as eleições para presidente acabarem, vão fechar o sistema pra instalar o que faltou

    1. e talvez só assumam depois do metrô operar e resolver os problemas. é assim q funciona, CCR governo só dá filet mignon

  2. Uma vergonha como o metrô é usado politicamente pelo PSDB. Este modo construtivo foi escolhido, com a desculpa de que seria mais rápido e mais barata. A única coisa que conseguiram de fato, até agora, foi estragar a paisagem urbana, com estes postes pela Av Roberto Marinho, e outras. Lamentável!

  3. “Segundo o tucano, o ramal de monotrilho será entregue até 31 de dezembro de 2022, não por acaso a data de encerramento do seu mandato à frente do estado de São Paulo.” esse trecho já responde tudo

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