É um círculo vicioso: o governo faz promessas que não pode cumprir, a imprensa divulga e a população acredita. O tempo passa, os prazos não são cumpridos, a imprensa critica e a população reclama. Meses depois, o governo volta a prometer o impossível, a imprensa novamente não questiona e o público volta a acreditar. E assim as obras públicas seguem no Brasil, causando frustrações, custos cada vez mais altos e desperdício de dinheiro.
O caso mais recente de promessa impossível foi feita pelo governador Geraldo Alckmin. Em menos de duas semanas ele anunciou com pompa que inaugurará nove estações da Linha 5-Lilás em 2017, três em julho e o restante no final do ano. A previsão não é novidade. Ela é repetida há bastante tempo, desde quando ficou claro que os prazos anteriores já eram impraticáveis.
Pois estamos numa situação semelhante. Apesar de as obras estarem na reta final na maior parte dos canteiros simplesmente não é possível acreditar que a população poderá usufruir da extensão da Linha Lilás ainda neste ano. É tudo uma questão de bom senso, que anda faltando no governo do estado.
Infelizmente, a imprensa generalista não tem questionado o governador e seu secretário por razões que desconhecemos. As obras do Metrô e da CPTM, embora em bom ritmo em algumas frentes de trabalho, ainda estão muito distantes de serem entregues.
O blog decidiu então ir contra a maré de notícias repetitivas e sem profundidade e enumera a seguir as razões pelas quais não acreditamos que a promessa do governador será cumprida. Esperamos estar completamente errados e que em dezembro precisemos atualizar esse artigo com nossas desculpas, mas até lá muita coisa terá de avançar para mudar essa realidade.
1 – Sem trem não tem extensão
É hoje a maior limitação da Linha 5. Para ampliar a operação, é preciso utilizar parte dos 26 trens da Frota P, que começaram a chegar em 2013 mas até hoje não são usados. Culpa do sistema CBTC, que controla o movimento das composições e que não está pronto (os novos trens só vêm equipados com ele). Sem que ele esteja confiável não há como atender a demanda dessas novas estações. E isso tem sido um problema.
O Metrô chegou a prometer a estreia do sistema em agosto do ano passado, mas depois passou para setembro. Nada aconteceu. Este ano, pela primeira vez, a Bombardier, responsável pelo sistema, realizou uma simulação completa num domingo de janeiro. Na semana seguinte, uma nova simulação foi interrompida no meio da manhã por uma falha desconhecida. Após mais um longo intervalo, um novo teste geral foi marcado para o último domingo (12), mas o Metrô o cancelou antes mesmo de começá-lo quando um defeito na interface entre o CBTC e um aparelho de mudança de via surgiu, conforme um operador de trens informou ao blog.
Ou seja, para abrir as três estações em julho (Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin) será preciso que o CBTC entre em operação em menos de cinco meses. Nada garante que isso irá evoluir tanto em tão pouco tempo. O mais provável é que o trecho novo seja aberto apenas para viagens em horário reduzido e com intervalos imensos. Em resumo, não resolvendo a situação de ninguém.
2 – Obras atrasadas
Exceto por Brooklin que, como mostram as últimas imagens, está realmente perto de ser concluída nos próximos meses, as demais estão atrasadas. Mesmo Borba Gato e Alto da Boa Vista têm muito ainda a fazer. É possível completá-las até julho, porém, será aquela situação em que boa parte do acabamento será feita com a estação aberta.
Quanto ao outro trecho prometido, que vai até Chácara Klabin, a situação é ainda mais complicada. Há ainda muita concretagem a ser feita sem falar na passagem pela estação Campo Belo, a mais atrasada delas. Hoje ela ainda é um imenso buraco e para permitir que os trens passem por ela para chegar até a região de Moema será preciso um esforço imenso durante o ano.
3 – Concessão ou operação pelo Metrô?
O governo já avisou que vai conceder a Linha 5 e a Linha 17 durante o ano. O edital deve ser publicado nos próximos meses, caso não ocorra alguma mudança de estratégia. A concessão é necessária porque o Metrô não tem funcionários para operar a nova linha. Um concurso foi aberto recentemente, mas com um limitado número de contratações. Resta saber se haverá tempo para que o ente privado possa assumir a linha e iniciar a operação assistida dos novos trechos. Ou se o Metrô fará isso com um quadro reduzido de funcionários.
Como se vê, a perspectiva não é tão ‘florida’ quanto quer fazer crer o governador. Seria ótimo que a Linha 5 operasse para valer ainda em 2017 – o impacto da sua chegada pode ser até mais significativo para a rede do que foi a Linha 4-Amarela. No entanto, diante do histórico de atrasos e problemas da implantação do Metrô, é difícil crer nesse otimismo.
Em vez disso, o blog acredita que neste ano haverá sim uma operação assistida e limitada até Brooklin (talvez até sem as duas estações do meio no começo) e que nesse meio tempo o Metrô possa testar o sistema CBTC numa das vias do trecho novo. A barreira que separava o atual trecho do novo começou a ser desmontada na semana passada, um sinal que em breve os sistemas estarão prontos e trens poderão circular após Adolfo Pinheiro.
É possível que no início de 2018 haja uma nova operação assistida até a estação AACD-Servidor, um trecho que está num ritmo melhor de obras. Já a chegada a interligação com Santa Cruz e Chácara Klabin só deverá acontecer no segundo semestre de 2018, também de forma gradual. Em outras palavras, a Linha 5-Lilás, enfim, terá uma operação plena entre o final do ano que vem e 2019. Se não houver surpresas, é claro. Como se vê, não é um anúncio que agradaria a um político.
Muito sensato, Meier! Vamos ver como rola…
Alguém sabe dizer sobre o andamento das estações da linha 4 amarela e se serão inauguradas em 2017 (Higienópolis – Mackenzie e Oscar Freire) Obrigado!!
Olá, Giovane. O plano é esse mesmo, inaugurar Higienópolis-Mackenzie e Oscar Freire este ano. As obras estão em bom ritmo e é bem possível que o prazo seja cumprido.
Ricardo bom dia,você poderia fazer uma matéria falando sobre o tamanho da estação Santo Amaro ,e sobre o problema que a mesma terá se não fizerem uma obra de expansão.
Bom dia. Ótimo texto. Concordo plenamente. Sobre a operação, na incerteza se será concessão ou não, caso o Metrô inicie a operação, por ser uma linha moderna, automatizada, não seria possível operar com menos funcionários?
Alckmin está fazendo campanha. O que a tríade Doria-Alckmin-Temer quer é que as pessoas comprem carro. Eu duvido que se fará muito pelo transporte coletivo enquanto esses estiverem no comando.
Boa Tarde,
A estação Chacara Klabin – Linha Lilas quando entrará em operação?
Obrigada