Projeto de modernização do CCO do Metrô é alvo de pedido de impugnação

Possível participante do projeto CCOx reclamou à companhia que a exigência de um datacenter de ponta irá restringir a concorrência
CCO (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

O Metrô de São Paulo está em franco crescimento, o que faz com que a companhia precise se preparar para o futuro. É com esse pensamento que foi publicada a licitação que visa a reforma e reestruturação total do Centro de Controle Operacional, o denominado projeto CCOx. O ambicioso plano tem como metas ampliar as áreas existentes, realocar setores e possibilitar que um novo nível de segurança de informação seja atingido. Para tanto, grandes exigências são necessárias, o que motivou um empresa a entrar com um pedido de contraposição as alguns requisitos do edital.

Um projeto muito exigente?

O pedido de impugnação foi enviado pela empresa Seal Telecom Comercio e Serviços de Telecomunicações Ltda. Segundo o documento que foi disponibilizado nessa segunda-feira (12), são dois grandes argumentos que poderiam prejudicar a licitação. O primeiro deles se refere a estrutura de datacenter que o Metrô pretende implantar no CCOx. Como explicamos nesse artigo, a Cia. do Metropolitano pretende realizar a virtualização do seu parque de máquinas de forma que o numero de equipamentos disponíveis na sala de controle seja o mínimo possível.

Tendo em vista que o CCO é o cérebro das operações do Metrô de São Paulo, a Cia. exigiu que fosse implantado um Datacenter de Tier 4. Segundo a Seal, os datacenters de Tier 4 são extremamente complexos e raros no Brasil, sendo que existem apenas dois deles no Brasil que atendem ao Banco Santander e a Telebrás. Como a maioria dos Datacenters em território nacional é de Tier 3 e o edital exige experiência previa na instalação de estrutura de Tier 4, fica inviabilizado a competição por parte da maioria das empresas brasileiras.

Outro ponto que também foi mencionado se trata da comprovação de elaboração e execução de projetos de arquitetura e design de interiores considerando questões ergonômicas, luminotérmicas e de conforto termo acústico. Segundo a Seal, a necessidade deste tipo de comprovação “revela-se descabida, pois também restringe a participação de diversas empresas na licitação”.

Datacenter Tier 4

Para entender plenamente o teor da impugnação, é necessário entender o que é um datacenter e o que é o Tier 4.

O datacenter é basicamente um centro de processamento de dados formados por uma série de computadores de altíssimo desempenho e dedicadas unicamente a essa função. É um local altamente estruturado que comporta uma série de sistemas de rede por onde transitam informações, que em vários casos, podem ser extremamente sensíveis.

No caso do Metrô de São Paulo, o sistema de datacenter fará o controle direto de toda a cadeia de informações que estão relacionadas a operação, manutenção e segurança do público. Tendo em vista que essas informações são extremamente sigilosas, sensíveis e precisam ter altíssimo índice de disponibilidade, sob custo de grandes prejuízos financeiros e inclusive riscos de segurança que possam colocar vidas em risco, o Metrô exigiu o datacenter com Tier 4.

Os datacenters possuem Tiers que variam do 1 ao 4 e medem a capacidade de segurança do mesmo. O datacenter de Tier 1, por exemplo, é aquele que não apresenta nenhum sistema de redundância, ou seja, em casos de eventos anormais ele pode ficar indisponível. O datacenter de Tier 4 é considerado o mais seguro e preparado para reagir a falhas, ou seja, caso haja um evento adverso como queda de energia automaticamente um grupo de geradores atua para manter o sistema ativo. Vale destacar que essa autonomia de energia para geradores de datacenters de Tier 4 é de pelo menos 96 horas. Além disso existem equipamentos de energia, refrigeração e cabeamentos redundantes. Isso significa que o datacenter possui itens duplicados ou triplicados o que permite a comutação de rotas e equipamentos em casos de emergência, onde há indisponibilidade dos dispositivos principais.

Por fim, destaca-se a autonomia e confiabilidade do sistema que apresenta disponibilidade de 99,995%. Em outras palavras, em um ano o servidor pode ficar no máximo 26 minutos fora do ar, isso em situações extremamente desfavoráveis.

Divisão por setores do CCOx. O Datacenter está localizado no no setor cinza a direita do ambiente (CMSP)

Conclusão

O Metrô de São Paulo realmente pensa no futuro e está exigindo o que há de melhor para o seu novo centro de controle. Em um mundo cada vez mais digital é importante pensar em soluções que sigam por esse vertente. A impugnação da Seal pode ser considerada ao mesmo tempo que um aviso, mostrando que o edital pode ter inconsistências que levem a um futuro processo de paralisação, como um atestado que revela que boa parte das empresas não está preparada para suprir o mercado nacional com uma infraestrutura de tamanho requisito técnico.

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3 comments
  1. Ao buscar uma modernização como a feita pelo Metrô creio que é no caminho de evitar com que uma nova remodelação tenha que ocorrer num futuro próximo. O número de dados, informações e aspectos que o Metrô deve hoje se atentar para a sua operação nem se compara com o que tínhamos 10 anos atrás e por isso é louvável esse olhar para o futuro, pois a tendência é que a estatal seja cada vez mais e mais exigida por eficiência.

    No caso da impugnação apresentada, o ponto a ser pensado é esse: o Metrô busca por uma tecnologia específica pensando em não precisar remodelar o seu CCO por um longo período. De nada adianta a empresa não concordar com a estrutura montada se não apresenta argumentos que não passam da sua (in)capacidade técnica.

    Um dos papeis da licitação é o auxílio na fomentação de novas tecnologias e o seu desenvolvimento e implementação por um maior número de empresas. Neste caso apesar de inicialmente termos esse risco de limitação de competição pela ausência de empresas com domínio na implementação da estrutura, futuramente a sua instalação faça com que as que hoje não podem participar venham a buscar um aprimoramento nos seus trabalhos, de forma a agregar o conhecimento de tais equipamentos no seu portfolio, visto que haverá a necessidade seja de novas implementações em tal sentido, seja de manutenções ou reparos que venham a ser necessários.

    É preciso superar a ideia de olhar para uma licitação de forma simplista, apenas achando que ela deve buscar o “menor preço”. Claro, a economicidade é um dos pressupostos dela, mas ele deve vir alinhado com uma técnica e expertise com o que se busca na contratação. Um exemplo (mesmo que bem simplista) que eu sempre gosto de dar é o seguinte: você vai no mercado e somente olha para os preços dos produtos que vai comprar ou você compara o preço com a qualidade? Creio eu que a grande maioria das pessoas, quando pode, opta pela segunda opção. Isso, por exemplo, foi o que vimos nas matérias aqui sobre o Monotrilho da Linha 17 – Ouro: do que adiantaria uma empresa que deu o lance mais barato se ela não provou que sabe lidar com o sistema, a sinalização e que não provou que implantou um modelo de acordo com as exigências feitas pelo Metrô?

    Enfim, que esses fatos possam ser esclarecidos mas que o melhor interesse para o Metrô possa prevalecer acima de tudo.

  2. Gostei da primeira frase
    “ O Metrô de São Paulo está em franco crescimento “
    Parabéns pelo otimismo

  3. O principal problema apontado pela empresa é a necessidade de comprovar experiência previa na implantação de um datacenter Tier 4, sendo que só existem duas instalações deste porte no Brasil, ou seja, são pouquíssimas empresas que poderão comprovar.
    Outro problema que vejo é que não basta apenas ter geradores de energia disponíveis para caracterizar um datacenter Tier 4, é necessário redundância no fornecimento de energia elétrica distribuídos por subestações distintas de empresas distintas. E na Capital somos atendidos apenas pela ENEL.
    Um datacenter deste porte vai sair muito caro, veja os preços dos itens de informática…
    Penso que a melhor saída para o metrô no momento é um datacenter Tier 3 e agregando um projeto de energia solar seria muito mais viável.

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