Quais são os desafios para a Acciona entregar a Linha 6 dentro de 4 anos

Após quase um ano de retomada de obras, o que estava no papel começa a se traduzir de forma concreta nos canteiros de obra. A gestão da maior obra de infraestrutura do Brasil deverá passar por grandes desafios nos próximos 4 anos
Acciona tem 4 anos para finalizar as obras da Linha 6 (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

A maior obra de infraestrutura e mobilidade do Brasil é a Linha 6-Laranja de metrô. Passados quase um ano desde a retomada das obras, a Acciona, responsável pela implantação da nova linha, tem um grande desafio: dar a luz à mais moderna linha metroviária do país dentro de 4 anos.

Certamente um dos pontos mais importantes do projeto é a escavação dos túneis por onde os trens irão trafegar. O trajeto, que possui cerca de 15 km de extensão, é dividido em dois trechos, devido aos tipos de terreno muito distintos.

No sentido São Joaquim, o percurso será de 9,5 km com o solo apresentando maior quantidade de argilas e areia, que são materiais que apresentam maior facilidade para escavação.

No sentido norte, por sua vez, há o desafio de atravessar um maciço rochoso até a estação Brasilândia, num percurso de 5,2 km. Lembrando que serão utilizadas duas tuneladoras diferentes nas escavações, uma para cada tipo de terreno.

Esquema de escavação na Linha 6

O diâmetro das tuneladoras é de 10,61 metros e tem potencial de avançar até 3 metros de terreno por hora. O Shield EPB é uma máquina que consegue, ao mesmo tempo em que escava, instalar os anéis de concreto que foram o revestimento do túnel.

O túnel é formado por uma série de anéis que são constituídos por nove aduelas, sendo uma delas a pedra K, que é responsável por realizar as mudanças de direção do túnel. Cada um destes anéis pesa 58 toneladas e representa um avanço de 1,8 metro na conclusão do túnel.

Características técnicas do TBM EPB

Um dos grandes desafios para a abertura dos túneis é a capacidade da fabricação de anéis de concreto. Atualmente as aduelas estão sendo produzidas em uma fábrica especializada em Perus, zona norte de São Paulo. A fábrica tem capacidade de produzir 5 anéis por turno e até 15 anéis por dia. Considerando a produção máxima de aduelas e o trabalho de escavação do shield, a Acciona será capaz de executar até 27 metros de túnel pronto em apenas um dia. Para isso, o tatuzão deverá executar uma rotina de trabalho de pelo menos 9 horas por dia.

A fábrica de Perus tem capacidade para armazenar até 1.460 anéis de concreto. Até então foram produzidos 1.168 anéis, o que representa 21% do total necessário para a instalação em todo o percurso da Linha 6-Laranja.

Ao todo serão fabricados 5.532 anéis de concreto, o que representa aproximadamente 50 mil aduelas de concreto. A fábrica deverá iniciar a operação no começo de 2022 e deverá estar ativa pelo período de 16 meses.

Fabrica de aduelas em Perus

Outro ponto a ser considerado para a conclusão das obras dentro dos próximos quatro anos é a gestão do projeto através da aplicação de metodologias enxutas de construção. O processo de Lean Construction visa aprimorar o gerenciamento da obras com eliminação de desperdícios, comunicação mais aberta e transparente, além de um monitoramento semanal e diário das diversas atividades desempenhadas.

Em relação a construção de estações, a Acciona deverá abrir novos canteiros de obra até o final deste ano. A estação Angélica Pacaembu deverá entrar em obras já no mês de outubro. As estações 14 Bis, Bela Vista e São Joaquim serão as últimas a terem os trabalhos iniciados. Segundo as estimativas da construtora, essas estações deverão receber o sinal verde até o final de 2021.

Cronograma para a abertura de frentes de trabalho

O cronograma geral das obras prevê a implantação total da linha dentro de 5 anos. Deste período, já se passaram 11 meses desde a retomada oficial das obras. O principal foco da Acciona foi direcionado na elaboração dos projetos de estações e túneis, nas escavações, no revestimento primário e nos túneis. Há poucos meses foi iniciada a estruturação das estações e VSEs

O segundo ano de obras será de trabalho constante, onde todos os serviços já iniciados serão mantidos, sem acréscimo de novas tarefas. As novidades começam a surgir a partir do terceiro ano quando está prevista a finalização dos projetos executivos e das escavações. Neste mesmo período serão realizados os primeiros serviços de acabamento e urbanização, bem como a instalação da via permanente.

No quarto ano de obras está prevista a conclusão dos túneis escavados em shield e a finalização da montagem das vias e do revestimento primários de estações e VSEs. Inicia-se a instalação dos principais sistemas nas estações e vias. No quinto ano todas as atividades de implantação das estações e urbanização deverão estar finalizadas. Os últimos serviços contemplarão unicamente o encerramento da instalação dos sistemas para a posterior abertura da linha.

Cronograma das atividades de implantação da Linha 6

Considerando que a retomada das obras da Linha 6-Laranja ocorreu oficialmente em outubro de 2020, o prazo previsto para a operação do novo trecho é outubro de 2025. Ressalta-se que, quanto antes a concessionária iniciar a operação, antes ela poderá amortizar o investimento na construção da linha.

O projeto possui várias peculiaridades que fazem dela uma obra única em vários aspectos. O início das obras sendo realizadas concomitantemente à produção do projeto executivo, a escavação com Shield em terrenos com grande resistência e presença de falhas geológicas, a gestão da saúde dos colaboradores em meio a crise do covid-19 e a alta dos preços dos materiais são pontos que mostram o alto grau de adversidade pelo qual a implantação da Linha 6-Laranja está submetido.

Montagem do Shield no VSE Tietê (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Da mesma forma, a implantação do ramal abre uma grande oportunidade para o aprofundamento das técnicas de engenharia e de refinamento da qualidade dos projetos. O trabalho constante na sondagem do solo trará uma visão mais abrangente dos terrenos existentes ao longo do eixo da linha 6.

A execução dos projetos utilizando inteiramente o BIM (Building Information Modeling) auxilia na análise e melhoria dos empreendimentos a serem construídos. A inovação do uso do concreto em situações específicas pode mitigar danos potenciais decorrentes de eventuais patologias.

Por fim, deixar um legado social para todas as pessoas envolvidas em comunidades lindeiras é um dos papéis mais importantes e relevantes que a LinhaUni poderá deixar para a população de São Paulo.

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  1. Texto excelente, é muito bom ler esses textos análise que você faz, Jean. E ainda enriquece as informações que já divulgadas com dados e um detalhamento mais técnico, parabéns.

    Vale a pena vir ao site justamente para ler informações e explicações interessantes assim, e não apenas por PoliTização.

    Abraço!

  2. Processo construtivo em andamento e deve ser encerrado no prazo. Melhoria na mobilidade urbana e uma pequena contribuição ao meio ambiente c/ redução de combustão automotiva.

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