Três anos após incidente com “run-flat” na Linha 15-Prata, Metrô ainda não multou consórcio responsável

Processos administrativos movidos contra o Consórcio CEML, que forneceu os trens e construiu as vigas guia, estão há meses em “fase de recurso”, segundo companhia
Trem Innovia 300 da Linha 15-Prata (Jean Carlos)

Na próxima segunda-feira, 27, serão completados três anos desde que o trem M20, da Linha 15-Prata, teve um dos pneus estourados pelo desprendimento do “run-flat”, um disco metálico que serve como anteparo de segurança para o monotrilho.

O incidente causou enormes problemas para os passageiros já que o Metrô foi instado a suspender a operação do ramal pelo Consórcio CEML, responsável por fornecer os trens Innovia 300 e também construir as vigas guia por onde esses veículos circulam.

Na época, a empresa temia que a situação pudesse se repetir e solicitou que a Linha 15 deixasse de funcionar para que fosse possível averiguar o ocorrido e fazer as correções necessárias.

O episódio inusitado, no entanto, causou um enorme prejuízo ao Metrô (e indiretamente aos cofres públicos) já que o ramal ficou fechado por nada menos que 95 dias.

Além de causar transtornos aos passageiros, a demora em solucionar o problema fez o Metrô perder arrecadação e, de quebra, gastar recursos para manter o sistema PAESE, de ônibus emergenciais, por cerca de três meses.

Segundo um documento obtido pelo site na época, apenas no primeiro mês de suspensão o Metrô perdeu cerca de R$ 15 milhões.

A Linha 15-Prata só voltou a abrir em 1º de junho de 2020 após o CEML reparar a superfície de várias vigas-trilho, conhecidas pelas irregularidades, e reduzir o diâmetro do “run-flat” para que não houvesse risco de um novo contato com o pneu, o que causou o rompimento de fevereiro de 2020.

Monotrilho da Linha 15: cerca de três meses fechado em 2020 (iTechdrones)

Apenas no dia 29 de junho de 2020, o Metrô instaurou o “Processo Administrativo Sancionatório nº 06/2020” para responsabilizar o consórcio CEML pelo incidente ocorrido com o trem M20. Em que pese a necessidade de defesa do consórcio, o processo em questão se arrasta até hoje.

Este site solicitou, por meio do Serviço de Informaçao ao Cidação (SIC), o atual status da investigação assim como de outros dois processos que correm associados, o 04/2020 e nº 09/2020, que abordam as perdas de receita tarifária e dos custos do serviço PAESE.

A resposta, como em outro pedido feito em junho, foi lacônica. “O presente processo encontra-se em fase de Recurso Administrativo e está em análise por parte da Companhia do Metrô”, disse a empresa.

O conjunto de pneu e roda do monotrilho e o run-flat (Reprodução)

Há oito meses, o processo estava no estágio de “análise das alegações finais” do consórcio, ou seja, aparentemente pouco evoluiu. O conteúdo do processo não foi tornado público pela companhia, o que impede que se entenda quais são os argumentos do CEML para se defender da grave falha apresentada pelo seu trem e obra.

Também não está claro como o Metrô aceitou um projeto que pudesse dar margem para uma situação tão perigosa quanto o desprendimento de peças metálicas sobre uma movimentada via.

Prejuízo de R$ 15 milhões apenas no primeiro mês sem funcionar (Reprodução)

Laudo “secreto” do IPT

Logo que o incidente ocorreu e em meio à discussões entre os envolvidos, o governo do estado solicitou ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) um laudo independente sobre o ocorrido.

Este site tentou obter uma cópia do documento, mas foi impedido pelo governo porque o relatório foi “considerado sigiloso, com classificação de acesso secreto, de acordo com o Decreto 58.052 – Art. 30 – Inciso III”.

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Desde o acidente com o trem M20 não houve mais ocorrências semelhantes, porém, a Linha 15 continua a ter intervenções emergenciais, algumas motivadas por desgastes no concreto das vigas guia, projetadas para durarem dezenas de anos.

Enquanto não recebe uma sanção pelos erros de 2020, o Consórcio CEML continua a celebrar aditivos contratuais como o que incluiu mais trens Innovia 300 a serem entregues nos próximos anos.

Infelizmente, a grande imprensa se esqueceu do episódio de três anos atrás, o que ajuda a transformá-lo em mais um caso sem conclusão.

Sem cobrança aos culpados e a correta prestação de contas pelo governo, a sensação é de que contratos públicos só funcionam para os interesses do lado privado. Ao contribuinte resta arcar com o prejuízo e a irresponsabilidade de alguns.

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  1. Boa reportagem. Além da parte financeira, o governo do PSDB realmente prejudicou a imagem do Metrô e da CPTM. Isso com certeza favorece a privatização já que eles visam descredibilizar a imagem das empresas para a população em geral. O mesmo vem acontecendo com a Sabesp…

    1. Não sabia que todos os funcionários do Metrô e da Sabesp eram membros do PSDB. Renato, poderia nos mostrar a fonte dessa informação?

  2. O Brasil é um dos poucos países onde se premia a incompetência injetando dinheiro a rodo e ainda impurram a narrativa de corte de gastos quando na verdade se está maquiando interesses pessoais promíscuos que só atendem a um reduzido número de pessoas para bancar candidaturas e aposentadorias gordas. A via mobilidade está aí pra confirmar e querem mais. Gestão e capacitação nos tempos atuais se mostram mais eficazes . Se for pra vender tudo o João da feira se mostra mais capacitado para fazer bons negócios do que qualquer um que está aí se dizendo gestor público!

  3. Quem fiscalizou a fabricação, testes (no Brasil e Canadá) e aprovou trens e vigas-trilho foram funcionários do Metrô. Se algo não saiu como deveria, a Cia. do Metropolitano também possui responsabilidade pelos problemas.

    Será que a Cia. vai multar a si mesma?

  4. Não consegui comentar em outra matéria..Falando sobre linha 22 e rosa acho uma grande mentira pois não há motivo fazer uma linha centro bairro essas, já havendo a linha amarela e vermelha nos mesmos lugares, assim como a rosa. Já existe a 9 e a azul, só vai beneficiar após o Jabaquara até Sti André.
    São Paulo é tão carente de linhas porque fazer linhas repetidas.Acho que o metrô quer nos enganar como de, c/ a linha 5 q demorou 20 anos pra ficar pront. Ou será o novo Gov. Tarcísio q quer mostrar serviço mas está perdido

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