A Estação Júlio Prestes é uma das mais icônicas paradas ferroviárias do estado de São Paulo. A grande gare foi construída como ponto inicial das linhas da Estrada de Ferro Sorocabana, bem como sede administrativa da ferrovia.
Ao longo dos anos, a estação passou por várias administrações e, com o tempo, foi se deteriorando. Agora sob responsabilidade da ViaMobilidade, a estação passa por uma grande restauração.
O site acompanhou o andamento deste processo a convite da empresa e mostra passo a passo o que vem sendo feito para recuperar a Estação Júlio Prestes.
Café e ambientes
A proposta de restauro da estação engloba diversas frentes. Uma das que mais chama atenção é a redistribuição dos ambientes. Ao longo dos anos, a configuração da estação foi se modificando e se tornando, em partes, subutilizada.
O programa de restauro deverá realocar diversas estruturas para novos locais. O principal destaque está na alocação das salas operacionais ao fundo da estação.
A atual sala operacional deverá ser convertida em um café, onde os passageiros poderão aproveitar o ambiente da estação para se alimentar. O espaço deverá se tornar imersivo após o restauro, possibilitando um desfrute das características históricas da estação.
Espaços como bilheterias, SSO, além de outras áreas da estação, deverão sofrer realocações, todas contempladas dentro do plano de obras.
Tintas e cores
Em quase todos os ambientes é possível ver um cuidado com a investigação do patrimônio. Dentro do processo de descoberta estão os trabalhos com as tintas e pigmentos utilizados.
As camadas mostram não somente o histórico estético da estação, mas os tipos de materiais empregados na época. A proposta é permitir um restauro fidedigno em termos de cores e materiais.
Dois exemplos que podem ser vistos estão nas pinturas das estruturas metálicas e das estruturas em alvenaria.
No primeiro caso, nota-se que existe uma tonalidade mais escura como sendo a mais antiga. Este tom não é necessariamente o original, pois foi necessário um tratamento da estrutura durante seu processo de importação, para evitar desgastes com a viagem marítima.
O tom que foi adotado na estação foi um vermelho com tonalidade mais escura. As fotos de época, em preto e branco, não conseguem revelar a cor, mas com a prospecção foi possível revelar um traço da história.
No segundo caso, observa-se que as tonalidades encontradas variam bastante de acordo com o ambiente. Em alguns locais foram encontrados até mesmo tons mais escuros.
A tonalidade adotada para os espaços precisa sempre estar em harmonia com o conjunto. Neste caso as equipes técnicas, sempre com aval dos três órgãos de proteção ao patrimônio, deram preferência para a cor “flor de laranjeira”.
Em algumas partes da estação será adotado a cor rosé, uma tonalidade mais clara e sutil do rosa.
Um aspecto importante a ser destacado é o tipo de tinta que é utilizado. Nada das tradicionais tintas acrílicas ou de látex vendidas amplamente. No restauro da estação é utilizada a chamada “Tinta Mineral”.
Este modelo de tinta é composto por silicatos e possui uma reação diferente ao ser aplicada na superfície. Ao contrário das tintas convencionais que costumam descansar ou criar bolor, a tinta mineral é mais resistente pois permite que a parede “respire” eliminando a umidade.
Estruturas em alvenaria
A estrutura em alvenaria é um aspecto importante da estação. O restauro não contempla apenas os aspectos estéticos, mas estruturais de Júlio Prestes.
Em alguns espaços estão sendo realizados trabalhos de demolição de estruturas. Os locais que não são originais são removidos, mas os ambientes da época de construção tem um cuidado especial.
Uma das medidas de cautela é a remoção dos tijolos de forma individual. Muitos deles são originais e precisam ser mantidos preservados. Cada bloco é guardado e deverá ser reutilizado posteriormente na obra.
Em muitos ambientes da estação é possível ver andaimes e muitos trabalhadores em ação. Em alguns destes locais é realizado o chamado teste de percussão.
Nesse teste, os funcionários utilizam um pequeno martelo para verificar o som das paredes. Se o som for correspondente a um espaço oco significa que a estrutura da fachada possui problemas estruturais. Neste caso ela é removida.
Essa remoção possibilita a restauração das fachadas e a realização das atividades estéticas com mais segurança. Esta é uma medida que visa a segurança do patrimônio e sua durabilidade.
Estrutura metálica
As estruturas metálicas, no caso da Estação Júlio Prestes, são notadamente uma dos conjuntos mais chamativos e colossais da estação.
Os grandes arcos que sustentam o teto da gare, assim como a maioria das estruturas em metal, costumam sofrer com desgastes provocados pela corrosão. Apesar deste sinal de alerta, a estrutura se mostrou muito resistente ao longo dos anos.
Para sanar estes problemas e prolongar a vida útil da estrutura é realizado um tratamento sobre a estrutura em pontos específicos. Após a adoção da camada protetora é feito o processo de restauro estético.
O mesmo se aplica nas estruturas das grandes janelas que têm seus mecanismos revisados e restaurados.
Vidros
Um ponto bastante importante da estação são os vidros. São eles que, em boa parte do ambiente, conferem a entrada de iluminação natural.
Durante o processo de restauro, os vidros quebrados são substituídos por outros com nível de translucidez semelhante.
Uma característica interessante dos vidros originais da estação é a rede de arames dentro da estrutura vítrea. Essa configuração permite maior segurança e resistência ao material.
Jardins
A parte externa da Estação Júlio Prestes também deverá passar por restauro. Neste sentido destaca-se principalmente o cuidado que será realizado nos jardins.
Parte dessas áreas deverá ser disponibilizada aos passageiros. No local existem algumas árvores exóticas, tornando o ambiente em geral mais agradável.
Nestes espaços é possível observar as antigas coberturas externas que foram temporariamente destelhadas para o avanço das obras de alvenaria no teto da estação. Ao final, todo o conjunto externo estará harmonizado ao conjunto interno.
Passarela
A passarela da Estação Júlio Prestes deverá ser removida. Apesar de estar há muitos anos dentro da parada histórica, ela não é uma estrutura original.
No ano de 1979, a FEPASA, antiga operadora da atual Linha 8-Diamante, implantou a passarela com 50 metros de comprimento como forma de permitir uma melhor distribuição dos passageiros pelas plataformas.
Na época esta era uma necessidade, tendo em vista o grande fluxo de passageiros na estação que era uma centralidade muito ativa. Atualmente, a estação tem um fluxo baixo de passageiros, o que elimina a necessidade da estrutura.
Itens históricos
Alguns itens históricos estão passando por processo de restauro, como por exemplo o relógio da Estrada de Ferro Sorocabana que estava dentro da gare. Ele deverá ser consertado por um especialista e retornar ao seu local de origem.
Outro achado é uma estrutura de rede aérea em uma das antigas vias da Linha 8-Diamante localizadas na parte externa da estação. Estas vias faziam parte do conjunto original do trecho que se ligava a antiga estação São Paulo, anterior a Júlio Prestes.
Outro achado interessante é uma placa, possivelmente em bronze, do período do ex-governador Paulo Maluf. Na época a empresa operadora era a Fepasa.
Apesar de ser uma achado de menor ordem, ainda havia resquícios de papeis da antiga operadora estatal. Um aviso em papel encontrado em uma das salas mostra uma mensagem aos operadores de “TU” (Trem Unidade).
Adequações para a nova realidade
Um dos grandes desafios do projeto, sem dúvida, é realizar a adequação da estação para a realidade atual. O projeto de acessibilidade, elétrica, hidráulica e drenagem são considerados importantes.
Uma das principais mudanças é a racionalização do espaço e acomodação das estruturas em pontos que geram pouca interferência do patrimônio. Isso permite que uma estação histórica mantenha sua plena funcionalidade nos tempos modernos.
Conclusão
As obras de restauro da Estação Júlio Prestes, que deverão ser entregues no começo de 2026, envolvem uma pesquisa profunda sobre os aspectos originais da estação, métodos de restauração e um trabalho bastante cauteloso de adaptação de um ambiente histórico para a realidade de nossos tempos.
O site realizou também uma entrevista com a analista de engenharia, Amanda Pierrini, e também com Giba Farias, arquiteto e fiscal da obra, mostrando os detalhes deste restauro.
É por causa de matérias assim que acesso este site TODOS OS DIAS.
Parabéns.
Essa reportagem foi completa sobre a restauração de Júlio Prestes, a primeira vez em que eu entrei naquela estação foi em 1991 ainda sob gestão da Fepasa, 4 anos depois que eu andei na Linha 08, na época Linha Oeste em 1987, entre Lapa e Osasco! Espero que após a restauração melhorem a segurança e vigilância externa na Alameda Cleaveland para evitar pichações nas paredes, tem que ser algo permanente e 24 horas por dia!
A estação é um patrimônio histórico importante e merece mesmo essa restauração!
EU AMO MATÉRIAS ASSIM, MEUS DEUSES <3
Por isso acesso o site TODO SANTO DIA, também! <3
Parabéns pela matéria, muito boa, detalhada e com imagens que explicam e relatam bem esta reforma!
Agora fica uma dúvida minha, houve um rumor que a Estação Júlio Prestes será desativada. Se isto acontecer mesmo, qual é o motivo de realizarem tantas obras de reforma, gastarem tanto principalmente na área interna, nas plataformas, se o seu futuro é ficar fechada igual estações atualmente desativadas, como as de Sorocaba, Campinas, Santos?
Parabéns pela matéria!
Fico muito feliz que a estação esteja, enfim, recebendo seu devido valor. E tomara que aquela ideia imbecil de desativar a estação tenha sido esquecida por todo o sempre.
No mais, ainda espero que a estação seja melhor aproveitada, túneis ligando a Estação Júlio Prestes à Luz (tanto as Linhas da CPTM como as do Metrô) seriam ideais. Sim, sei que seria algo bem dispendioso, mas melhoraria e muito o fluxo de passageiros na região central.
Excelente restauração!!!
Excelente matéria!!!
Mais uma boa razão para se manter a Júlio Prestes plenamente operante. A sua localização é excelente e estratégica. Basta apenas boa vontade e bom planejamento para torná-la mais acessível do que é hoje.
Duas sugestões conjuntas:
– Um túnel de acesso interligando a rua Ribeiro de Lima (em pleno Bom Retiro) diretamente com a estação Julio Prestes.
– Uma curta linha interna de trem-leve, na franja sul da faixa ferroviária ex-RFFSA, interligado a lateral da gare Júlio Prestes com os baixos do viaduto Gen de Couto Magalhães, na ponta oeste da estação da Luz. O trem-leve seria acessível já dentro das áreas pagas das estações, e teria um padrão técnico semelhante ao dos trens leves que funcionam dentro dos grandes aeroportos no mundo inteiro (interligando internamente os vários terminais e setores).
Com essa interligação ágil e eficiente, as estações Luz e Júlio Prestes operariam de forma unificada, como uma só grande estação.